Sinopse
Crítica
Genéricos de James Bond existem aos borbotões, e isso não chega a ser surpresa alguma ao cinéfilo mais atento. No entanto, poucos sobrevivem ao teste do tempo para contar história. Um destes casos parece ser o atleta radical Xander Cage, que primeiro marcou presença em xXx na pele de Vin Diesel, em 2002. Três anos depois o personagem voltou repaginado em xXx 2: Estado de Emergência (2005), que tinha Ice Cube como protagonista. A experiência teve um retorno decepcionante das bilheterias – US$ 71 milhões, quase quatro vezes menos do que os US$ 277 milhões do longa original – e parecia ter enterrado novas iniciativas. Porém, mais de uma década depois, se Diesel aceitou assumir mais uma vez o papel em xXx: Reativado (2017), isso se deve ao fato de ter construído uma boa base neste primeiro episódio.
Samuel L. Jackson é um caso curioso de ator com imenso talento – qualquer um que duvide disso precisa apenas vê-lo em Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994) – que parece ter virado refém de sua própria persona (ainda que a desempenhe sempre com competência exemplar). Assim, ele aparece em xXx como o agente Augustus Gibbons, quase que num exercício para o Nick Fury que defenderia nos filmes do Universo Marvel. O encontramos como o militar do alto escalão do governo norte-americano que, diante de uma crise no leste europeu, apresenta uma alternativa ousada: ao invés de enviar ao campo de batalha espiões tradicionais, prefere investir em alguém que seja da mesma laia dos vilões. Ou seja, o público atual pode perceber que se trata da mesma premissa vista no recente – e malfadado – Esquadrão Suicida (2016). Só que, ao invés de um grupo de bandidos, aposta-se em um único homem, um Robin Hood moderno que grava suas façanhas arriscadas para postá-las em seu site e, assim, reunir uma legião de fãs.
É interessante perceber como Vin Diesel, mesmo sem maiores talentos dramáticos, conseguiu criar uma variedade de personagens que atendem a demanda e a curiosidade de seus fãs. O Xander Cage desenhado por ele em muito pouco se difere do Dominic Toretto da saga Velozes e Furiosos, por exemplo. É um cara marrento, cheio das manhas, sempre metido em situações impossíveis, afeito às altas velocidades e com cara de poucos amigos, mas fiel àqueles que estão ao seu lado. Após roubar o carro de um político corrupto apenas para jogá-lo do alto de uma ponte – tudo devidamente registrado por sua equipe, é claro, e divulgado para seus milhares de admiradores – é capturado por essa força especial liderada por Gibbons. Tarefas lhe são impostas para que mostre estar à altura do desafio, e uma vez confirmado seus ‘talentos’ é enviado à República Tcheca, onde recebe a missão de desvendar os planos de um suposto maluco anarquista (Marton Csokas) que planeja explodir a capital, Praga.
O diretor Rob Cohen tem larga experiência no gênero de ação e aventura, já tendo trabalhado com nomes como Sylvester Stallone (Daylight, 1996), Jason Scott Lee (Dragão: A História de Bruce Lee, 1993) e Dennis Quaid (Coração de Dragão, 1996) – isso sem falar com o próprio Vin Diesel no primeiro Velozes e Furiosos (2001). Seu trabalho em xXx, no entanto, é bastante protocolar, cuidando apenas para abrir espaço para o protagonista dar seu show particular. Depois de ter tido seu primeiro papel de destaque como um dos membros do pelotão de Tom Hanks em O Resgate do Soldado Ryan (1998), Diesel logo alçou o posto de liderar as produções com que se envolvia, sendo que em menos de cinco anos já aparecia como único chamariz de público. E se ele não vai muito além daquilo que o seu público se acostumou a ver em suas obras, ao menos uma cena merece uma atenção especial: a incrível avalanche em que se envolve, conduzida com competência por ele e sua equipe.
Além de um herói muito seguro de si e repleto dos melhores aparatos tecnológicos da época (algo muito próximo ao que se vê também nos filmes do agente 007) e de um inimigo caricato e sem muitas nuances, há ainda a mocinha no meio dos dois. Asia Argento tem aqui a sua participação mais mainstream em Hollywood, porém sem negar suas raízes (ela é filha do cultuado diretor Dario Argento): longe de uma garota indefesa, aparece como uma espiã russa envolta em um jogo duplo, e que na última hora se revela uma aliada importante. É um diferencial pequeno, mas que serve como um toque a mais a um longa dinâmico, talvez um pouco datado por uma tentativas de humor deslocadas ou algumas peripécias ultrapassadas, mas que ao menos se esforça para não ser apenas mais do mesmo – ainda que não seja tão bem sucedido em todas estas esferas. Ainda assim, é um primeiro passo. E se o segundo foi um tropeço, é um bom sinal perceber que mesmo tanto tempo depois as fichas estão de volta a quem as merece por direito.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Thomas Boeira | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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