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Sinopse

Jogos Vorazes se passa depois da quase extinção da América do Norte, quando a população restante foi dividida em 13 distritos. Como num rito de passagem, todos os anos dois jovens representantes de cada distrito são sorteados para participar de um reality show no qual somente o vitorioso sai com vida. Com Jennifer Lawrence.

Crítica

É fácil não gostar de Jogos Vorazes. Essa opinião, no entanto, é mais influenciada por questões anteriores do que ao filme em si. Afinal, trata-se de uma história absurda e exageradamente violenta, que tem como foco um público que ainda não possui discernimento suficiente para entender o que é crítica e o que é mera diversão. É um longa perigoso, que mostra exemplos alarmantes e que pode influenciar de modo assustador mentes despreparadas. “Mas não era assim com Clube da Luta (1999)?”, alguém poderia se perguntar. Absolutamente não. Aliás, muito pelo contrário. No thriller de David Fincher e Brad Pitt, a sátira e o discurso eram direcionados a um espectador bastante específico. Era uma conversa de adultos. O oposto do que acontece aqui. E esse é o maior problema.

Jogos Vorazes foi apresentado como a nova aposta de saga multimilionária adolescente, substituindo o já encerrado Harry Potter e o prestes a acabar Crepúsculo. A semelhança entre eles é que todos tem como origem a literatura, série de livros que venderam extraordinariamente bem, com muitos fãs e admiradores. Mas assim também foram A Bússola de Ouro, As Crônicas de Nárnia, Desventuras em Série, Eragon e tantos outros que, por outro lado, resultaram em gigantescos fracassos. Ou seja, pelo que se percebe, é mais fácil se dar mal do que bem quando se aposta nesta fonte. Resta agora torcer para que o mesmo se repita mais uma vez.

A principal e mais evidente diferença entre estes citados e Jogos Vorazes está no fato de que os anteriores eram, em maior ou menor grau, obras de fantasia. Falava-se de seres mágicos, de poderes especiais e de seres extraordinários. Dessa vez, não. Temos como protagonistas jovens, entre crianças e adolescentes, todos num futuro bastante próximo, lutando em batalhas sangrentas até a morte. Neste cenário, os Estados Unidos não existem mais, e no seu lugar estão doze distritos. Para manter a ordem e evitar novas rebeliões, a cada ano são escolhidos dois representantes por distrito, um rapaz e uma moça. Os vinte e quatro selecionados devem participar de um reality show em que apenas um sairá vivo. A esse, todos os louros e glórias da vitória. Aos demais, a morte pelo fio da espada, da navalha, da ponta da flecha ou por qualquer outro método igualmente sanguinário.

Crianças riram e aplaudiram em cenas com jovens praticamente da mesma idade dos espectadores sendo assassinados à sangue frio, devorados vivos por vespas geneticamente modificadas ou esgoelados por seus oponentes. Tudo mostrado de forma bastante explícita na tela. É curioso perceber que esse filme tenha recebido classificação para maiores de 13 anos no Brasil, enquanto que o contemporâneo Projeto X (2012), por exemplo, que mostra uma turma de adolescentes se divertindo numa festa sem limites, tenha censura acima dos 18 anos. Esse é o nosso país: violência pode, sexo ou drogas não.

Dirigido por Gary Ross (que acertou em A Vida em Preto e Branco, 1998, mas errou feio em Seabiscuit: Alma de Herói, 2003), Jogos Vorazes faz parte de uma trilogia escrita por Suzanne Collins. Ela é também co-autora do roteiro, o que deixa claro sua extrema fidelidade com o livro. Os protagonistas são uma impressionante Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar por Inverno da Alma (2010), um competente Josh Hutcherson e o novato Liam Hemsworth. O elenco é completado por uma série de participações de prestígio, como Woody Harrelson, Stanley Tucci, Elizabeth Banks, Wes Bentley, Toby Jones, Donald Sutherland e até o roqueiro Lenny Kravitz.

Todos estão muito bem, cumprindo o que lhes é pedido, sem exageros ou afetações. Quem desempenha esse papel é o roteiro, redundante e por muitas vezes equivocado. O futuro aqui desenhado é pessimista, e explora com eficiência o potencial do ser humano para a idiotia (quer algo melhor do que os figurinos dos personagens? Achou absurdo? Dê uma olhada na última semana de moda e me diga se estamos tão longes assim...) e para a selvageria. Mas falta um cuidado maior em envolver os acontecimentos com quem os assiste. A identificação é fraca e frágil, o caos é exagerado e os horrores são muito fortes, sem atenuantes ou paliativos. Demora-se mais de uma hora para se chegar nos tais Jogos Vorazes do título, e quando eles começam o filme fica ainda mais chato. Não há surpresas, reviravoltas, inteligência. Há apenas raiva e uma revolta contida, silenciosa. Talvez nos próximos livros/filmes essa opinião crítica que a trama sustenta seja melhor direcionada e com mais efeito. Mas será que até lá ela será ouvida e analisada à contento?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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