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Sinopse

O Esquadrão Suicida começa em Belle Reve, a penitenciária norte-americana mais perigosa de todas, por isso mesmo conhecida como inferno. Nela está encarcerados os piores bandidos e vilões. Para sair dali alguns deles estão dispostos a fazer parte de uma força tarefa suicida, sob o comando de Amanda Waller (Viola Davis), em missão na remota ilha Corto Maltese.

Crítica

Pra começo de conversa, importante deixar uma coisa clara: o primeiro Esquadrão Suicida (2016) está longe de ser o desastre que se convencionou pensar a respeito. Afinal, trata-se de um filme que faturou quase US$ 800 milhões nas bilheterias de todo o mundo (mais de quatro vezes o valor do seu orçamento), ganhou um Oscar (Melhor Maquiagem), tinhas boas conexões com o Universo Estendido DC (Batman e Flash estavam presentes de maneira orgânica) e agregou ótimos personagens a esse cenário, como a Arlequina de Margot Robbie (que chegou, posteriormente, a ganhar um filme próprio) e a impiedosa Amanda Waller de Viola Davis. Dito isso, também não dá pra negar seus muitos deslizes, como o tom infantilizado, participações incômodas (Cara Delevingne?) e uma direção que não sabia muito o que dizer. Compreensível, portanto, que o novo O Esquadrão Suicida queira fingir que o anterior nunca existiu, apresentando-se como um reboot do original. Nem uma coisa, mas também não outra, como uma sequência das mais tradicionais. O que se vê é apenas mais uma missão, com alguns tipos conhecidos, e outros recém-chegados. A mudança, portanto, está no comando. E essa nova visão oferece, ao mesmo tempo, acertos consideráveis e exageros que poderiam ter sido evitados.

Os protagonistas de O Esquadrão Suicida, como é sabido, são alguns dos piores vilões da DC Comics. É de se esperar, portanto, que sejam figuras más, e que caso precisem agir de forma responsável, o façam contrariados, sempre em busca de um passo em falso que lhes permita escapar ao prometido. Pois bem, talvez esse tenha sido o maior dos erros do longa dirigido por David Ayer. Lá, a turma parecia imbuída por uma vontade de se apresentar como heróis de fato, o que se não chega a ser eliminado por completo na versão de James Gunn, ao menos é uma vontade que se manifesta de forma atenuada. Quem conhece o cinema de Ayer sabe que ele é capaz de entregar narrativas que abusam da violência: o forte Marcados para Morrer (2012), assim como o recente O Cobrador de Impostos (2020), não medem esforços nesse sentido. Em sua tomada sobre essa trupe de malfeitores, no entanto, havia tanta interferência de terceiros – executivos da Warner, principalmente, pois ainda se via aquele longa como uma peça importante dentro de um cenário maior – que cada decisão precisava ser muito estudada, a tal ponto que o resultado ficou engessado. Diferente do que Gunn teve pela frente: liberdade e autonomia.

Duas características que, se num primeiro momento, podem representar conquistas dignas de comemoração, o mais atento irá antever complicações futuras. Como as que, de fato, se percebem. Sem ninguém para controlá-lo, o diretor manteve as rédeas soltas do início ao fim. E o que deveria ter sido muito legal, se usado em doses homeopáticas e planejadas, pelo excesso se torna anestesiante. Em 15 minutos de trama, por exemplo, metade do elenco já é dado como morto. Cria-se a impressão de que ninguém está seguro, e qualquer um pode ser eliminado quando menos se espera. Mesmo isso, porém, não é levado tão ao pé da letra, e se não há uma identificação intensa a ponto do espectador se importar com o destino de muitos dos que aparecem em cena, aqueles já conhecidos – como a Arlequina, aqui na sua melhor versão cinematográfica, completamente solta e alucinada, ou mesmo o Sanguinário de Idris Elba, que nada mais é do que uma variante do Deadshot de Will Smith (até suas motivações, envolvendo a filha única, se repetem) – saem na frente, canalizando as preferências. Há diversos pontos de distração – poderes inesperados (atiradores de bolinhas? Controladoras de ratos?), animais humanoides (Doninha? Tubarão?), selvageria ostensiva (crânios sendo mastigados como aperitivos, corpos repartidos ao meio, escalpos fatais, explosões do início ao fim) – mas o que sobra enquanto história? Pouco, e esse é o fato mais incômodo.

Sim, pois basicamente o que se encontra em O Esquadrão Suicida é não mais do que uma variante de Comando Para Matar (1985) ou Os Mercenários (2010) – sem Schwarzenegger, mas com Stallone (é dele a voz monocórdia do King Shark). Uma força-tarefa norte-americana é enviada para um país qualquer da América Latina para fazer uma ou mais dessas atividades: derrubar o governo, invadir laboratórios estrangeiros, desbaratar milícias locais e roubar informações confidenciais. E entre (muitas) piadas de pintos e bundas, fortões de cueca branca e exércitos de senhoras obesas, os assassinos sobreviventes terminam por se alinhar a um grupo de rebeldes (liderados pela brasileira Alice Braga, em participação discreta) enquanto se ocupam de suas próprias diretrizes: salvar Rick Flag (Joel Kinnaman, mais à vontade) e Arlequina, que são capturados ao chegarem na ilha de Corto Maltese (lugar fictício onde a trama se desenrola) e ainda lidarem com um cientista maluco (cortesia do inglês Peter Capaldi, que já foi o Doutor Who) e uma estrela marinha gigante que atende pela alcunha de Starro, o Conquistador – fãs dos quadrinhos sabem bem de quem se trata. São tantos elementos que, como se percebe, funcionariam melhor se vistos com parcimônia. Mas o que acontece é uma overdose de tudo ao mesmo tempo agora. Poderia ser legal, mas é apenas cansativo e repetitivo.

Entre estereótipos sobre o Terceiro Mundo reiterados pela enésima vez – o galã conquistador, os generais corruptos – e um humor digno da quinta série do primário, James Gunn deixa claro carecer de uma supervisão em sua abordagem a esta fantasia em excesso, da qual nada parece ser suficiente para gerar momentos de real tensão ou adrenalina – afinal, é sabido que, aqueles que realmente importam, independente do que aconteça a eles, no final seus objetivos serão cumpridos. E se o que lhes resta é, mais uma vez, salvar o mundo com as próprias mãos – quantas vezes isso já não foi visto? – muitos destes desvios poderiam ter sido evitados, sem tantos clímaxes em sequência (há uns cinco finais anunciados que não chegam a se confirmar) e flashbacks desnecessários, que servem apenas para reforçar informações conhecidas e gerar tropeços no ritmo dos eventos. O Esquadrão Suicida também tem seus acertos – o Pacificador de John Cena merece, de fato, uma segunda chance (está confirmado em uma série individual), e que alívio acompanhar uma história preocupada apenas com seu início, meio e fim, sem desdobramentos e ligações externas – e esse mérito não lhe é negado. Mas sem tanto grito, cores e abusos, o conjunto teria a ganhar em determinação e assertividade. Talvez isso fosse pedir demais, mas se nem o céu parece ser o limite, o que custa sonhar, não é mesmo?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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