Visões políticas à parte, o filme que prometia ser um retrato da criação do Plano Real, um dos episódios recentes mais importantes da economia brasileira, foi lançado no momento errado e dirigido pela pessoa errada. Rodrigo Bittencourt tinha no currículo a comédia esterotipada Totalmente Inocentes (2013) e nenhuma experiência com temáticas ditas mais sérias. Ao se arriscar num novo ambiente, alguns de seus vícios foram mantidos e tornaram a trama uma série de esquetes ambientados em escritórios da capital federal. Apesar do título remeter à criação do plano, toda a história gira em torno de apenas um personagem: Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto), o economista e então presidente do Banco Central no período em que se passa o filme. O roteiro apresenta situações que colocam Franco como um gênio incompreendido e criador solitário do que viria a ser o Plano Real. Todos os personagens giram em torno de suas ideias e servem para reforçar a suposta inteligência do homem que queria mudar a situação econômica do Brasil e que menospreza todos à sua volta, inclusive a namorada, interpretada por Paolla Oliveira, uma das poucas personagens femininas, que cumpre a função de ser apenas objeto decorativo ao lado dos homens poderosos. É quase impossível levar à sério os diálogos que contem frases que mais parecem slogans de campanhas políticas, no estilo de “vamos salvar o Brasil”. No fim, o que era para ser uma dramatização sobre parte da história econômica do nosso país, torna-se uma comédia com noções erradas de progresso e seriedade.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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