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Sinopse

Homem perde a memória e tem somente uma pista: microfilme implantado em sua pele, indicando número de uma conta milionária na Suíça. Aos poucos, descobre ser um agente secreto.

Crítica

Filmes de espionagem são quase uma categoria à parte no infinito universo cinematográfico. Celebrado por no mínimo 50 anos, desde a primeira aventura do mais famosos de todos os espiões, o agente secreto inglês James Bond (007 contra o Satânico Dr. No, 1962), muitas foram as variantes que surgiram aproveitando a febre que fundia num único personagem qualidades ímpares, como se fosse um super-herói em carne e osso, humano como qualquer um de nós. Ou seja, o cara é galã, charmoso, conquista todas que aparecem pela frente, derruba qualquer vilão na mesma proporção, entende dos mais diversos assuntos e ainda se dá bem com a mocinha no final, mesmo sem ter vindo de outro planeta ou ter sido picado por um inseto alterado geneticamente. Quem não gostaria de ser assim? Pois então, é apelando justamente para esses recursos e sentimentos que presenciamos mais um herói surgir em A Identidade Bourne.

Jason Bourne (Matt Damon), o principal envolvido nessa história, não sabe seu nome, quem é ou o que faz. No início da história é resgatado por um barco pesqueiro no meio do oceano. Em princípio dado como morto, logo apresenta sinais de vida. Ao se recuperar parte numa busca angustiante atrás de todas as questões que o atormentam. De imediato descobre que o querem morto e que para se manter vivo acaba usando um sem número de habilidades que desconhecia possuir. Ou seja, é exímio lutador, fala diversas línguas com fluência e consegue se safar de todas as perseguições com louvor. No entanto, não tem certeza do próprio nome. Ajudado por uma alemã (Franka Potente, de Corra Lola Corra, 1998) meio sem rumo na vida, vai até a França, onde começam a aparecer sinais de sua verdadeira identidade – essa, que apesar de ser o objetivo final da figura dramática, é esquecida desde o começo pelo próprio filme. E este é, paradoxalmente, seu maior charme e seu pior incômodo.

A Identidade Bourne é exatamente igual a milhares de outras produções do gênero. O que acrescenta, então? Estilo, boas interpretações e competência técnica. Em nenhum momento é pretensioso a ponto de se considerar um marco, algo único e intocável. Não, seu objetivo é apenas contar uma história interessante, divertida e bem acabada. Não se concentra somente no que os músculos podem oferecer, como em xXx (2002), e nem fica só na conversa, como visto em Jogo de Espiões (2001), apenas para ficar com dois exemplos lançados quase na mesma época. Há absurdos no roteiro? Sim, vários. O tal Bourne protagoniza situações totalmente inverossímeis? Com certeza. Mas o legal é que essa é a proposta: não esconder suas origens e ainda trabalhar com elas de um modo que as atualiza para novas plateias.

Matt Damon, como Bourne, não parecia ser uma escolha óbvia, mas se mostra melhor do que o esperado. Pela sua interpretação o personagem transcende o clichê e oferece nuances poucas vezes vistas em produções do gênero. Sem se aprofundar demais, suas motivações ficam muito claras ao espectador, que acredita no drama e passa a torcer junto por seu sucesso, mesmo sem saber ao certo o que ele, de fato, esconde. Outro bom crédito a esta produção é Franka Potente, que, além de ajudá-lo na fuga, será também seu interesse romântico (como eles arranjam tempo para isso?). Fugindo de uma beleza convencional, ela mostra que pode fazer muito mais do que apenas esperar que o mocinho a resgate.

A Identidade Bourne é a primeira grande produção do badalado cineasta Doug Liman, sensação no mundinho cinematográfico independente com Swingers (1996) e Vamos Nessa! (1999). Se aquela criatividade demonstrada nestes primeiros trabalhos não aparece aqui com tanta evidência, no mínimo fica claro que o original realizador ainda pode nos presentear com boas surpresas no futuro. Enfim, trata-se de mera diversão, mas de qualidade, que entretém o público sem desrespeitar seu cérebro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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