Recentemente, o autointitulado médium João de Deus foi acusado de agressão sexual por mais de 500 mulheres! Recorrendo à toda sorte de subterfúgios canhestros, se disse inocente num momento, noutro alegrou que não se lembra das vítimas, mas, se a justiça realmente for eficaz, ele terá tempo para um exercício de memória, isolado da sociedade, vendo o sol nascer quadrado em virtude do número impressionante de crimes cometidos. Até então, o homem era tido como uma referência, milagreiro que reinava como santo no interior do Goiás, com fama internacional. João de Deus: O Silêncio é uma Prece, lançado em maio num circuito respeitável por seu tamanho e abrangência, é praticamente um vídeo institucional e, como tal, encarregado de fazer propaganda da “santidade” do homem que cortava pessoas, supostamente extraindo delas seus males físicos por conta de uma sensibilidade guiada por espíritos. Na telona passam inúmeros homens e mulheres dando testemunhos do quanto a atividade de João de Deus mudou suas vidas, relatando dores misteriosamente extirpadas com facilidade e um sem número de “milagres”. O cineasta Candé Salles, abertamente, tenta fazer uma catequização, achando ingenuamente que basta enfileirar depoimentos de fontes heterogêneas para consolidar uma visão praticamente irrefutável. As falas induzem, pois constituídas, basicamente, de pressupostos e sentenças. As figuras conhecidas surgem como instrumentos dessa tentativa de asseverar a autenticidade e a autoridade de João de Deus, médium que, como soubemos recentemente, utilizava justamente essa aura de imponência para, segundo as denúncias, perpetuar sua impunidade. Se João de Deus: O Silêncio é uma Prece, antes das acusações, por seu caráter doutrinário e propagandístico, bem como por conta da linguagem simplória, já era algo totalmente descartável, agora ele adquire um tom ainda mais complicado, pois faz apologia a uma fraude que gerou sofrimento em inúmeras mulheres com seu poder adquirido.
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