Crítica
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Sinopse
Laurie acredita que finalmente venceu o ameaçador Michael Myers. Porém, ela não contava com o retorno de seu grande inimigo. E com isso temos mais desdobramentos de uma luta que atravessa décadas.
Crítica
A expectativa era grande. E como costuma acontecer em casos assim, quanto mais se espera, maior a probabilidade de se decepcionar. Tal qual se sucede diante de Halloween Kills: O Terror Continua, segunda parte da anunciada trilogia que busca revigorar a saga Halloween, iniciada por John Carpenter em Halloween: A Noite do Terror (1978) e que por quatro décadas contou com a produção de nada menos do que outros nove longas até o lançamento de Halloween (2018) – o próximo, já anunciado, deverá se chamar Halloween Ends (2022). E se o grande marco da saga é o assassino Michael Myers – que, na mitologia hollywoodiana, chega a rivalizar com outras figuras icônicas da mesma linha, como Freddy Kruger (saga A Hora do Pesadelo) e Jason (saga Sexta-Feira 13) – a presença mais marcante do elenco, no entanto, é a diva do horror Jamie Lee Curtis (que participou de seis dos onze longas anteriores). Pois o desperdício em cena da atriz é somente um dos tantos problemas deste mais recente episódio.
Para se ter ideia, Lee Curtis – atriz premiada no Globo de Ouro, no Bafta, no Festival de Veneza e indicada ao SAG e ao Emmy, entre outros tantos reconhecimentos – foi anunciada com estardalhaço como o maior motivo para se conferir essa retomada do personagem, e, de fato, é ela que faz o Halloween de 2018 valer à pena. Apesar disso, Laurie Strode – a mais valente das sobreviventes do matador mascarado – é não mais do que um detalhe em Halloween Kills. Tanto é que a ação dessa vez começa justamente no ponto onde o último havia terminado, com a protagonista e sua filha, Karen (Judy Greer, um dos talentos mais subestimados do momento), indo para o hospital após terem incendiado a própria casa com o serial killer trancado no porão. Estão comemorando terem vencido a ameaça que as perseguia há anos, mas também precisam de cuidados – a mais velha foi atacada durante o combate e precisa de atendimento imediato. E é lá onde a personagem irá permanecer pela próxima hora e meia: trancada em um quarto médico, imobilizada em cima de uma maca na maior parte do tempo, restando apenas uma ou outra oportunidade para declarar frases de efeito do tipo: “Michael Myers não é uma pessoa normal, ele é o mal encarnado” (alguém na audiência ainda não sabia disso?).
Com a mocinha fora de cena, o que resta a ser feito? Percorrer a mesma ideia de antes, porém dessa vez com o time B. Sim, pois se David Gordon Green (diretor dos três filmes recentes) e o ator Danny McBride (o cômico permanece apenas atrás das câmeras, tendo sido responsável pelas novas histórias) anunciaram que o resgate de Halloween se justificaria pela oportunidade da mais notória das vítimas se vingar do monstro que a perseguia, com a exclusão dela – obviamente, um recurso para que possa ser reintroduzida com maior força no capítulo seguinte – restam outros sobreviventes dos filmes originais, como o oficial Hawkins (Will Patton e Thomas Mann, no presente e no passado), Lonnie (Robert Longstreet), Tommy (Anthony Michael Hall), Marion (Nancy Stephens) e Lindsay (Kyle Richards). No entanto, aqui se faz necessário uma observação: se as duas, de fato, são as atrizes dos filmes originais – ambas em participações mínimas – eles foram substituídos, e agora estão na pele de outros atores ou foram introduzidos somente agora, numa alteração do cânone que mais incomoda do que agrega algo de fato relevante.
Pois bem, apesar do que se imaginava, Michael Myers segue vivo e tem muito com o que se ocupar em mais uma noite de Halloween. Se o enredo segue uma cartilha característica das produções do gênero de três ou quatro décadas atrás, Halloween Kills termina por ser vítima daquilo que deveria apenas emular e fazer uso como referência, e não resignando-se em ser não mais do que uma cópia genérica. Nem mesmo o humor involuntário, típico do estilo – por vezes, o absurdo é tamanho que o riso vem de nervoso, em um resultado que convencionou-se chamar de terrir – acaba se manifestando. Há não mais do que um ou outro momento digno de alívio, pois o conjunto insiste em se levar mais a sério do que deveria, ostentando um peso e responsabilidade que há muito deixou de ter. Michael Myers em nenhum momento se anuncia como o tipo sobrenatural que o apontam. São os outros que o veem desse modo. E tudo o que faz acaba sendo visto pelo prisma daqueles que ataca. Ou seja, ao espectador resta apenas levar em consideração a versão dos demais, nunca a do antagonista.
Mesmo com tanto a ser discutido, é provável que o pior elemento dessa mistura seja o discurso miliciano que o longa finge criticar, enquanto o explora até às últimas consequências. Mais de um personagem, em diferentes momentos, alega que “o sistema falhou com Michael Myers” e a frase “o Mal acaba esta noite” se torna um mantra para muitos dos envolvidos. Assim, resta aos sobreviventes apenas o sentimento de turba enlouquecida e a vontade de se fazer justiça com as próprias mãos, por mais problemático que tal caminho tenha se mostrado ao longo da História. E ainda que tal opção se revele capaz de desdobramentos trágicos, a insistência em não alterar o curso é não só patética, mas assustadoramente alinhada à movimentos vistos tanto nos Estados Unidos como no Brasil. É tanta ignorância e aleatoriedade combinadas, desprovidas de uma reflexão capaz de tornar tais atos dignos de análise e ressonância, que resta somente o mais improvável: torcer pelo vilão. Se isso é tudo que Halloween Kills consegue, o sinal de alerta é dado com efeito, e o fundo do poço se mostra mais distante do que até então se imaginava.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Francisco Carbone | 7 |
Ticiano Osorio | 3 |
Ailton Monteiro | 5 |
Lucas Salgado | 4 |
Victor Hugo Furtado | 5 |
MÉDIA | 4.5 |
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