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Sinopse

Em pleno campo de batalha, dois soldados norte-americanos descobrem que estão na mira de um atirador iraquiano. Eles não sabem onde o inimigo se esconde, nem podem se comunicar um com o outro, já que seus telefones estão grampeados. Escondidos atrás de uma pequena parede de pedra, eles têm que encontrar uma maneira de sobreviver.

Crítica

Do início elogiado na cena independente norte-americana da década de 90, com longas como Swingers: Curtindo a Noite (1996) e Vamos Nessa (1999), à bem-sucedida transição para os blockbustersA Identidade Bourne (2002), Sr. & Sra. Smith (2005) – e passando até pelo reconhecimento do circuito dos festivais, com Jogo de Poder (2010) concorrendo à Palma de Ouro em Cannes, o diretor Doug Liman construiu uma carreira diversificada e, exceção feita a alguns deslizes, como Jumper (2008), de saldo bastante positivo. Em Na Mira do Atirador, seu mais recente trabalho, ele realiza uma mescla dessas vertentes, mantendo o apreço pelo cinema de ação/suspense, mas reduzindo a escala da produção ao extremo, chegando a atingir um nível quase teatral - especialmente na comparação direta com seu antecessor, o ótimo No Limite do Amanhã (2014).

A trama se passa em 2007, no Iraque, e acompanha dois oficiais norte-americanos, os sargentos Matthews (John Cena) e Isaac (Aaron Taylor-Johnson), que permanecem no país mesmo com a guerra tendo sido oficialmente encerrada. Após horas observando à distância o cenário de uma chamada de socorro, em que se encontram oito mortos, e questionando se o ataque teria sido realizado por um grupo de civis ou por um atirador de elite, Matthews decide se dirigir ao local, sendo, logo na sequência, atingido por um tiro e permanecendo estendido no solo. Indo ao resgate do companheiro, Isaac também acaba alvejado, mas na perna, conseguindo se refugiar atrás dos escombros de um muro. Com seu rádio avariado, ele tenta se comunicar através de uma frequência local, interceptada pelo atirador, que inicia, então, um diálogo de provocações com o estadunidense.

A dinâmica estabelecida, do protagonista sob a mira do atirador com o qual estabelece contato, remete a longas como Por Um Fio (2002) e Toque de Mestre (2013), contudo, o contexto da guerra acaba imprimindo características particulares ao trabalho de Liman. Apesar do atirador (voz de Laith Nakli) demonstrar perícia sobre-humana, antevendo praticamente todos os acontecimentos, o fato de Isaac ser um soldado faz dele um adversário mais capacitado do que os “homens comuns” vividos por Colin Farrell e Elijah Wood, respectivamente, nos títulos citados, diminuindo o desnível do confronto. Há também um inevitável subtexto político envolvendo a ambientação histórica, no qual Liman, deliberadamente, não se aprofunda, deixando de lado discussões e reflexões mais complexas em favor da intensificação do potencial do material para o drama de sobrevivência.

Isso não significa que o cineasta ignore completamente tais questões, que povoam o embate verborrágico central, mas com o intuito de encorpar o jogo de terror psicológico instituído. A escolha de nunca revelar a figura do atirador, por exemplo, serve à potencialização da ameaça desconhecida, quase sobrenatural – o personagem é apelidado “Anjo da Morte” – mesmo correndo o risco de ser interpretada como uma vilanização generalizada dos iraquianos, sem lhes oferecer um rosto, uma identidade. Liman, contudo, se vale de precauções para não adentrar o terreno das simplificações, inserindo tópicos de contraponto, que questionam as ações norte-americanas: o fato de o atirador ser um produto do treinamento dos próprios EUA, a réplica do personagem à noção “ingênua” de Isaac sobre o caráter benéfico – trazendo progresso, infraestrutura – da exploração do petróleo, ou a revelação de tragédias do passado do iraquiano.

Apesar desses traços de humanidade, o atirador representa a figura clássica do inimigo frio e imbatível das fitas de ação, algo assumido por Liman. Com isso, o longa não escapa de momentos de exagero e soluções pouco plausíveis, seja na capacidade quase mediúnica do antagonista para se adiantar às atitudes de Isaac ou mesmo no seu interesse por detalhes da vida particular do alvo. Do outro lado do muro, o soldado ganha uma motivação, trauma que acarreta o sentimento de culpa, mas que Liman não transforma em trampolim para uma jornada de redenção. Na missão de carregar o longa sozinho durante a maior parte da projeção, Taylor-Johnson se mostra correto, externando a angústia, desorientação e sofrimento físico do personagem, enquanto Cena, em seus poucos minutos ativos, surge carismático, também cumprindo seu papel.

Todavia, a principal virtude de Na Mira do Atirador está na encenação de Liman. Com apurado senso espacial e um design de som preciso, o diretor extrai o máximo da ambientação limitada, valorizando elementos como a formação irregular do muro ou as rajadas de vento que geram cortinas de areia para elevar a tensão quando necessário. Essa atmosfera apreensiva torna a ação envolvente, acentuando as sensações que se busca transmitir – o calor, a sede, a dor (da cena em que Isaac retira a bala do joelho). O cineasta ainda se permite alguns toques simbólicos – o corvo que aparece após citação ao poema de Edgar Allan Poe – e cenas de impacto visual, como o plano-sequência que se aproxima lentamente quando Isaac revela seu segredo traumático. O final aberto, até mesmo inesperado, reforça a intenção de Liman de realizar um exercício de gênero sem compromisso com mensagens supostamente relevantes – por mais que a ambiguidade do desfecho possa ser lida como metáfora da natureza cíclica das guerras. Um objetivo que, embora não sendo exatamente ambicioso ou arrojado, o cineasta atinge com a eficiência de um sniper.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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