Manas (2024), filme de estreia da cineasta Marianna Brennand em longas de ficção, transformou em consagração os elogios recebidos depois de sua estreia mundial no 81º Festival de Veneza. Na manhã desta sexta-feira, 06, o filme conquistou o GDA Director’s Award, principal prêmio da mostra Giornate Degli Autori, cujo objetivo é destacar obras autorais e cineastas emergentes com visão inovadora.
“Estou transbordando de felicidade e emoção. Esse prêmio é importante para mim como diretora, para toda a equipe brilhante que fez esse filme, para todas as “manas” do Pará, do Brasil e do Mundo. E é um prêmio que recebo em nome do nosso cinema brasileiro, ele representa nossa força, nossa verdade, nossa ousadia e coragem em resistir assim como nossa protagonista resiste e reage bravamente”, disse a cineasta logo depois de receber a notícia da premiação.
“Acabei de assistir à deliberação do júri e a conexão deles com o filme, a maneira emocionada com que falaram do Manas, como reconheceram a importância cinematográfica do filme, a delicadeza com que essa história tão difícil é contada, de uma maneira respeitosa, verdadeira, usando a potência do cinema para colocar o espectador dentro da alma e do coração da Marcielle enquanto ela vive as maiores violências que uma mulher pode passar”, continua Marianna
“Mais ainda, reconheceram a importância de uma história que precisa ser contada, dividida, porque ela é brasileira, mas universal. É possível tocar as pessoas com delicadeza, sem trazer mais violência para quebrar ciclos e padrões. Foi preciso ter coragem para fazer esse filme e espero que Manas possa lançar luz e encorajar mulheres a quebrarem silêncios e o tabu perpetuado por anos sobre todas mulheres do mundo. Axé Manas!”, completa a diretora.
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O CONCEITO DE MANAS
Manas conta a história de Marcielle, jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA) e começa a entender que o futuro não lhe reserva muitas opções. Encurralada pela resignação da mãe e movida pela idealização da figura da irmã que partiu, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade. E nisso começa uma jornada repleta de perigos e obstáculos.
De acordo com Marianna, ela se deparou com uma questão ética séria ao elaborar Manas. Caso ela fizesse um documentário, como não expor crianças e adolescentes tornadas vulneráveis pela violência? Ao optar pela ficção, ela disse que o maior desafio seria retratar uma dor não apenas física: “Busquei estabelecer uma espécie de mergulho sensorial que conectasse o espectador à experiência emocional da protagonista. Optei por fincar o filme – em todos os seus aspectos – em um hiper-naturalismo que se liga ao documental, abrindo mão de qualquer artifício que pudesse desviar da vivência dela e de seu inconsciente”.
O roteiro de Manas venceu Sam Spiegel International Film Lab e é assinado por Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides. O elenco é formado por Jamilli Correa, Fátima Macedo, Rômulo Braga, Dira Paes, Emilly Pantoja, Samira Eloá, Enzo Maia, Gabriel Rodrigues, Ingrid Trigueiro, Clébia Souza, Nena Inoue e Rodrigo Garcia.
MAIS BRASIL EM VENEZA
Vale destacar que, além de Manas, o Brasil tem outros filmes em cartaz no Festival de Veneza. Na mesma mostra Giornate degli Autori está a coprodução Brasil/Colômbia Alma do Deserto (2024), de Mônica Taboada-Tapia; na Mostra Orizontti está o curta-metragem Minha Mãe é uma Vaca (2024), de Moara Passoni; 40 Dias sem O Sol (2024), de João Carlos Furia, foi selecionado à mostra de realidade virtual; fora de competição foram apresentados A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos, e Apocalipse nos Trópicos (2024), de Petra Costa; e competindo pelo Leão de Ouro está Ainda Estou Aqui (2024), drama dirigido por Walter Salles.
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