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Sinopse

O agente Ethan Hunt está afastado do trabalho de campo para a IMF, trabalhando apenas como treinador de novos agentes. Ele agora leva uma vida tranquila com Julia, com quem pretende se casar e que nada sabe sobre sua verdadeira ocupação. Ethan é chamado de volta à ativa quando uma de suas pupilas, Lindsey, é capturada por Owen Davian, um negociante de armas sem escrúpulos.

Crítica

A excelência da televisão norte-americana está tão alta atualmente que, em muitos casos, os melhores produtos audiovisuais – principalmente nos gêneros de ação e suspense – são mais facilmente encontrados na telinha do que na sala escura de cinema. Qualquer pessoa que acompanhe regularmente algum seriado televisivo de sucesso sabe disso. E Tom Cruise também. Tanto que foi após assistir a alguns episódios em dvd da série Alias (2001-2006) que conseguiu resolver um dilema que há muito lhe incomodava: J.J. Abrams, criador do programa, seria o diretor de Missão: Impossível 3, terceiro episódio da franquia iniciada 10 anos antes.

Depois da desistência de David Fincher e das divergências artísticas que causaram a demissão de Joe Carnahan, Cruise estava à procura que alguém que comandasse a nova incursão do agente secreto Ethan Hunt na tela grande. Abrams, responsável também pelo fenômeno Lost (2004-2010), foi a escolha mais apropriada. Pena, infelizmente, que ao estrear no cinema ele não apresente nada de original e inédito. O que faz em Missão: Impossível 3 é apenas reciclar o que estava acostumado a fazer na televisão, porém em escala maior. Se antes Hong Kong era recriada nos fundos do estúdio em Los Angeles, agora vai diretamente a Xangai. Se uma explosão poderia ser feita totalmente por computação gráfica, por que não detonar literalmente com uma ponte construída especialmente para sua demolição cinematográfica? Afinal, o protagonista era o maior astro de Hollywood. Ou não?

Contentando-se em ser apenas diversão rápida e eficiente, Missão: Impossível 3 possuía um papel fundamental na carreira de Cruise. O ritmo é frenético, o ator está em alta forma, os coadjuvantes são bem de acordo com o esperado e a trama é facilmente compreensível. Mas era, após o incrível sucesso de Guerra dos Mundos (2005) – que levava também o ‘selo’ Steven Spielberg – o primeiro projeto solo do ator para reafirmar seu nome como sucesso de bilheteria. E se no final das contas o saldo foi positivo – quase US$ 400 milhões arrecadados nas bilheterias de todo o mundo – sob outro ponto de vista o resultado não mereceu grandes comemorações, afinal este é o filme de menor impacto junto ao público de toda a série.

Uma justificativa para isso pode ser a formação dos novos públicos, muito dependente da televisão, como apontado anteriormente. E os que acompanham seriados não devem ter encontrado nada de novo. MI3 nada mais é do que um episódio vitaminado do próprio Alias, por exemplo. Basta fazer um pequeno exercício e facilmente conseguiremos enxergar a agente Sidney Bristow (Jennifer Garner) vivendo exatamente as mesmas situações enfrentadas por Ethan Hunt. Opções como mostrar a família, sua intimidade, e aumentar gradualmente as dificuldades para conseguir o que deseja só reforçam esta impressão, com uma falsa densidade que impressiona, mas não o suficiente para distrair do próximo tiroteio.

Com um custo de US$ 150 milhões, MI3 apresenta todos os absurdos de costume do gênero, com cenas de ação alucinantes, reviravoltas que aumentam consideravelmente a tensão – mas não a ponto de deixar qualquer um na audiência duvidar da eficiência do herói – e a mesma eficiência técnica que já virou padrão em Hollywood. Philip Seymor Hoffman é o maior achado do elenco, pois ao compor um vilão irretocável demonstra ser o que mais se diverte em cena, realmente aproveitando cada minuto em cena para abusar dos exageros, sem se tornar caricato. Laurence Fishburne e Billy Crudup brincam bem com a dualidade do agente duplo e do chefe solícito ou irascível. E Ving Rhames, Jonathan Rhys Meyes e Maggie Q formam uma equipe eficiente e confiável. Michelle Monaghan possui uma química forte com Cruise, e Keri Russell, apesar da pequena participação, consegue deixar sua marca na tela e provocar saudade no espectador.

Tudo contribui para Missão: Impossível 3 ser o pacote perfeito. Manteve o nome de Tom Cruise em alta, cumpriu o que os fãs esperavam e não decepcionou ninguém. A não ser aqueles que estiverem atrás de profundidade, conflitos sérios e questões relevantes. O próprio Cruise chegou a afirmar, em entrevistas, que para ele foram mais difíceis as cenas com a noiva, no conforto do lar, do que as de ação. Ou seja, o momento aqui é de distração ligeira, facilmente digerível e, da mesma forma esquecível. Não trouxe nenhuma novidade, mas cumpriu a contento o que dele se esperava. E, em casos como esse, está mais do que bom. Afinal, trata-se de um produto de indústria, e não de – muita – relevância artística. E, como tal, espera-se que venda, tenha rotatividade alta e cause boa impressão no consumidor. Tendo isso claro em mente, a decepção será mínima.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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