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Sinopse

Precisando de dinheiro para pagar pela faculdade, Brooks decide criar um aplicativo que permite contratar um namorado para todo tipo de situação. Porém, adotar uma personalidade e um par romântico diferente para cada dia a se mostra uma tarefa difícil e ele começa a se perguntar quem ele é de verdade e como encontrar o amor verdadeiro.

Crítica

Após uma série de longas feitos exclusivamente para a Netflix – ou seja, de consumo rápido e passageiro – Noah Centineo foi elevando ao posto de ‘namoradinho da América’. E é nessa posição confortável que ele se apresenta mais uma vez em O Date Perfeito, uma comédia romântica adolescente que nada mais é do que uma releitura aos moldes dos anos 2000 (ou 2010, ou quase 2020...) de alguns dos maiores sucessos que Patrick Dempsey costumava estrelar três ou quatro décadas atrás, como Namorada de Aluguel (1987) ou Loverboy: Garoto de Programa (1989), entre outros. Os dois – Centineo e Dempsey – são até parecidos, aliás. E se um acabou fazendo séries de televisão ou aparecendo como coadjuvante de luxo em aventuras de robôs gigantes ou de solteironas grávidas, se pode antecipar qual será o destino do mais jovem. Basta continuar repetindo os mesmos passos já gastos de tanto uso.

Brooks Rattigan (Centineo) é um rapaz como tantos outros: descolado, estuda de manhã e trabalha ao lado do melhor amigo em uma lanchonete, à tarde. À noite procura evitar muito contato com o pai (Matt Walsh, mal aproveitado), que já teve uma atividade de destaque, mas desde que foi abandonado pela esposa parece ter se resignado em uma insignificância calculada. Enquanto isso, faz planos para o futuro: qual faculdade irá estudar? E o mais importante: qual o levará para mais longe de onde agora está? Afinal, pode até não perceber, mas tudo o que faz é no sentido de evitar um futuro igual ao seu presente. A situação começa a mudar, no entanto, quando encontra num desabafo a oportunidade que tanto aguardava. Ela vem meio que ao acaso, mas está determinado a não deixá-la escapar.

Na visão do diretor Chris Nelson (Saindo do Armário, 2014), tudo é simples no mundo de Rattigan. Todos os clichês possíveis de serem associados a esse contexto se fazem presentes, mas nenhum com força suficiente para provocar algum tipo de efeito transformador. Reece (Zak Steiner) é o galã implicante, mas não demora a emprestar seu carro importado para o colega pobretão se for para esse levar sua prima a um baile da escola – livrando-o da obrigação, portanto. Celia (Laura Marano, de Lady Bird: A Hora de Voar, 2017) teria tudo para ser o patinho feio que se transforma em cisne, mas se vira melhor até que o protagonista – é ela, afinal, que tem a ideia do ‘namorado de aluguel’. Executada com a ajuda de Murph (Odiseas Georgiadis) – o melhor amigo que mata três estereótipos de uma só vez: é gay, é negro e é nerd – a sugestão se transforma em um app, e logo o garoto estará sendo chamado para os mais diversos tipos de compromissos.

Mas veja bem, estamos às vésperas de 2020, uma época muito mais conservadora e retrógrada que os 1980. E se Dempsey era confundido com prostituto e cada nova cliente era uma conquista, Centineo esclarece logo que seus motivos são nobres – está juntando dinheiro para a universidade – e que se trata de um rapaz bastante comportado: tudo o que faz é acompanhar meninas desajeitadas em situações que não conseguem escapar, como aniversários familiares, encontros de amigos ou casamentos de última hora. Se por um lado a paixonite que sente pela esnobe Shelby Pace (Camila Mendes, de Riverdale, 2017-2019) tem data para acabar, o mesmo pode ser dito a respeito do flerte que surge entre Celia e o pretensioso Franklin (Blaine Kern III, de A Morte te Dá Parabéns, 2017). E não precisa ser nenhum Sherlock para adivinhar como tudo irá acabar.

Os roteiristas Steve Bloom (Garota Sinal Verde, 1985) e Randall Green (Billions, 2018-), evidentemente, já tiveram dias melhores. Tanto é que em nenhum momento escondem o fato de que O Date Perfeito é exatamente o que entrega, um veículo feito sob medida para o estrelato de um rapaz em vias de se tornar um astro. Exigir mais do que isso, no entanto, seria pedir demais. Por outro lado, é preciso reconhecer que o garoto tem carisma, aquele elemento que diferencia as estrelas dos demais. Nem bonito demais, longe de ter um corpo escultural e sem grandes talentos dramáticos, consegue driblar tudo isso com um sorriso cativante e uma postura maleável, como se tivesse sempre um segredo prestes a ser revelado, e por isso mesmo aproveita para brincar com o suspense. Por ele, e nada mais, se chega até o fim deste filme sem maiores percalços. Mas assim como uma brisa inesperada, não deve durar nem até a próxima estação. Bonitinho, mas ordinário.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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