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Sinopse

Gary é um homem que consegue se casar com a mulher de seus sonhos. Ainda por cima, ele tem a sorte de se tornar padrasto de um adorável menino de seis anos. O problema é que Gary descobre que o filho de Samantha pode ser o anticristo.

Crítica

Muito já se discutiu sobre quais seriam os caminhos tomados pela plataforma de streaming Netflix como produtora de material original, ainda mais depois Beast of no Nation (2015), de Cary Fukunaga, concorrer ao Oscar e Okja (2017), do ótimo sul-coreano Bong Joon Ho, causar discussão no Festival de Cannes. No entanto, inovação e criatividade não parecem ser os objetivos principais, o que pode ser comprovado com Pequeno Demônio, um dos seus últimos lançamentos. Já de entrada, é possível que muitos espectadores fiquem com os dois pés atrás por conta da trama cômica baseada no clássico de terror A Profecia (1976).

Os amantes das trevas nas telonas só não têm motivos para ficar mais raivosos, pois a única coisa do original presente no filme dirigido por Eli Craig são os três personagens centrais. O corretor de imóveis Gary (o fraco Adam Scott) se casa com Samantha (Evangeline Lilly) e inicia a complexa tarefa de se aproximar do filho dela, Lucas (Owen Atlas), que tem um visual descaradamente inspirado no personagem Damien. Essa é a primeira das muitas referências cinematográficas de Pequeno Demônio. Virão na sequência as gêmeas de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, e a TV fora do ar de Poltergeist (1982), de Tobe Hooper. Essas pequenas homenagens a grandes exemplares do terror teriam o seu charme caso o roteiro que as envolve fosse bem resolvido. Se no início até é possível dar algumas risadas com o que Lucas apronta com seu padrasto, mostrado em cenas com um leve humor negro, logo a história descamba para um drama familiar bobo e clichê.

Diferentemente do terrir produzido por Ivan Cardoso ou mesmo da paródia da franquia iniciada em Todo Mundo em Pânico (2000), Pequeno Demônio não quer ser uma comédia escrachada. No entanto, tampouco faz força para garantir sustos de qualidade. Sua parte final, aliás, parece reforçar o clima de propaganda enganosa, em especial para quem esperava uma reviravolta surreal. Ver a atmosfera sombria se dissipar com uma simples ida de Gary e Lucas a um parque aquático, com direito a palavra “Amor” escrita no céu por um avião é desolador e bizarro, no pior sentido desta palavra. Um passe de mágica e o garotinho endiabrado perde parte da malvadeza e, pasmem, pede ajuda ao padrasto para se livrar do domínio do capeta.

A direção de arte é mais do mesmo, inclusive nas referências aos clássicos, realizadas sem o mínimo cuidado. Evangeline Lilly, que não é nenhum primor atuando, parece desconfortável num papel de mãe e esposa perfeita saída de alguma revista da década de 50, só que com figurino sexy. Da trilha sonora, só se salvam uma canção de Otis Redding e outra da banda Rush, executada durante uma das cenas em que o riso é de piedade e não de diversão. Misturar terror e comédia é algo que ficou um pouco esquecido em Hollywood na última década. E se Pequeno Demônio pretendia ser um revival, pode-se afirmar que virão tempos sombrios pela frente.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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