Crítica


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Sinopse

Depois de ter se divertido com uma dupla barulhenta durante as férias do México, um casal descobre que esses ruidosos companheiros de viagem os seguiu até sua casa.

Crítica

Ao contrário de muita gente, que se perdeu entre o marasmo motivado pela pandemia do Covid-19, John Cena tem aproveitado bastante estes últimos meses. E entre acertos como Velozes e Furiosos 9 (2021) e O Esquadrão Suicida (2021) – que, inclusive, será desdobrado em uma série centrada especificamente no personagem dele, que já está sendo filmada – há também deslizes como esse Amizade de Férias, uma bobagem que, mesmo sem prometer muito, ainda deixa pelo caminho alguns constrangimentos pelo pouco que entrega. Mais uma daquelas promessas que, nas mãos de um cineasta mais experimente – ou menos atado às convenções do gênero – talvez pudesse ousar com originalidade, mas que termina por se mostrar redundante e carente de inspiração por reprisar velhos conceitos e investir mais no alegado carisma dos seus atores do que numa suposta engenhosidade do roteiro.

Escrito e dirigido por Clay Tarver (indicado ao Emmy por Silicon Valley, 2014-2019), em sua estreia no cinema, Amizade de Férias parte de um conceito que há algumas décadas circulava por Hollywood, sem que ninguém demonstrasse particular vontade em levar o projeto adiante. Nomes como Nicolas Cage, Will Smith, Chris Pratt e Ice Cube chegaram a demonstrar interesse em um momento ou outro, mas tanto atraso e a falta de texto finalizado acabaram provocando suas desistências. No final, sobrou para a dupla formada por Lil Rel Howery, um comediante que começou a chamar atenção de um público maior a partir de sua participação como o melhor amigo engraçado de Corra! (2017), e Cena, mais um fortão e ex-lutador que tem se esforçado em revelar versatilidade, seguindo passos que antes foram trilhados por nomes como Arnold Schwarzenegger e Dwayne Johnson. Os dois até possuem química quando juntos, por mais que a parceria soe forçada em alguns momentos. É uma estranheza que, de tão inadequada, acaba por se adequar aos propósitos da trama.

O problema é que essa não ajuda. Afinal, é o primeiro filme de Howery como protagonista, mas como seu personagem é ranzinza e resmungão, seu potencial cômico se mostra limitado. Esse potencial recai no colo do colega, que possui um histórico tímido nesse âmbito – títulos como Brincando com Fogo (2019) ou Não Vai Dar (2018) definitivamente não colaboram. O primeiro é o cara certinho que, ao lado da noiva (a geralmente ótima Yvonne Orji, de Insecure, 2016-2020, aqui em posição coadjuvante), vê seus planos de uma semana em um lugar romântico e paradisíaco a dois serem atropelados por uma dupla tresloucada e sem noção, formada pelo segundo e a esposa, vivida pela desconhecida, porém carismática, Meredith Hagner (Search Party, 2016-2021). A questão, no entanto, é que nenhum dos caminhos possíveis de serem seguidos pelo enredo é perseguido pelo tempo suficiente. Os recém conhecidos são chatos, mas só um pouco: logo os quatro estão amigos. E ao invés de se focar nessa relação, de pronto ela se encerra, com o fim das férias, e a consequente separação deles – que também não irá durar o bastante.

Pois a história irá se estender para além do ambiente exótico, ou seja, de exceção. Mas nem esse elemento é levado adiante, pois o reencontro se dá durante o casamento do casal principal com o surgimento inesperado dos inadequados-porém-amigos-mas-chatos-ainda-que-gente-boa. Se o conceito original visava os pontos de conflito entre os quatro, isso é deixado de lado com a entrada de outros antagonistas, como o pai (Robert Wisdom, de Ray, 2004) e o irmão da noiva (Andrew Bachelor, de Amor, Casamentos e Outros Desastres, 2020), que se revelam inimigos do futuro parente de modo quase gratuito, como se o único propósito deles fosse criar situações de atrito. Um recurso tão bobo quanto descartável, que é deixado de lado após uma ou outra solução não muito elaborada.

Se os eventos fossem centrados nas duas mulheres, é possível que Amizade de Férias se mostrasse uma aposta ao menos divertida. No entanto, não é isso que acontece. Apesar de serem visivelmente mais interessantes em suas construções dramáticas, ambas são colocadas apenas como suporte dos dois machões ao lado delas, resignados em serem não mais do que meros estereótipos: o nerd comportado, assustado e preocupado, e o valentão brutamontes de bom coração. Os demais conflitos familiares, que por determinados instantes ameaçam roubar as atenções, na mesma velocidade são descartados, evidenciando suas irrelevâncias. Assim, um filme que apresentava várias possibilidades – comédia de viagem, trapalhadas românticas, aventuras entre amigos – acaba por não se concentrar em nenhuma delas, desperdiçando esses potenciais pela simples falta de foco. Talento desperdiçado, é o que temos por aqui.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
4
Francisco Carbone
3
MÉDIA
3.5

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