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Sinopse

Rachel decide investigar a misteriosa morte de sua sobrinha. A jornalista percebe a ligação do evento com a existência de um estranho vídeo. Depois de sete dias, quem assisti-lo inevitavelmente acaba perecendo.

Crítica

Talvez a mais bem sucedida das refilmagens norte-americanas de longas de horror japoneses, O Chamado é também marcante para as carreiras do diretor Gore Verbinski, que devido a esse sucesso ganhou carta branca para desenvolver a trilogia inicial Piratas do Caribe (2003-2006-2007), e da atriz Naomi Watts, em seu primeiro trabalho após o aclamado Cidade dos Sonhos (2001), e cujo bom desempenho aqui lhe abriu a possibilidade de ser indicada ao Oscar no ano seguinte, por 21 Gramas (2003). A recepção positiva, no entanto, abriu as portas de Hollywood para uma leva de remakes de terror orientais, todos com resultados bem inferiores, independente se tinham como fonte de origem Hong Kong (O Olho do Mal, 2008), Coréia do Sul (Espelhos do Medo, 2008), Tailândia (Imagens do Além, 2008) ou o próprio Japão (O Grito, 2004). Ou seja, temos aqui tanto um acerto quanto algo a se lamentar.

Como já dito inicialmente, a direção elegante de Verbinski e a condução segura de Watts como protagonista oferecem a O Chamado um diferencial – algo que nem mesmo suas continuações (O Chamado 2, 2005, e O Chamado 3, 2017), conseguiram manter. A ele coube um desenvolvimento detalhado de uma história sobrenatural com toques detetivescos e uma reviravolta final que caiu no gosto do público, todos pegos de surpresa por uma maldição que estava apenas começando – garantindo, portanto, suas sequências. Já ela ficou responsável por introduzir uma figura feminina que não apenas emite gritos de socorro a cada susto. Pelo contrário, ela não só é responsável por seus atos como também por aqueles a quem acaba afetando no desenrolar de suas ações. É uma mulher madura, confiante e que não tem medo de assombrações em seu caminho.

Outro ponto positivo do filme que ganhou imensa repercussão foi a figura de Samara, a menina amaldiçoada que é responsável por uma onda de mortes – e da qual os protagonistas tentam evitar. A menininha cabeluda e determinada em fazer com que paguem por todo o mal que ela sofreu em vida virou um ícone popular, não só sendo repetida de forma genérica em títulos similares posteriores, como também se rendendo a autoparódia – todo o medo que inspira neste capítulo inicial acaba sendo reduzido a um pastiche pouco inspirado no episódio seguinte. Samara foi abandonada pelos pais naturais, é adotada por um casal que não a compreende e deixada para morrer no fundo de um poço por exatamente uma semana. Passados estes sete dias, ela retorna, agora para se vingar.

Como isso acontece, no entanto, é o mais curioso: através de uma gravação obscura encontrada em uma fita VHS empoeirada. Quem a assiste, logo em seguida recebe uma ligação telefônica: do outro lado da linha, uma voz feminina infantil diz apenas “sete dias”. E a sorte está lançada. Após um prólogo bastante similar ao de Pânico (1996), em que uma garota inocente é condenada a morte, o enredo tem finalmente início com a jornalista Rachel (Watts) e seu filho, Aidan (David Dorfman). Ela assiste ao mesmo vídeo, o garoto logo em seguida, e nesse meio tempo que vê também é Noah (Martin Henderson), ex-namorado dela e pai do menino. Ela logo passa a investigar as origens de cada uma daquelas imagens, apenas para se deparar com uma verdade ainda mais assustadora: não basta reconhecer o mal, é preciso reproduzi-lo e passá-lo adiante.

A despeito da fotografia repleta de tons de cinza, de imagens marcantes a ponto de recriar o vídeo maldito no próprio longa, e de um jogo de desencontros propostos pelo roteiro entre o que é sobrenatural ou apenas impressão, o mais interessante deste O Chamado acaba sendo, em uma análise mais apurada, as questões familiares que são levantadas. Samara queria apenas ser amada, e ninguém ao seu redor se dispõem a esse esforço. Sim, pois é preciso dedicação e entrega para cuidar de uma criança, bem como aprendemos na complicada relação entre Aidan e seus pais, Rachel (a quem ele se recusa chamar de “mãe”) e Noah (cuja identidade nem chega a ser assumida). É um paralelo interessante, que talvez merecesse um olhar mais aprofundado, mas que ainda assim, no formato como é entregue ao público, consegue ir além do mero clichê, elevando o grau de aceitação de um longa que se salva da mediocridade mais graças aos seus detalhes do que pelo todo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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