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Sinopse

A vida do pirata Jack Sparrow, vira de cabeça para baixo depois que o astuto Capitão Barbosa rouba seu navio, o Pérola Negra, e mais tarde ataca a cidade de Porto Royal, raptando Elizabeth, a linda filha do governador. Para resgatá-la e recuperar o Pérola Negra, Willl Turner junta forças com Jack. O que o Will não sabia é que uma antiga maldição condenou Barbosa e sua tripulação a viverem como morto-vivos.

Crítica

Volta e meia surgem projetos que chegam sem muitas expectativas, e que – talvez justamente por isso – conquistam a atenção do público e da crítica. São projetos que tinham tudo para dar errado e, contrariando todas as expectativas, resultam em imensos sucessos. Aventuras com piratas era uma temática praticamente morta em Hollywood, ainda mais após Piratas (1986), dirigido por Roman Polanski com um orçamento de US$ 40 milhões – e um faturamento 40 vezes menor! Foi preciso que se passasse mais de uma década para o assunto voltar à roda, e ancorado por dois pilares praticamente inabaláveis: os Estúdios Disney bancando a brincadeira e o produtor Jerry Bruckheimer garantindo o investimento. Como resultado tivemos Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, uma legítima aventura de capa e espada em alto mar, com muitos duelos de vida ou morte, bom humor e, acima de tudo, um ritmo alucinante. Perfeito para as platéias adolescentes, mas carente de uma “substância” que justifique tamanho estardalhaço ao seu redor.

É difícil precisar como um fenômeno como esse pode ter acontecido – afinal, temos um longa que custou US$ 140 milhões, arrecadou em todo o mundo quatro vezes mais e ainda arrebatou cinco indicações ao Oscar, entre elas a de Melhor Ator para o protagonista Johnny Depp! Afinal, com exceção de Bruckheimer, todos os envolvidos tinham tudo para justificar um grande fracasso: Depp nunca havia protagonizado uma super produção (seu filme de maior bilheteria até então havia sido o mediano A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, 1999), o diretor Gore Verbinski possuía apenas um único sucesso no currículo (O Chamado, 2002), o galã era praticamente um desconhecido (Orlando Bloom), assim como a mocinha (Kiera Knightley, que conheceu aqui a fama pela primeira vez).

Por outro lado, todos os efeitos especiais ficaram à cargo da Industrial Light & Magic, responsável por grandes feitos no passado, mas que andava meio em baixa após ser derrotada pelo avanço dos concorrentes apresentados em produções como o próprio O Senhor dos Anéis e Matrix (1999). Isso sem falar que Piratas do Caribe tem como inspiração para o seu roteiro um dos parques de diversão da Disney World – todas as produções anteriores que partiram desse ponto amargam o infinito esquecimento, como a comédia sobrenatural Mansão Mal-Assombrada (2003), com Eddie Murphy, lançado no mesmo ano e decepcionante em todos os sentidos. Sem mencionar o retumbante naufrágio dos últimos a se aventurarem nesse subgênero, como A Ilha da Garganta Cortada (1995) e a animação Sinbad: A Lenda dos Sete Mares (2003).

Curiosamente, entretanto, tudo isso parece – ao contrário do que se poderia imaginar – ter funcionado a favor de Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra. Com uma estréia avassaladora, arrecadando mais de US$ 50 milhões de dólares no seu primeiro final de semana nos EUA, o filme terminou o ano de 2003 como o terceiro maior faturamento da temporada, ficando atrás apenas de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e de Procurando Nemo. Mas a grande questão é: há subsídios suficientes na tela para um resultado tão impressionante? Infelizmente, e é preciso ser honesto numa hora como essa, a única resposta para essa questão é um óbvio “não”.

Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra tem seus bons momentos, é encadeado por uma série de acontecimentos convincentes, o argumento é bem adequado – uma tripulação de piratas é amaldiçoada após roubar um tesouro perdido, ficando condenada à imortalidade até que todas as preciosidades sejam devolvidas ao seu local de origem – e os atores estão bem colocados, em especial o esquisito capitão criado por Depp, certamente uma figura única em todos os oceanos cinematográficos. Mas a falta de tato do diretor, que repete seqüências ao exagero e se perde por subtramas desnecessárias termina por cansar o espectador, até o momento em que este irá pedir água. E, numa aventura inconseqüente de férias, essa é a pior das conseqüências. Talvez não para aqueles que ignorarem a lógica ou que desprezarem as obviedades do roteiro, já que no fundo esta é apenas mais uma desculpa para vender muita pipoca e refrigerante – missão que, com uma duração de quase duas horas e meia, ele cumpre muito bem.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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