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Sinopse

Dona Hermínia é uma mulher de meia idade que está aposentada e não tem muitas ocupações, sendo que sua maior preocupação é achar o que fazer. Ela é uma mãe dedicada e está sempre preocupada com os filhos, só que eles cresceram, e já não precisam tanto dela, o que a deixa entediada. Sem um trabalho, um companheiro ou filhos pequenos para se ocupar, Dona Hermínia passa o dia todo desabafando sobre seus problemas com a tia idosa, a vizinha fofoqueira e a amiga confidente.

Crítica

Baseado na peça teatral de incrível sucesso, Minha Mãe é uma Peça chega agora aos cinemas refletindo o melhor e o pior da febre de stand up comedy que assola o humor nacional já há alguns anos. Isso porque o filme se sustenta – e conquista inevitavelmente o público – quando a personagem principal, a Dona Hermínia vivida por Paulo Gustavo, está em cena, eclipsando todos os demais ao seu redor. Por outro lado, falta ao longa uma mão forte que conseguisse dosar essas intervenções com outros elementos igualmente atrativos, além de um texto consistente que oferecesse ao público uma história de verdade – afinal, estamos no cinema – e não uma mera transposição dos esquetes teatrais. Do jeito que está, temos um show de um homem só – ainda assim hilário, mas igualmente carente de algo a mais.

Uma boa notícia é que todas as melhores piadas apresentadas no trailer – muito bem editado e eficiente em despertar a curiosidade do espectador – surgem no filme logo nos dez primeiro minutos da trama. Assim, abre-se espaço para surpresas, deixando o riso engatilhado para trás. O problema, no entanto, é que se o início se dá em alta, aos poucos o ritmo vai arrefecendo, até nos conduzir a um final melodramático de boutique, no melhor estilo “mãe é uma só”. Esse tom piegas, que Minha Mãe é uma Peça não tem vergonha de assumir, termina por comprometer a graça leve e descompromissada da metade inicial da história.

Paulo Gustavo é a grande razão de se assistir a Minha Mãe é uma Peça. Comediante de primeira, chamou atenção pela primeira vez de uma parcela maior da audiência ao aparecer ao lado de Lilia Cabral no sucesso Divã (2009), como o cabeleireiro René que fez do seu “repica, repica, repica” um jargão nacional. Depois de alguns programas bem sucedidos na televisão à cabo e de produções teatrais muito disputadas, ele volta agora ao cinema como protagonista, mostrando-se com costas largas o suficiente para carregar o filme inteiro sozinho. É uma pena o desperdício de atores tarimbados, como Herson Capri e Ingrid Guimarães, que são desperdiçados vergonhosamente, e a falta de orientação que se percebe em novos talentos como Mariana Xavier e Rodrigo Pandolfo (visto como um viciado, num registro completamente diferente, em Faroeste Caboclo, 2013).

O enredo de Minha Mãe é uma Peça é bastante simples, e serve basicamente para abrir espaço para o jeito escrachado e exagerado de Paulo Gustavo. Mãe controladora, Dona Hermínia entra em choque ao ouvir, sem querer, os filhos reclamando dela e dizendo preferir o pai, que a trocou por uma mulher muito mais nova. Decidida a reorganizar sua vida, sai de casa e vai passar uns tempos com uma tia (Suely Franco, muito desenvolta). Lá, entre memórias e lamentos, vai recordando situações típicas de qualquer família de classe média, como a luta contra a obesidade da filha, o choque ao se dar conta da homossexualidade do filho mais novo, a antipatia com a esposa do filho mais velho, as desavenças com a irmã que é vizinha de porta, a perda do sobrinho de ouro num acidente inesperado. Tudo, é claro, temperado com o humor típico do ator que segue uma linha “ame ou odeie”, pois investe no politicamente incorreto e deixa de lado cerimônias ou maiores cuidados.

Sem o trabalho elaborado visto em Vai que dá certo (2013), por exemplo, mas longe do desleixo apresentado em pastelões como As Aventuras de Agamenon (2012), Minha Mãe é uma Peça deve contentar os fãs de Paulo Gustavo, sem no entanto surpreender ninguém. É engraçado (em alguns momentos), sentimental (além do necessário) e direto em suas intenções, ainda que estas não sejam as mais desenvolvidas. É para qualquer tipo de espectador, e o fato da protagonista feminina ser interpretada por um homem acaba se tornando um mero detalhe, numa sacada que funciona com mais eficiência do que a vista em A Guerra dos Rocha (2008), aquele mico estrelado por um travestido Ary Fontoura. Curto (menos de 90 minutos), vai direto ao ponto e ainda reserva o melhor para o final, na hora dos créditos, quando a própria mãe do ator aparece num vídeo caseiro. Aí ficam bem claras as referências e inspirações do artista – afinal, com uma mãe dessas em casa, qualquer um faria o mesmo!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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