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Sinopse

A história da Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva de crianças de apenas dez anos de idade, e como esse acontecimento definiu, e alterou, o destino delas. Em 1940, a quantidade de órfãos e delinquentes juvenis chegou à proporções até então inéditas - mais de meio milhão de crianças perderam os pais e 120.000 passaram a cometer pequenos delitos para sobreviver durante o período.

Crítica

Encontrar documentários que tratem das feridas abertas nas almas de quem viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial é muito fácil. Um dos conflitos mais sangrentos e cruéis da História não deveria render assunto apenas a especialistas, pois diz respeito para além de uma contagem de corpos e, infelizmente, é algo que pode se repetir num mundo como o de hoje, cada vez mais intolerante com as diferenças e pouco interessado no diálogo para tomar decisões. A Guerra das Crianças, filme dirigido pela dupla Julien Johan e Michèle Durren, mostra o conflito global pelo olhar de quem estava longe das trincheiras, mas nem por isso distante de um campo de batalha.

Os depoimentos do longa foram retirados de diários e cartas escritos por quem viveu a infância e o início da adolescência entre 1939 e 1945, e abrange personagens com vivências diversas. Em comum, a fome, dor e a perda. Muito se questiona sobre as marcas deixadas nos soldados, mas pouco se fala acerca de quem continuou sobrevivendo nas cidades, ou do que restou de algumas delas. A imagem idealizada da maternidade vendida pela propaganda nazista, que mostrava a mulher como o centro da criação dos filhos e da organização da casa, parece ter ignorado que panelas e ferros de passar não diminuem a inteligência e o senso crítico.

Essas mulheres, relegadas à prisão de seus lares, batalharam para a geração que estava surgindo não ter como modelo os comandantes do conflito. O recuso de utilizar vozes infantis para recitar trechos escritos pelos hoje idosos que vivenciaram os horrores da deportação e dos campos de concentração pode parecer apelativo. Porém, há o cuidado dos diretores de não manter o foco na doçura das vozes, mas no conteúdo das falas. É nelas que se revelam crianças que tiveram de assumir uma postura não condizente com seus corpos frágeis. Meninos de 11 anos encarando a prisão como se fossem homens e meninas de 13 assumindo a responsabilidade pelo cuidado das irmãs mais novas, são as mudanças mais leves. Conforme uma das entrevistadas, as visões da morte a modificaram: ela envelheceu no instante em que a viu.

É essa a ideia de A Guerra das Crianças. Ao mesclar depoimentos, lembranças e algumas reconstituições no formato de animação, o documentário consegue dar forma a tantas vidas que foram privadas de brincadeiras e despreocupações por conta de uma guerra da qual elas sequer entendiam o motivo. Há um ritmo no filme que abre espaço para a emoção do espectador, mas a principal função fica clara desde o primeiro minuto. Estamos diante de um alerta à geração vindoura, bem como a quem conduzirá o seu aprendizado.

Os sobreviventes existem, mesmo que poucos. Mas não é por terem seguido em frente que possuem a obrigação de virar a página. É impossível esquecer uma guerra, esteja você de arma em punho, na mira de uma ou buscando comida entre escombros. Insistir no discurso para que isso não se repita pode ser doloroso, mas é a melhor saída a fim de que as crianças do futuro só se lembrem das guerras de botões e travesseiros.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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