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Sinopse

Após se envolver em um grave acidente automobilístico, no qual uma mulher e seu filho são mortos, Edgar é indiciado, mas consegue escapar da prisão graças à influência de um deputado estadual. Logo em seguida ele parte para uma temporada em Miami, onde retorna com um elaborado plano em que pretende atingir tanto o deputado que o ajudou, símbolo da corrupção política, quanto Maicon, um criminoso que consegue escapar da justiça graças ao suborno de políticos influentes.

Crítica

Em 2 Coelhos, tentativa do cinema nacional de produzir um blockbuster aos moldes do cinema hollywoodiano, ou seja, um filme que atenda aos anseios do grande público entretendo com qualidade e competência, a única questão que permanece com o espectador após o término da sessão é como tão pouco pode gerar tanto barulho. Ou seja, como um amontoado de clichês e obviedades pode ser escondido dentre todos os artifícios técnicos possíveis e imaginados e ser vendido como se fosse, realmente, algo novo e original. Aliás, tudo o que esse longa não é.

Trabalho de estreia no cinema do diretor publicitário Afonso Poyart (que até então havia se aventurado apenas com o divertido curta Eu Te Darei o Céu, 2005, premiado em diversos festivais), 2 Coelhos serve como exemplo de como o que era bom com pouco pode se tornar complicado com muito. É fácil se chegar a essa conclusão principalmente para aqueles que conheceram essa experiência inicial do realizador. Afinal, são os mesmos maneirismos, efeitos de câmera, trucagens de edição, soluções visuais, brincadeiras com a trilha sonora... enfim, os mesmos elementos que antes, em pequenas doses, chamavam a atenção como uma alegoria simpática, mas que agora cansam pela repetição à exaustão. É tanto efeito, câmeras lentas, explosões, tiroteios, flashbacks, grafismos e tudo mais que estivesse à disposição do cineasta que é impossível chegar ao fim da jornada da projeção sem se cansar. 2 Coelhos é uma ode ao exagero.

No centro da trama temos Edgar (Fernando Alves Pinto, que foi ótimo em Terra Estrangeira, de 1996, mas que também pagou contas aparecendo em bombas como Nosso Lar, de 2010), um jovem desocupado que divide seu tempo entre pornografia e videogames. Ele possui um trauma no passado, e para compensar esse erro arma uma trama que envolve um assalto a um notório bandido (Marat Descartes, o ponto alto do elenco), uma procuradora da justiça corrupta (Alessandra Negrini), um professor universitário recluso (Caco Ciocler, adequado, porém com pouco destaque), um ladrão de quinta categoria (o rapper Thaíde) e mais um sem-número de tipos que mais servem para preencher o quadro e atrapalhar o andamento da ação. Lá pelas tantas percebemos que são tantos nomes que o melhor mesmo é esquecer de todos e tentar se fixar no que de fato importa: quem vai ficar com o dinheiro no final. E mesmo parecendo ser uma missão simples, até nisso 2 Coelhos consegue complicar. É muito pouca história para um alarde demasiado.

Muitos podem afirmar que uma história como essa serve para preencher um vazio no cinema nacional, que são os filmes de roubo (como o fraco Assalto ao Banco Central, de 2011), um subgênero pouco explorado por aqui, mas que já rendeu muito em Hollywood – veja o caso de Os Infiltrados, vencedor do Oscar de 2006. Mas se é pra se aventurar em algo que não estamos habituados, o melhor é ser humilde e ir com calma, para não perder o tom. Justamente o oposto aqui acontece em 2 Coelhos. Tudo é em demasia, muito barulho, idas e vindas no tempo narrativo que não colaboram em nada com o andamento do enredo e tantos protagonistas e coadjuvantes que servem mais para distrair do que para colaborar. Por isso resta apenas uma dor de cabeça e a certeza de que muito foi dito, mas pouco irá permanecer. E de discursos vazios estamos todos cansados, não importando o lado da tela em que nos encontramos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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