É difícil julgar um filme por sua mensagem, pois há narrativas excelentes que defendem coisas das quais discordamos inteiramente. Deve ser muito complicado, por exemplo, ser um fã de Star Wars e apoiar politicamente a Direita – pois há de se reconhecer os méritos da obra enquanto se atura o conteúdo “esquerdista”. Da mesma forma, Gran Torino (2008) é um longa muito bem executado, mas repleto de um inegável sentimento xenofóbico e, ainda pior, condescendente. Este troço aqui, por outro lado, ultrapassa os limites da liberdade de expressão e adentra alegremente o discurso de ódio. Quer dizer, Hitler não teria estranhado se, ao invés de O Triunfo da Vontade (1934), Leni Riefenstahl tivesse lhe apresentado isso aqui que o Danilo Gentili excretou. Aliás, tenho quase certeza de que seria menos ofensivo e retrógrado adaptar o Minha Luta do que o livro cometido por Gentili. O que o (??) (o que Danilo Gentili é, afinal?) não entende é aquele desequilíbrio de poderes e de representação na nossa atmosfera social, e que portanto existem piadas que, por mais inocentes que sejam, ajudam a manter a balança desse modo, possibilitando a existência de um ambiente onde se propaga todo o tipo de preconceito e abuso contra pessoas que não se encaixam no padrão do homem cisgênero, branco e heterossexual. É por isso que ele utiliza esta coisa aqui (me recuso a chamar de filme) para tentar dizer que é Ok chamar gordo de gordo e lhe atribuir estereótipos disso, que é normal associar homossexualidade e pedofilia, que tá tudo bem tratar mulher como objeto – chamando de “mimimi” os movimentos que tentam acabar com esses ódio enraizado. Óbvio, o que Gentili não entende e nem se entendesse admitiria, é que no fundo ele teme mais do que tudo ser tratado pelo mundo da forma como ele, dentro de todos os seus privilégios, trata toda a diversidade de pessoas nele.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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