Por mais que tenhamos três títulos premiados no Festival de Cannes – vencedores de Melhor Filme, Direção e Prêmio Especial do Júri – e outro que conquistou dois troféus paralelos na mostra competitiva principal do Festival de Veneza, essa disputa já está mais que resolvida: a vitória será, incontestavelmente, do mexicano Roma. Aliás, é curioso também perceber a grande influência dos títulos estrangeiros no Oscar. Se até então eles marcavam presença apenas nessa categoria, agora estão por todos os lados: Roma é um dos recordistas de indicações neste ano, concorrendo em nada menos do que 10 categorias. Guerra Fria soma três indicações, e Nunca Deixe de Lembrar disputa duas. Dos cinco países indicados neste ano, tanto a Alemanha quanto o Japão já ganharam em três ocasiões, enquanto a Polônia conta com uma vitória (por Ida, 2014, dirigido pelo mesmo Pawel Pawlikowski de Guerra Fria). Já o Líbano concorre pela primeira vez – e por um filme dirigido por uma mulher, o que é mais impressionante – enquanto o México está em sua nona indicação, sem nunca ter ganhado. Quadro esse que deverá mudar neste ano. Confira nossas apostas!

Indicados

 

FAVORITO
Roma (México)
Após oito indicações, finalmente o México deverá alcançar a sua primeira vitória nesta categoria. E olha que não foram poucas as tentativas – a primeira indicação foi por Macario (1960) de Roberto Gavaldón, há mais de meio século! É curioso perceber, também, que essa vitória vem pelas mãos de Alfonso Cuarón, enquanto dois dos seus amigos já estiveram na mesma situação antes, porém sem um resultado tão positivo: Alejandro Gonzalez Iñarritu concorreu duas vezes (Amores Brutos, 2000, e Biutiful, 2010), enquanto Guillermo Del Toro disputou em uma ocasião (O Labirinto do Fauno, 2006). E se na corrida para Melhor Filme a concorrência é mais forte, por aqui Roma já é dado como certo. Tanto que ganhou o Globo de Ouro, o Critics Choice, o Satellite, e os prêmios dos críticos áfrico-americanos, gays, poloneses, negros, espanhóis, e das associações críticas da Georgia, Atlanta, Boston, Chicago, Dallas-Fort Worth, Denver, Indiana, Kansas, Las Vegas, Carolina do Norte, North Texas, Seattle, Southeastern, St. Louis, Utah, Vancouver, Oklahoma, Filadélfia, Phoenix, São Francisco e Washington, além da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e, claro, o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ou seja, é imbatível!

 

AZARÃO
Guerra Fria (Polônia)
O longa de Pawel Pawlikowski só pode ser considerado um azarão por ter recebido surpreendentes três indicações ao Oscar – além de Melhor Filme Estrangeiro, concorre ainda à Fotografia e à Direção! Esta, uma das categorias mais disputadas da premiação, colocou Pawlikowski entre os melhores realizadores do mundo, obrigando os votantes a olharem para esse título com maior atenção. Isso se deve porque, na definição dos indicados, votam apenas os membros daquele colegiado – ou seja, diretores elegem os diretores, atores escolhem os atores, diretores de fotografia selecionam os diretores de fotografia, e assim por diante. Porém, após os finalistas serem divulgados, todo mundo que faz parte da Academia vota em todas as categorias. Então, é bem possível que muita gente nem soubesse que filme era esse. Agora, com certeza já devem estar bem familiarizados. Tanto que Guerra Fria foi o grande vencedor do European Film Awards, além de eleito o melhor estrangeiro do ano pelo National Board of Review e pelos críticos de Londres e Nova Iorque. É pouco para mudar o atual cenário, mas o bastante para não passar desapercebido.

 

SEM CHANCES
Nunca Deixe de Lembrar (Alemanha)
Os três títulos restantes possuem, praticamente, as mesmas chances de vitória: ou seja, próximas de zero. O que não deixa de ser uma lástima. O japonês Assunto de Família ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Asian Pacific Film Awards, além de ter sido eleito o melhor estrangeiro do ano pelos críticos de Boston, Florida, Los Angeles, San Diego e de Central Ohio. O libanês Cafarnaum, também premiado em Cannes, foi indicado ao Bafta e ao Globo de Ouro. Já o alemão Nunca Deixe de Lembrar também concorreu ao Globo de Ouro, mas ficou de fora de todas as demais premiações prévias, além de não ter sido lembrado por nenhuma associação crítica regional nos EUA. Sem falar que se trata de uma produção com mais de 3 horas de duração – e com tanto filme para assistir, isso certamente deve diminuir suas chances, pois nem todo mundo terá fôlego para encará-lo até o fim. Para constar, concorre ainda a Melhor Fotografia, e seu diretor, Florian Henckel von Donnersmarck, é o mesmo de A Vida dos Outros, premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2006 (entre os dois filmes ele dirigiu o problemático O Turista, 2010, com Angelina Jolie e Johnny Depp, mas isso a gente faz de conta que não se lembra).

 

ESQUECIDO
Em Chamas (Coréia do Sul)
Seria o brasileiro O Grande Circo Místico, de Carlos Diegues? Com certeza, não. Afinal, o nosso representante não ficou nem entre os nove pré-selecionados da categoria. Ao contrário do sul-coreano Em Chamas, de Lee Chang-dong, que chegou bem perto – e sua exclusão deixou muita gente revoltada. Indicado ao Critics Choice Awards e premiado pelo Júri da Crítica no Festival de Cannes, foi eleito o melhor estrangeiro do ano pelos críticos de Toronto, do Novo México e de Los Angeles (aqui, empatado com Assunto de Família). Como a Coreia do Sul nunca foi indicada antes, somente constar entre os cinco finalistas já seria um verdadeiro feito histórico. Só que não foi dessa vez.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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