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Sinopse

Fielding Mellish se apaixona por uma ativista política. Para conquista-la, começa a participar de eventos engajados, mas apenas com o intuito de conquistar. Mal sabia ele que essa aventura amorosa o levaria a se unir aos rebeldes de uma uma republiqueta na América Central.

Crítica

Woody Allen começou sua carreira como roteirista em programas de televisão e como escritor e intérprete de monólogos cômicos nos palcos. Pois foi investindo nesse passado de stand up comedy que ele conduziu sua passagem para a tela grande como realizador. E se o primeiro trabalho – O Que Há, Tigresa? (1966) – era mais um exercício de linguagem e o segundo – Um Assaltante Bem Trapalhão (1969) – propunha algo até então inédito, o ‘falso-documentário’, com o projeto seguinte o esforço foi praticamente mínimo, pois decorria como consequência natural de sua atividade na época. É assim, portanto, que o espectador deve encarar Bananas atualmente, mais de quarenta anos após o seu lançamento: como uma peça pitoresca a respeito de um gênio em formação, momentaneamente interessante, porém sem maiores repercussões.

Allen e seu parceiro da época Mickey Rose foram contratados para adaptarem um livro a respeito de um ditador na América Latina. Após começaram os trabalhos, os dois se deram conta que o material literário que deveria servir de inspiração era muito ruim, e simplesmente o descartaram, criando algo novo a partir da mesma premissa. Ao mostrarem o texto finalizado, entraram em choque com o solicitante – afinal, este esperava por uma adaptação fiel da obra. Este roteiro acabou sendo deixado de lado, e anos depois, quando o cineasta novato foi convocado às pressas para realizar outro filme para o produtor Jack Grossberg, lembrou-se deste antigo arquivo. Assim nasceu Bananas, um filme do qual poucas memórias positivas persistem até hoje.

Fielding Mellish (Allen) é um testador de produtos para uma grande companhia que, após levar um fora da namorada, resolve afogar às mágoas na pequena ilha de São Marcos, lugar que acabou de ter seu presidente assassinado e cujo novo ditador está determinado a tudo para manter-se no poder. Ao se depararem com este americano perdido pelo país, duas forças se manifestam. O governo pretende assassiná-lo e culpar os rebeldes, para assim conquistar a simpatia dos Estados Unidos. Já os manifestantes revolucionários decidem adotar o rapaz, tornando-o símbolo de sua luta de resistência. Até que, aos trancos e barrancos, a rebelião é bem-sucedida e o turista desavisado acaba ocupando a presidência da nação!

Bananas é nada mais do que uma sequência de 80 minutos de gags visuais, uma atrás da outra, em que a trama propriamente dita pouco importa. São piadas aleatórias que até deviam funcionar bem nos palcos, porém visualmente não conseguem à contento se concretizar em material cinematográfico. Há o rapaz que deseja comprar uma revista pornográfica discretamente e é exposto pelo vendedor diante dos demais clientes, os namorados que colocam tanto empecilhos antes de irem pra cama – está muito claro, muito escuro, muito quente – que quase desistem de transar, ou os pais judeus que insistem que o filho siga seus passos na medicina, enquanto que o paciente só está preocupado com o horário da peça de teatro que irá assistir após a cirurgia. Algumas dessas passagens ainda mantém a graça, mas em sua maioria estão envelhecidas, quase como um registro histórico de algo que deve ter soado hilário ao ser visto pela primeira vez, mas que hoje é apenas datado.

Ainda que seja reconhecido por falar dos relacionamentos humanos com um senso de humor bastante típico, Woody Allen poucas vezes exerceu sua veia política com tamanha intensidade quanto em Bananas. Talvez seja reflexo da frustração de ter feito esse filme, um longa que nunca é mais do que somente curioso. Ele radicalizaria ainda mais esse estilo em Tudo o que Você sempre quis Saber sobre Sexo e tinha Medo de Perguntar (1972), mas aqui percebe-se com clareza a gênese de um talento que exigiu muita maturação com o passar dos anos para chegar a obter o reconhecimento que hoje o cineasta desfruta. Descartável, é fácil de se assistir, e talvez mais ainda de se esquecer.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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