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Sinopse

Teodora entra em depressão ao descobrir que seu marido mantinha um caso virtual/extraconjugal. Depois de perder seu emprego como apresentadora de um programa de culinária, ela embarca em uma jornada de autoconhecimento com amigos pelo Caminho de Santiago de Compostela.

Crítica

Bruna Lombardi pode ter virado uma atriz popular através da televisão, mas na última década sua verdadeira casa tem sido o cinema. E agora ela lança Onde Está a Felicidade?, o novo trabalho feito ao lado do marido Carlos Alberto Riccelli. Assim como no longa anterior, O Signo da Cidade, ela assume o papel de roteirista e protagonista, enquanto ele fica responsável pela direção. Só que se na primeira experiência juntos o tom era pesado através de um olhar dramático sobre relações humanas no limite, agora tudo mudou. O que eles querem é fazer rir, mesmo que nem sempre sejam felizes nesse objetivo.

Lombardi aparece em cena como Teodora, uma apresentadora de televisão em um programa de culinária erótica. Casada com Nando (Bruno Garcia), que também trabalha na tevê, porém num show de esportes. Há mais de dez anos juntos, a relação dos dois está morna, e prestes a esfriar quando ela encontra, no computador dele, um bate papo online com outra mulher. Possuída pelo ciúmes e insatisfeita com o trabalho, decide largar tudo e partir para a Espanha, ao lado do seu produtor e de uma nova amiga, para, juntos, percorrerem o Caminho de Santiago de Compostella. As intenções são plurais: ao mesmo tempo em que ela busca se reencontrar consigo mesma, a equipe quer, com o registro de tudo que passarem, realizar uma nova atração televisiva. Onde Está a Felicidade? possui diversos problemas, mas talvez o maior deles seja mesmo o elenco. Bruna, apesar de ainda ser uma mulher muito em forma e belíssima, não é a melhor opção para o papel. Afinal, ela já tem quase 60 anos, e não convence mais como a esposa em crise e insatisfeita com a vida. Entre ela e Bruno Garcia, por exemplo, não existe a menor química – eles têm 22 anos de diferença, ou seja, ele poderia ser filho dela! Ele, por sinal, faz o mesmíssimo papel visto recentemente em De Pernas Pro Ar: é o marido da protagonista, a trai e passa o resto do filme tentando reconquistá-la. Só que lá tínhamos Ingrid Guimarães com um tino fantástico para o comédia. Tudo o que Bruna não possui. Ela se encaixa perfeitamente em personagens mais trágicos e solenes, porém ainda tem muito o que percorrer para conseguir transmitir uma imagem mais leve e despreocupada, cuja única intenção é provocar graça e diversão.

Tudo é muito colorido e exuberante em Onde Está a Felicidade?, e se isso parece ser algo digno das obras de Pedro Almodóvar – afinal, 80% da história se passa na Espanha – é bom lembrar que as influências, segundo os realizadores, são as nossas raízes brasileiras, cheias de alegria e vigor. O que não se entende, portanto, é por que passar tanto tempo na Europa ao mesmo tempo em que se tem um espaço em cena tão curto para as belezas do Rio de Janeiro e para os cenários raros e exóticos do Piauí? No mais, as piadas parecem forçadas e repetitivas, e mesmo as reviravoltas da trama são bastante previsíveis. É difícil oferecermos um riso solto e despreocupado – o máximo que o filme consegue são alguns esboços de sorrisos, e mesmo assim um pouco constrangidos por tanto esforço resultar em tão pouco.

Mesmo assim, sem agradar os expectadores mais exigentes, Onde Está a Felicidade? parece ser uma opção mais indicada às grandes audiências, que devem perdoar essas falhas e se focar apenas nas belas paisagens e nas trapalhadas dos personagens. Comprovação disso foi o prêmio de Melhor Filme segundo o Júri Popular que o filme conquistou no recente Festival de Paulínia. Prova de que, se não agrada a alguns, ao menos não decepciona a todos também. Em resumo, é um trabalho esforçado, dono de alguns méritos, e que deverá satisfazer quem não exigir demais. Afinal, talvez a felicidade não esteja por aqui, mas o mesmo pode se dizer da tristeza. O segredo é manter as expectativas em baixa. Sem esperar demais, a frustração também será limitada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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