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Sinopse

Um perigoso assassino foge do hospício onde era mantido, retornando ao bairro onde matou sua família quando criança. Lá ele passa a observar e perseguir os jovens moradores da rua, em especial a bela Laurie.

Crítica

A garota está despida. Recém havia feito sexo com o namorado. Súbito, seu pequeno irmão, de apenas seis anos, pega uma faca de cozinha e começa a desferir golpes contra ela. Ele sai de casa na mesma hora que os pais chegam. Eles tiram a máscara do garoto, que tem um olhar frio e distante. Está apresentado Michael Myers, um dos serial killers mais famosos do cinema, que fez sua estreia em Halloween: A Noite do Terror, produção de 1978 que marcou época não apenas por ser um filme de baixo orçamento que estourou nas bilheterias, mas também por lançar ao estrelato a atriz Jamie Lee Curtis, o cineasta John Carpenter e, acima de tudo, desvelar uma onda de slash movies que encheriam as telas nos anos seguintes.

A trama se passa 15 anos após o brutal assassinato. Myers está internado num hospital psiquiátrico e não fala com ninguém. A única exceção é com seu psiquiatra, Sam Loomis (Donald Pleasence), com quem troca poucas palavras. Pois na noite do Dia das Bruxas, o assassino foge da instituição e retorna para a pacata cidadezinha de Haddonfield, onde viveu quando criança, indo parar na própria casa dos pais, hoje abandonada e considerada assombrada. Em sua obsessão pelo assassinato da irmã, acaba escolhendo um novo alvo: a jovem estudante, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis).

Num primeiro momento, é preciso deixar de lado os erros do roteiro (como Myers dirigia um carro se estava num hospital psiquiátrico desde a infância?) e as atuações truncadas (mais por culpa da unidimensionalidade dos personagens do que por conta do elenco). O que importa é como Carpenter consegue captar a essência do horror e do suspense, sem apelar para o sangue e mortes a todo instante. Tanto que o mais interessante não é saber "quem será o próximo?", como muito acontece com franquias derivadas da mesma essência e que vieram depois, como o Jason de Sexta-Feira 13 (1980), Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo (1984) ou, ainda, o Ghostface de Pânico (1996). O que chama atenção por aqui é a construção do medo e paranoia vividos pela personagem de Curtis por ser perseguida por um homem que ela nem sabe quem é e, principalmente, porque a escolheu como objeto de admiração.

Pois apesar da falta de complexidade dos personagens, é clara a obsessão de Myers por matar garotas "saidinhas", deixando as virgens (no caso, Laurie) como fruto da representação da inocência perdida do assassino. Tanto que as mesmas virgens de produções similares posteriores seguiriam o mesmo caminho de heroínas da história. É uma questão dúbia sobre "moral e bons costumes" que atravessa o próprio longa e remete ao período em que o longa foi concebido. Se até os anos 1960 as mulheres queimaram sutiãs e lutavam por mais direitos e participação na vida social e política, na década de setenta veio a explosão da revolução e liberdade sexual, não se restringindo mais apenas ao que os homens sentiam, mas que, sim, mulheres também tinham tesão e mereciam ter direito a apenas uma noite de sexo não romantizada, se assim desejassem.

Dentro desta discussão, que remete até hoje ao machismo ("se ela está de saia curta é porque quer algo", dizem as mentes mais obtusas), Halloween: A Noite do Terror funciona de forma atemporal, pois coloca em xeque o que a sociedade espera de suas mulheres. Algo que reflete no campo estético: Carpenter é inteligente o bastante para não deixar suas mortes de forma tão explícita, causando mais horror, medo e impacto do que se mostrasse vísceras e afins jogadas na tela. É uma lição aprendida com Alfred HItchcock e outros grandes nomes do cinema de horror que sabiam dosar o enredo com a decupagem.

Não à toa o próprio diretor viria a se firmar como um dos destaques do gênero nos anos seguintes, em títulos como A Bruma Assassina (1980) e Christine: O Carro Assassino (1983). Não é que este Halloween: A Noite do Terror seja o melhor terror de todos os tempos ou o mais marcante. É porque os envolvidos na produção souberam conversar com o público ao retratar a sociedade além do que um simples longa de assassino em série maluco. As sequências da franquia, como era de se esperar, não fazem jus ao conjunto inteligente proporcionado pelo original. Porém, este serve de base para qualquer genérico do gênero que veio a ser produzido depois. E tamanha influência nunca deve ser desconsiderada. Ainda mais com o medo que ela provoca.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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