Sra. Harris Vai a Paris
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Anthony Fabian
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Mrs. Harris Goes to Paris
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2022
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Reino Unido / Canadá / França / Hungria / Bélgica
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Lesley Manville é um talento por muitos subestimado, que ao longo de uma carreira de quase cinco décadas e mais de uma centena de créditos, teve poucos momentos de maior destaque – como a indicação ao Oscar, como coadjuvante, por Trama Fantasma (2017), ou a frutífera parceria com o cineasta Mike Leigh (os dois já trabalharam juntos em nada menos do que sete longas). Ex-esposa de Gary Oldman (os dois tiveram um filho juntos), ela tem agora, com mais de sessenta anos, uma das suas primeiras oportunidade como protagonista. Em Sra. Harris vai a Paris ela aparece exatamente como o título anuncia. Porém, no filme de Anthony Fabian (Mais de Mil Palavras, 2013), o que menos importa é o deslocamento da personagem, mas, sim, o que lá vai fazer e, principalmente, como será sua vida após essa passagem pela Cidade Luz. Eis, portanto, uma simpática história de transformação, contada à moda antiga, mas atenta ao que tem a dizer aos espectadores de hoje.
Em O Diabo Veste Prada (2006), a jornalista iniciante vivida por Anne Hathaway, logo no início da trama, faz pouco caso do universo da moda, tema da publicação onde conseguiu trabalho, a revista Runway. Ao ouvir seu muxoxo, a editora Miranda Priestly (uma hipnotizante Meryl Streep) lhe dá, esbanjando elegância, um discurso apropriado que resgata não apenas o valor inegável de uma indústria milionária, mas também o impacto e alcance de um simples traje ou de um corte diferenciado na sociedade e no modo de ser e agir de toda uma comunidade. É uma lição importante, que cabe perfeitamente aos anseios da Senhora Harris (Manville, à vontade com a atenção que, enfim, lhe é oferecida). Após a confirmação de sua viuvez, em meados dos anos 1950, ela, que trabalha como faxineira e cuidadora em diversas casas de estranhos, percebe ser mais do que urgente colocar a si mesma em primeiro lugar. E, para tanto, decide realizar seu maior sonho: adquirir um vestido original de ninguém menos do que Christian Dior.
Está se falando de uma época na qual a alta costura ainda engatinhava, agindo apenas em um círculo absurdamente restrito, sem o alcance e a entrada que hoje desfruta entre as massas. Portanto, a visita dessa senhora humilde e de modos simples em meio a um desfile de esnobes e esbanjadores causa, no mínimo estranheza. Nesse ponto, a trama, que é baseada no livro homônimo de Paul Gallico, faz uso de duas figuras para não apenas acentuar, mas também oferecer, traços fortes ao antagonismo que tal situação proporciona. De um lado está a secretária e braço direito do senhor Dior, a madame Colbert, interpretada com uma certa preguiça por Isabelle Huppert, que entre caras e bocas tem apenas um grande momento, já ao final, quando finalmente deixa essas máscaras de lado e revela aquela que tenta sem muito sucesso esconder, e a jovem modelo Natasha, um tipo genérico criado sem muita inspiração por Alba Baptista (Warrior Nun, 2020-2022). Essa é o retrato da melancolia que vende beleza e se deveria mostrar em busca de uma ocupação de maior conteúdo. No entanto, suas motivações são tão óbvias, que o casal que acaba formando com o único par disponível apenas reforça a previsibilidade do todo que a rodeia.
Inesperadamente colocada no meio de um duelo silencioso, a senhora Harris age tanto como a fada madrinha – se metendo na vida daqueles próximos, consertando o que acredita ser necessário e dando conselhos quando apropriado – como alguém perdido em busca de algo que possa lhe preencher. Porém, é muito com o que se distrair – a saída de Londres, a ida a Paris, a chegada em uma cidade estranha onde não conhece ninguém, a insegurança por adentrar em um mundo no qual não identifica as regras. Ela não se deixa demover por pouco, no entanto, e enquanto ajeita romances e organiza as vidas de outros, vai deixando o seu próprio vazio de lado. Esse, no entanto, não poderá ser ignorado por muito. E no instante em que a mala de volta for deixada de lado, a porta se fechar e a excitação dos últimos dias se desfizer, o que lhe restará? Um vestido que custa mais do que a própria casa onde vive? O que ele representa? Mais do que uma peça de tecido, está no significado que carrega, no sacrifício que exigiu, naquilo que cobrou e no (pouco) que oferece de retorno. Mais do que possuir, afinal, está na capacidade de abrir mão do que até pouco antes lhe parecia tão caro a verdadeira chave da mudança.
Desprovido de reviravoltas inesperadas e conduzido sem tropeços por um cineasta que sabe ter em seu time uma artilheira disposto a ganhar – Manville, tanto pela graça com quem conduz o drama de sua personagem, como pela segurança que exibe em cada mudança de ideia, é um acerto, por mais que não esteja acostumada aos holofotes que aqui, merecidamente, lhes são destinados – Sra. Harris vai a Paris é cativante no seu desenrolar e dono de uma insuspeita profundidade, tal qual a mensagem no início desse texto descrita, que aponta justamente para o quão essencial pode ser uma atividade marcada pela frivolidade e pelo supérfluo, mas que, pelas exceções que tanto valoriza, compreende uma força inesperada junto ao muito que abraça em tantas outras áreas. Por mais que na sua conclusão soe como um quebra-cabeça cujas peças se veem obrigatoriamente impostas a um alinhamento nem sempre harmônico (Jason Isaacs deve ter aceito esse trabalho por uma dívida de amizade), tem-se um filme acessível, leve quando necessário, e relevante quando menos se espera. Um combo raro, mas de grande valia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Alex Gonçalves | 7 |
MÉDIA | 6.5 |
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