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Sinopse

Andrea Sachs é uma jovem jornalista que consegue um emprego na Runaway Magazine, a mais importante revista de moda de Nova York. Ela passa a trabalhar como assistente de Miranda Priestly, principal executiva da publicação. Apesar da chance que muitos sonhariam em conseguir, logo a garota percebe que trabalhar com Miranda não é tão simples assim.

Crítica

Baseado no romance homônimo de Lauren Weisberger e com roteiro de Aline McKenna (Compramos um Zoológico, 2011), O Diabo Veste Prada foi uma das grandes surpresas de 2006, cinematograficamente falando. Isto porque não passa de uma comédia tradicional, porém com toques de romance e humor negro e que consegue se sobressair da mediocridade que assola o gênero em Hollywood com inteligência e, principalmente, talento. Méritos estes que são facilmente perceptíveis durante o desenrolar da história e, acima de tudo, ao se observar os desempenhos contagiantes de suas protagonistas.

O enredo em si é simples, e se posiciona dentro de um esquema comum: a aprendiz que precisa descobrir como vencer na vida seguindo o caminho tortuoso proposto pela mestre. No caso, estamos falando de Andrea Sachs, uma jornalista em início de carreira que consegue por acaso, apenas respondendo a um anúncio no jornal, um emprego como assistente da principal editora da mais importante e influente revista de moda do mundo. Andy (Anne Hathaway), a garota, vai dedicar um ano de sua vida a atender as exigências estapafúrdias e tentar cumprir as tarefas impossíveis da poderosa Miranda Priestly (Meryl Streep, num desempenho que lhe valeu sua 14° indicação ao Oscar). O início do filme, que se concentra mais na inadequação da novata no fabuloso mundo fashion, em suas trapalhadas devido à inexperiência e no caráter maquiavélico da chefe, garantem a simpatia do espectador quase que de imediato. Mas é na metade final, quando os personagens deixam de ser meros tipos para adquirirem contornos humanos, com a trama adquirindo um propósito e um objetivo coerente, que tudo se completa. O Diabo Veste Prada tem charme, brilho e crueldade, mas também faz pensar e vai além da superfície cômoda.

Com direção segura de David Frankel e figurinos deslumbrantes de Patrícia Field (também indicada ao Oscar), ambos egressos da série de tv Sex and the City (1998-2004), é quase impossível não associar este filme ao mesmo ambiente glamoroso do seriado. Mas se na telinha o assunto eram os casos amorosos de quatro amigas solteironas, aqui se trata de questões distintas, como sucesso pessoal e ética no ambiente de trabalho. O mundo pintado na tela grande tem cores fortes e um encanto quase impossível de resistir. Por outro lado, vê-se também o que há por trás, os sacrifícios impostos a quem decide se aventurar nesta selva profissional e o jogo de ganha-perde a que todos estão sujeitos diariamente neste universo. O diabo até pode vestir Prada diante dos olhos dos outros, mas o desnudamento íntimo não passará em branco.

Mas isso seria por nada não fossem as atrizes escolhidas para defender os dois lados da batalha. E elas estão acima de qualquer suspeita. Se Hathaway surpreende com um empenho louvável, distante de tudo já demonstrado por ela antes e segurando com louvor o interesse durante a maior parte do filme, o show é mesmo da veterana Streep. Dona de atuações memoráveis e bastante diversificadas, ela se transforma completamente, mostrando mais uma vez sua aptidão para a comédia, porém não de forma escrachada (como no divertido A Morte Lhe Cai Bem, 1992), mas de uma maneira mais sutil, e por isso mesmo, hipnotizante. Meryl compõe uma vilã de primeira linha, elegante como poucas, que age sob diretrizes mais do que compreensíveis. Não há como não entendê-la, mesmo sendo impossível não reprová-la. As duas em cena possuem uma química brilhante, e só pelos embates entre elas o filme já se justificaria. Porém, ao ser apresentado em um contexto pertinente, o conjunto se torna ainda mais atraente.

Impressionante sucesso de bilheteria (faturou mais de US$ 120 milhões de dólares nos EUA, se saindo melhor, comparativamente, do que sucessos como Superman: O Retorno e Missão Impossível 3, ambos lançados no mesmo ano) e bastante elogiado pela crítica, O Diabo Veste Prada consegue transcender a aura de “filme feminino” para se tornar uma história direcionada aos mais variados públicos. Envolvente, mágico e ao mesmo tempo impiedoso, ganha relevância por se tratar de um enredo muito próximo da realidade. Afinal, Weisberger começou sua vida profissional como assistente de Anna Wintour, a toda-poderosa editora da revista Vogue, conhecida internacionalmente pelo modo áspero e voraz de lidar com os negócios e com a moda. Seria, portanto, um caso de ‘arte imitando a vida’. Imaginar o que vemos nessa obra de ficção acontecendo de verdade é delicioso, além de termos a oportunidade de conferir a mensagem sendo aplicada na prática. O que oferece uma percepção singular do discurso praticado, senão completamente inédito, mas apresentado de forma extremamente competente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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