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Sinopse

Anos após se separarem, Ana e Fernando decidem visitar, mais uma vez, a Chapada dos Veadeiros, que foi cenário de uma intensa história de amor entre os dois. A viagem é uma segunda chance para essa paixão. Mas o tempo passou e eles talvez não sejam mais os mesmos.

Crítica

Fernando (Rafael Sieg) precisa viajar à fazenda do recém-falecido pai, no interior de Goiás, para começar os preparativos, talvez, do processo de desfazer-se da propriedade. Ana (Bela Carrijo), sua ex-namorada ou ex-esposa – o filme não deixa isso bem claro – vai de carona, depois de muito tempo de um afastamento propiciado por sua partida repentina. O protagonista de Alaska, então, é esse homem em pleno processo de luto que, ainda, é instado a encarar questões afetivas mal resolvidas. Todavia, infelizmente, o cineasta Pedro Novaes, também um dos roteiristas, não consegue fornecer substância e profundidade ao personagem, partindo da forma anódina de dispor as suas particularidades pessoais em cena. Sem dar espaço suficiente para que os intérpretes empreendam mergulhos mais profundos, ele acaba fazendo da produção um parcimonioso e cansativo trajeto, cheio de silêncios nem sempre significativos e de eventos sem importância.

Alaska ensaia colocar ainda mais dúvida nas resoluções do casal ao aproximar homem e mulher novamente. Falta tônus à dramaturgia, do que decorre a sucessão de sequências de intenções evidentes, mas que não alcançam notas emocionais expressivas. Falta, também, pungência no jeito como o envolvimento amoroso é encenado, sem atenção considerável aos vínculos que, assim, soam forçados e artificiais. É difícil acreditar que Fernando e Ana tiveram alguma coisa anteriormente, o que prejudica sobremaneira a trama que, efetivamente, deveria se alimentar desse reencontro repleto de poréns num instante complicado. A reaproximação física, as interações com os capatazes na fazenda, as conversas com os vizinhos, tudo carece de verossimilhança. O realizador não logra êxito em, por exemplo, definir o tempo e as mágoas como empecilhos determinantes ao fracasso de um possível reate. O filme permanece demasiadamente refém de exposições verbais e inércias.

Outra fragilidade é a sua dimensão sonora. Soma de falhas de captação e mixagem, o som oscila de volume, gerando um ruído narrativo contraproducente. Em vários momentos há a impressão de que Fernando e Ana estão “microfonados”, pois suas falas de dentro do carro são altas e claras, enquanto as réplicas dos interlocutores são praticamente inaudíveis. Voltando ao desenvolvimento do enredo, ele também é desprovido de modulações, com os atores sem áreas para manifestar o turbilhão de sentimentos e dúvidas que certamente atravessam os personagens. Sequer o desentendimento no retorno conturbado à metrópole, situação em meio a uma incongruente confusão do experiente motorista com relação ao caminho percorrido várias vezes antes, oferece oportunidades valiosas para que não ditos e senões se imponham como estilhaços de feridas mal curadas. As coisas caminham em banho-maria, sendo condicionadas por uma debilidade quase sufocante.

Bela Carrijo é incumbida da ingrata missão de sustentar Ana somente num pedido de desculpas, por, no passado, ter ido embora intempestivamente. Rafael Sieg, em princípio com mais elementos para trabalhar as camadas de Fernando, também acaba restrito pelas opções diretivas que acentuam a apatia ao tentar criar uma jornada de introspecção. Pedro Novaes não estabelece uma ligação genuína entre os viajantes, tampouco demonstra as conexões do protagonista com a terra que herdara do pai. O envolvimento amoroso que pretensamente rompe as diferenças e a suposta melancolia do órfão desorientado são acessadas timidamente, o que sentencia o todo a um andamento destituído com pouco peso dramático. Fernando e Ana não parecem atrelados por uma história pregressa, assim como ele não dá tantos sinais de tristeza pela morte recente do pai. Sem a devida atenção às minúcias da urdidura dos elos humanos da história, o filme acaba vítima do vazio.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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