Logo no começo de Crô em Família, durante os créditos, surge o nome de Jefferson Schroeder como alguém ali apresentado, expediente comum para marcar debutes. E, embora não seja efetivamente um estreante no cinema, o próprio ator se considera iniciando na Sétima Arte, por conta da diferença entre suas antes pequenas participações e o agora grande destaque. Muitos conhecem Jefferson da internet, dos palcos, especialmente pelas múltiplas vozes que ele faz e, por conseguinte, dos diversos personagens que interpreta. Entre eles, se destacam a Kate, mulher que fala as maiores desgraças com ares sensuais; o bombeiro Bryan, senhor que sempre tem uma corda no bolso; e a Etela, extraterrestre descolada que sempre suas palavras em A. Em Crô em Família, o ator vive Geni, a gerente da escola de etiqueta de Crodoaldo Valério, sua amiga mais próxima, aquela que frequentemente tenta abrir os olhos do protagonista para o trambique em curso. Conversamos com Jefferson durante a pré-estreia do filme no Rio de Janeiro. Confira mais este Papo de Cinema exclusivo:

 

Este é o primeiro filme em que você tem destaque. Como está sendo todo esse processo?
Este é o meu terceiro longa-metragem. Antes, fiz o Minha Mãe é Uma Peça (2013) e o Vestido Para Casar (2013), mas, realmente, com participações bem pequenas. O Crô em Família é, então, a minha estreia no cinema, por ser um personagem grande, com muitas cenas. Depois dele, já fiz o A Divisão, do Vicente Amorim, que ainda está para estrear, e o Pérola, do Murilo Benício, que será lançado no ano que vem. Estou encantado pelo cinema. Venho do teatro, fiz participações na televisão, e no momento não estou fazendo tanto teatro por conta do cinema. Por mim, se virar um ator 100% de cinema fico feliz (risos).

Geni (Jefferson Schroeder) e Crô (Marcelo Serrado)

E como foi compor a Geni, a sua personagem?
Tenho isso de fazer diversas vozes. A galera da produção do filme viu um monólogo meu, no qual interpreto a Meire, mulher de 50 e poucos anos que tem a voz rouca. Em princípio, queriam que a Geni fosse construída em cima dessa voz. Só que ela é mais jovem, toda bonita, diferente. Usei um pouco do timbre da Meire, mas dei uma limpada, a tornei mais sensual. A Geni tenta alertar o Crô, que é um tanto ingênuo. Ela está mais ligada, é gerente da escola de etiquetas, fica, tipo, cuidando do protagonista.

 

E como foi fazer comédia cinematográfica sob a batuta de uma diretora tão experiente quanto a Cininha de Paula?
Realmente, essa relação com o diretor contribui muito no cinema. É vital se dar bem e não se sentir julgado. Ainda mais na comédia, em que qualquer clima transparece no trabalho. Nunca tinha colaborado com a Cininha. Já nos primeiros dias, a chamei para conversar, querendo saber o que tinha achado, como estava vendo o meu desempenho. E, a partir disso, começamos a ter uma ligação mais próxima. Tivemos a oportunidade de conversar mais seguidamente no set. Estabelecemos uma relação de confiança mútua e isso é muito bom.

 

E você tinha uma possibilidade de improvisar em cena?
A Cininha permite o improviso, claro, respeitando o roteiro, tendo o cuidado de, talvez, conversar um pouco antes, quando rola alguma ideia. Neste roteiro há muitos bordões de internet. Eu próprio criei um bordão, o “fiquei gif”, que inclusive está no trailer (risos).

Você acha que há espaço para controvérsia no Crô em Família?
Vivemos atualmente revendo muitos conceitos. A comédia tem esse filtro da ironia, da sátira, então tudo pode ser mal interpretado. Durante as filmagens, tivemos o maior cuidado para que tudo fosse respeitoso, a fim de que não existisse reprodução de preconceito. Às vezes questiono se vão me julgar por interpretar a Geni, que o filme não especifica como travesti, drag queen ou transexual. Fiz com todo respeito, pensando nela como mulher. Pelo que vi do filme, ele está bastante correto. Agora, a gente corre o risco de ser avaliado por alguma coisa. Se for, é importante repensar. É necessário que haja esse espaço de reflexão. Estamos em instantes de entender bastante coisa. Mas, tenha certeza, tivemos muito cuidado. No filme tem um pouco de tudo, dos clichês à realidade.

 

(Entrevista concedida ao vivo, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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