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Sinopse

Depois de um incêndio praticamente destruir a mansão Baudelaire, três órfãos são obrigados a morar com o único parente deles que ainda está vivo: o Conde Olaf, um homem cruel  que está apenas interessado na herança.

Crítica

Seguindo a tradição de adaptar obras literárias infantis de sucesso, que inclui representantes do calibre de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971 e 2005) e a saga Harry Potter, foi lançado no final de 2004 o esteticamente impressionante Desventuras em Série, filme que transpõe para a tela grande os três primeiros volumes (“Mau Começo”, “A Sala dos Répteis” e “O Lago dos Sanguessugas”) da saga dos irmãos órfãos Baudelaire, escrita por Daniel Handler sob o pseudônimo de Lemony Snicket. E a série, que já ultrapassa os 10 livros, a maioria publicada no Brasil, chega aos cinemas em grande estilo, com atores elogiados, um esmero visual acima da média e pretensões que foram cumpridas apenas em parte.

A trama conta a história de três irmãos – Violet, Klaus e Sunny – que logo no começo, devido a um incêndio, perdem seus pais. Infelizmente, o único parente próximo é o maluco Conde Olaf (Jim Carrey), um ator fracassado que deseja se livrar das crianças o quanto antes para, assim, colocar as mãos na fortuna que lhes couberam como herança. Os planos dele de eliminá-las não dão muito certo, e os sucessivos fracassos provocam mudanças nos rumos dos pequenos, que passam também para os cuidados de um tio distante (Billy Connolly) apaixonado por répteis e por uma tia lunática (Meryl Streep, em participação discreta) mais preocupada com corretores de imóveis e outras bizarrices do que com os sobrinhos.

O grande problema de Desventuras em Série é que, mesmo sendo bastante fiel ao texto literário, a mão fraca do diretor Brad Silberling (Cidade dos Anjos, 1998) não consegue impor limites ao histrionismo de Carrey, um ator talentoso, mas que necessita de rédeas fortes o controlando para não resvalar no exagero. O filme, então, acaba se transformando mais em um show particular dele e de suas caretas do que do enredo em si. A participação dos atores mirins, excelentes, termina sendo minimizada, assim como o tom sarcástico e irônico da narrativa vai se dissipando diante tantas piadas desencontradas.

Mesmo assim, Desventuras em Série é uma obra acima da média em vários quesitos. E isso se deve principalmente aos aspectos técnicos (foi indicado ao Oscar de Trilha Sonora, Direção de Arte e Figurino, e levou a estatueta de Melhor Maquiagem). Mas, se a embalagem é digna de méritos, o conteúdo fica devendo. Custa ao público “entrar” no espírito depressivo da narrativa, o desenrolar dos acontecimentos sofre com a mistura dos três livros, e atores fantásticos, como Streep e Timothy Spall, acabam por aparecer muito pouco tempo em cena, frustrando os mais curiosos. Como os resultados financeiros também não foram muito entusiasmantes (custou US$ 140 milhões e arrecadou nos Estados Unidos pouco mais de US$ 118 milhões), soterrou-se a possibilidade de uma continuação. Se esta acontecer num futuro distante, certamente será um trabalho independente, fruto do esforço de mãos mais dedicadas, que deverá privilegiar o espírito geral da ação e não um ou outro ego descontrolado do elenco. Assim, talvez, o resultado realmente contradiga os infortúnios tão evocados pela trama.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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