Crítica
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Sinopse
Uma ciborgue é descoberta por um cientista. Ela não tem memórias de sua criação, mas possui grande conhecimento de artes marciais. Enquanto busca informações sobre seu passado, trabalha como caçadora de recompensas e descobre um interesse amoroso.
Crítica
Projeto dos sonhos de James Cameron, Alita: Anjo de Combate estava no radar do cineasta desde antes de Avatar (2009). No entanto, quando este quebrou qualquer recorde imaginável e se tornou o filme mais visto de todos os tempos, nada mais natural que decidisse passar o resto da sua carreira realizando sequências desse incrível sucesso (até Avatar 5 já tem data de estreia prevista para 2025). O que fazer, portanto, com o roteiro já escrito a partir da graphic novel de Yukito Kishiro? Entregar para outro cineasta tocar o projeto, é claro. Só que ao invés de uma parceria com alguém igualmente visionário, o escolhido foi Robert Rodriguez, um realizador que já deixou claro, ao longo de sua carreira, estar mais preocupado com a forma do que com o conteúdo de suas obras. Sendo assim, agindo exatamente de acordo com o esperado, é o que encontramos por aqui: um filme de visual impressionante, porém dono de uma trama que deixa a originalidade de lado para se assumir como uma colcha de retalhos de tantas outras produções similares já vistas à exaustão nos últimos tempos.
Alita (Rosa Salazar, de Bird Box, 2018) é uma ciborgue encontrada aos pedaços em um ferro-velho pelo doutor Dyson Ido (Christoph Waltz, felizmente deixando de lado a persona vilanesca a qual tem se associado nos últimos tempos). Espécie de Gepeto, ele conserta sua Pinóquio até ela tomar corpo de uma jovem bela e desenvolta. Estamos num futuro, apontado como sendo após ‘A Queda’, em que os enxertos cibernéticos são uma realidade até corriqueira, e ele é um dos principais entendidos do assunto, capaz de fazer verdadeiros milagres para aqueles que o procuram. Isto, é claro, entre os habitantes da Cidade de Ferro. Pois, assim como visto em Elysium (2013), neste cenário a Terra está devastada, e todos aqueles com condições suficientes para tanto moram agora em Zalem, uma cidade flutuante que fica acima de tudo e todos. É para lá que qualquer um minimamente ambicioso sonha ir, nem que para isso tenha que fazer o impossível.
Mas há um meio ‘oficial’, por assim dizer, para garantir essa passagem ao novo mundo: vencer o Motorball, um jogo altamente violento de destreza e velocidade em pistas altamente vertiginosas. Enquanto vai se descobrindo cada vez mais humana, Alita se envolve com o jovem Hugo (Keean Johnson, de Nashville, 2014-2016), que pode ou não ter um segredo no armário, ao mesmo tempo em que terá que lidar com as presenças misteriosas de Chiren (Jennifer Connelly, que não era vista na tela grande desde Noé, 2014), cuja dubiedade nas intenções até colabora em criar um clima intrigante na história, e Vector (Mahershala Ali, em seu único trabalho entre as duas performances oscarizáveis de sua carreira, Moonlight: Sob a Luz do Luar, 2016, e Green Book: O Guia, 2018), um vilão assumido que não desvia de nenhuma oportunidade para deitar e rolar nos mais frequentes clichês do gênero. Como se percebe, há muito em cena acontecendo. E pouco foco ao narrar tais acontecimentos.
Sim, pois não tardará para que Alita descubra ter um potencial muito além daquele imaginado pelo homem que lhe deu uma nova oportunidade. E assim que revelar ao mundo estar em pleno domínio destas habilidades, logo surgirão aqueles determinados a colocar um fim no seu caminho. Feras como Grewishka (Jackie Earle Haley) ou hábeis caçadores envoltos por um ego ferido (Ed Skrein) tentarão impedir que siga em busca de um passado aparentemente perdido e retome o que lhe é seu por direito. Há, obviamente, um jogo maior a se desenvolver nos bastidores. E por mais que Rodriguez se esforce em oferecer uma cortina de fumaça sobre as reais intenções aqui em processo, ele não conseguirá sustentar estes artifícios por muito tempo. E entre distrações mal desenvolvidas e personagens subaproveitados, o que restará ao espectador é a sensação de se estar diante de um longo prólogo, que tratará de expor as cartas do baralho, sem nunca as manejar de acordo com o esperado.
Visivelmente hipnotizado pelo universo criado e que agora se encontra a sua disposição, Robert Rodriguez acaba por não dar a atenção devida às figuras inseridas neste contexto. Assim, Alita: Anjo de Combate se confirma frenético em sua narrativa e capaz de provocar arrepios em algumas de suas passagens, mas nada que consiga evitar a sensação de que há algo maior a se desenvolver, mas que, por mais evidentes que sejam os esforços envolvidos, apenas a promessa é que se confirma, adiando para um segundo – e eventual – episódio o que, de fato, parece fazer sentido. O protagonismo feminino merece destaque, o ritmo perseguido é suficiente para manter o interesse em alta, mas nada que consiga desfazer a sensação de se estar diante de não mais do que uma coletânea de episódios, uma introdução a um mundo que talvez seja melhor desenvolvido posteriormente, mas que aqui contenta-se em ser apenas curioso, e nunca mais do que isso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Roberto Cunha | 9 |
Francisco Carbone | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
MÉDIA | 7.3 |
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