Crítica
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Sinopse
Crítica
O último filme baseado em uma obra de Stephen King a chegar aos cinemas e causar um – relativo – impacto foi O Nevoeiro (2007), que chegou a ser indicado como Melhor Filme de Horror do ano na Academia de Cinema Fantástico dos EUA e faturou cerca de três vezes o seu orçamento nas bilheterias de todo o mundo. Desde então – e já se passam mais de cinco anos – as obras do autor mestre do suspense e do terror estavam servindo de inspiração apenas para curtas-metragens e programas de televisão. Com o sinal de crise criativa em alarme, havia apenas dois caminhos possíveis: uma reinvenção total ou uma volta às origens. Como a segunda opção sempre é a mais fácil, estamos agora diante dessa nova Carrie: A Estranha, refilmagem do longa homônimo de 1976 – aliás, seu primeiro livro a ser adaptado para a tela grande. E o resultado não poderia ter sido mais decepcionante.
Uma cena bastante simples, que ocorre já passado da metade do filme, resume bem o tom da versão 2013 de Carrie: A Estranha: com a intenção de abafar os gritos da mãe, que está trancada num armário debaixo das escadas, Carrie simplesmente mexe os dedos em direção ao rádio, ligando-o automaticamente com seus poderes telecinéticos. Ou seja, ela não é capaz de estender o braço para acionar o aparelho manualmente. E esse exagero desnecessário se espalha por toda a produção. Absolutamente tudo que era apenas sugerido e insinuado de forma sutil no excelente longa-metragem dirigido há mais de trinta anos por Brian De Palma agora é explorado demasiadamente, com inserções gráficas e maquinações digitais. Percebe-se que a diretora Kimberly Peirce, mais acostumada à dramas pessoais como o do oscarizado Meninos Não Choram (1999), se deixou levar por esse universo até então pouco familiar dos efeitos visuais, indo além da medida.
Pra quem não é familiarizado com a trama – já explorada não somente no filme original, mas também na continuação Carrie 2: A Maldição de Carrie (1999), com Amy Irving reprisando a personagem Sue, e no telefilme Carrie: A Estranha (2002), que tinha Patricia Clarkson no elenco – Carrie é uma menina em plena puberdade que pouco sabe da vida. Criada sozinha pela mãe, uma religiosa fervorosa, só foi pela primeira vez para a escola obrigada, pois o governo proibia uma educação em casa. Desprezada e sem amigas, tem uma crise de pânico no banheiro, após a aula de educação física, ao perceber que está sangrando – era, na verdade, sua primeira menstruação, mas sua ignorância a respeito desse processo natural que todo corpo feminino enfrenta a certa idade lhe fez pensar que estaria morrendo. Diante de sua reação, as colegas reagem da pior maneira possível, caçoando dela e jogando absorventes em sua direção, fazendo pouco caso do seu sofrimento.
A partir desse momento duas coisas acontecem com Carrie: ao mesmo tempo em que se confirma seu status de pária social na escola – reforçado pelo castigo que uma das agressoras, Chris, recebe, fazendo dessa sua arqui-inimiga número um – ela descobre ter poderes paranormais, com o dom de mover coisas e pessoas apenas com a força da mente. Esta questão, particularmente, era muito bem abordada no primeiro filme, que trabalhava o elemento sobrenatural com discrição e muito tato, preparando o terreno para o desfecho assustador. Isso, agora, não acontece. Logo após a primeira manifestação, Carrie está na internet, buscando todas as informações possíveis a respeito. Detalhe: essa é a mesma menina que até um dia antes não sabia o que era menstruação. Irônico.
Chloë Grace Moretz, no papel-título, não possui a mesma fragilidade e caráter insuspeito de Sissy Spacek, a primeira Carrie. Chloë é uma ótima atriz, mas muito esperta e antenada, de acordo com seus personagens em filmes como Kick-Ass (2010) ou Sombras da Noite (2012). Dessa vez, no entanto, ela se afasta do tom exigido, principalmente durante os momentos finais. Quem acaba se salvando do desastre é Julianne Moore, uma atriz acima de qualquer suspeita, numa atuação que se não chega a se comparar ao trabalho de Piper Laurie – indicada ao Oscar pelo primeiro filme, assim como a protagonista – também não lhe deve em nada. É de se lamentar também as presenças insípidas dos supostos galãs Ansel Elgort e Alex Russell (esse, num personagem que foi de John Travolta no original). Num filme em que as mulheres se destacam, os tipos masculinos são irrelevantes e facilmente descartáveis.
O clímax de Carrie: A Estranha é o baile de formatura, quando uma peça pregada em Carrie – que é eleita propositalmente rainha apenas para ser vítima de um balde de sangue de porco, um vexame visto por toda a escola – solta todas as suas amarras, fazendo com que seu dom se transforme em fúria, num massacre juvenil que possui ecos na tragédia real acontecida em 2012 no interior do Rio Grande do Sul. A sequência, que deveria representar um momento de explosão e descontrole da protagonista, aqui ganha requintes de vingança planejada, como uma supervilã imbatível. A nova Carrie poderia ser filha de Jean Grey, a x-man que quase acabou com o mundo em X-Men 3: O Confronto Final (2006). E pensar que tudo poderia ser evitado com uma simples troca de colégio, bastando encaminhá-la ao cuidados do Professor Xavier...
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Thomas Boeira | 5 |
Edu Fernandes | 6 |
Francisco Carbone | 3 |
Chico Pereira | 1 |
MÉDIA | 3.6 |
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