Nascida em Blumenau, SC, em 27 de novembro de 1951, Vera Fischer se tornou Miss Brasil aos 17 anos, em 1969. Poucos anos depois, estreava no cinema – e como protagonista – com os emblemáticos Anjo Loiro e A Super Fêmea, ambos de 1973. A partir de então, ninguém mais a segurou. Até hoje foram mais de vinte filmes, dezenas de novelas e outras tantas peças de teatro. Foi premiada no Festival de Brasília e pela Associação Paulista de Críticos de Arte, atuou ao lado de astros internacionais, como Ben Gazarra e Ben Kingsley, e estrelou obras de mestres como Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, entre tantos outros. Há alguns anos afastada das telas, está preparando agora seu novo filme – o drama Quase Alguém, previsto para 2020. Aproveitando esse momento, foi homenageada na 26a edição do Festival de Cinema de Vitória, por toda a sua carreira. Antes, no entanto, se encontrou com a imprensa, e o Papo de Cinema estava presente num bate-papo aberto e muito franco, no qual revelou seus trabalhos favoritos – no cinema, no teatro e na televisão – contou fofocas de bastidores – “a Xuxa nem olhou na minha cara” – deu detalhes sobre o início de sua carreira – “só fui entender o filme que havia feito muitos anos depois” – por quê ficou tanto tempo longe do cinema – “nunca fui de turma alguma” – e o que a motivou a retornar nesse novo projeto. Confira!
Vera, vamos começar falando de Amor, Estranho Amor (1982), um dos seus maiores sucessos no cinema. Esse filme foi motivo de um processo da Xuxa, que participou dele como atriz, e que resultou num embargo que o escondeu do público por quase duas décadas. Você, que chegou a ser premiada por esse trabalho, como acompanhou tudo isso?
Nunca fui amiga da Xuxa, né? Era amiga do Aníbal Massaini, produtor do filme. Foi ele que me ligou para avisar o que estava acontecendo. Só que quando houve esse incidente, o filme já tinha sido premiado, exibido nos cinemas, lançado em VHS e em DVD… ou seja, todo mundo que estava interessado, havia visto. E não era só eu, né? Outros atores muito importantes também estavam naquele filme, como Tarcísio Meira, Íris Bruzzi, Mauro Mendonça. Foi um desrespeito com todos esses profissionais. Além de ter ganho o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Brasília, recebi também o Troféu Air France, que era um dos mais disputados naquela época. Ou seja, é claro que fiquei chateada, pois quero que, quem ainda não o assistiu, conheça essa obra.
Você chegou a pensar em fazer como a Xuxa, só que ao contrário, e brigar na justiça pela liberação do filme?
Nunca pensei em entrar na justiça contra a Xuxa, pois não cabia a mim, era trabalho do produtor do filme. E parece que essa decisão já venceu, o filme está novamente liberado, e o Massaini quer relançá-lo nos cinemas. Tomara que consiga e que esse belo filme do Walter Hugo Khouri seja resgatadp. Foi esse diretor que deu início a um novo cinema brasileiro lá no começo dos anos 1960. Não se pode acabar com uma linha de pensamento tão importante como a do Khouri, ainda mais estando envolvida, e não só nesse trabalho, mas em outros também.
Desde Navalha na Carne (1997) você não tem uma tido uma presença efetiva no cinema. Por quê tanto tempo afastada?
Isso é uma incógnita também para mim. Não fui mais convidada, a verdade é essa. O cinema tomou outro rumo. Em todas as áreas, existem turmas. Só que sempre fui muito livre, nunca tive turmas das quais pudesse fazer parte. Até surgiram alguns convites, para ser sincera, mas eram coisas que não iam me acrescentar em nada. Por isso não aceitei. Assim como ocorreu também no teatro e na televisão, mas no cinema foram mais. E comecei no cinema, então talvez por isso seja mais criteriosa. Mas senti falta.
Navalha na Carne foi um filme cheio de expectativas, você era a protagonista, mas acabou não tendo a repercussão esperada. Passado mais de duas décadas, como você avalia esse resultado?
Durante as filmagens do Navalha na Carne, o Plínio Marcos, autor desse texto maravilhoso, adoeceu, e veio a morrer logo em seguida. Isso, de alguma forma, afetou todo o projeto. Nós ficamos abalados, e o filme acabou se modificando. Ou seja, poderia ter ficado mais bonito, mais honesto, mais inteiro. Mas a verdade é que acabou degringolando. Foi uma pena.
Duas décadas longe da tela grande é muito tempo, não concorda?
Poxa, mas não foi culpa minha. Com a chegada dos anos 2000, o cinema brasileiro se tornou uma coisa muito masculina. Quais foram os grandes sucessos desde então? Cidade de Deus (2002), Tropa de Elite (2007), agora o Marighella (2019)… São policiais, bandidos. Teve menos espaço para as mulheres, acho.
Mas agora você está envolvida com o projeto Quase Alguém, previsto para 2020. O que a levou a aceitar esse convite?
Quando vieram falar comigo, era para filmar um curta-metragem, um teaser, praticamente, de algo que poderá ficar maior. Não temos ainda um roteiro completo. Ou se tem, não me mostraram. Tá muito escondido, pelo jeito. Não vi nada, tá uma surpresa total para mim. Então tivemos apenas algumas diárias, e com essas imagens montaram esse grande trailer, e também um making of, que foi o meu filho Gabriel, que é formado em cinema, que filmou e editou. Ou seja, foi uma emoção muito grande para mim.
Qual é a trama de Quase Alguém?
É a história de uma mulher, já de uma certa idade – ou seja, da minha idade, que vou fazer 68 anos em breve – e que tem problemas com a filha. O filme todo é esse embate entre essas duas mulheres. Não posso contar mais nada. Temos previsão, sim, de que as filmagens possam ocorrer no primeiro semestre de 2020. Todos nós queremos muito que aconteça. Acho que vai ser uma retomada de um outro estilo de cinema, mais existencial, com acontecimentos que podem se passar no Brasil, nos Estados Unidos, na Suécia, na Guatemala… ou seja, em qualquer lugar. Isso me deixou muito feliz, pois dessa forma posso participar. Afinal, não posso fazer uma baiana, ou uma índia, por exemplo. Mas quando é uma história comum a qualquer pessoa, aí me encaixo. É um trabalho intenso que fiz, que buscou nas minhas entranhas. Foi muito bonito, e era algo que estava precisando. Me identifiquei muito. To muito feliz, e na expectativa que venham mais propostas assim.
Você evocou uma época muito bonita do cinema brasileiro, com Walter Hugo Khouri, Glauber Rocha… e desde então o que tem sido feito evoluiu muito, até chegarmos a hoje em dia, com títulos como Bacurau (2019) e A Vida Invisível (2019), de repercussão internacional. Paradoxalmente, a classe artística vem sendo atacada pelo governo brasileiro, como se fossem todos vagabundos. Como você analisa esse cenário atual?
Acho que o governo tá com raiva dos artistas. “Não queremos artistas, não queremos arte, não queremos nada”. Como se fôssemos o demônio. Como se a arte fosse perniciosa. Artista é perigoso, para essa gente, porque artista pensa. Não querem que a gente pense, que escreva. É o ódio contra o artista. Não é porque ele é da esquerda ou da direita. É geral. Querem acabar com tudo. Somos todos culpados. Somos apontados, na rua, como salafrários, ladrões. É isso que sinto. Não sei como vamos sair desse perrengue. Tem atores, principalmente no teatro, que tiram dinheiro do próprio bolso para fazer sua arte. A televisão é mais independente, mas com o cinema é complicado. A gente se torna um pedinte. Eu me sinto uma bandida só porque quero fazer um filme. Sinto esse ódio contra todos os artistas. Só sei que farei de qualquer jeito o meu filme, nem que tenha que passar pires de mão em mão. O importante é resistir. Resistência é a palavra de ordem. Pela primeira vez, estou de queixo caído. Não sei o que fazer, e estamos todos no mesmo barco.
Além de estar no cinema, teatro e televisão, você tem se revelado, ao longo da sua carreira, uma artista bastante inquieta. Tem feito, inclusive, aulas de canto recentemente.
Olha, nunca me denominei apenas atriz. Como você disse, sou uma artista. Atuo, escrevo livros, pinto quadros… faço de tudo que me dá vontade. Agora estou fazendo aulas de canto, sim. Anos atrás, quando estava nos palcos com a peça Gata em Teto de Zinco Quente, descobri que tinha um nódulo nas cordas vocais, tive que operar, e o resultado é que minha voz ficou mais grossa. Isso nunca mais mudou. Então canto porque tenho vontade, só que é algo no estilo da Marlene Dietrich, né?
Como vê a sua presença na mídia?
Veja bem, nunca pensei que tinha que ter uma conta no instagram, por exemplo. Achava que era coisa só para os jovens. Até que vieram me dizer que tinha que estar lá também. E pensava: “mas pra quê isso, minha gente?”. Mas ouvi, fui lá e fiz. Só que são só fotos, e isso me cansa um pouco. Então comecei a escrever também. Ou seja, é uma constante em mim, tudo que faço tento desdobrar em outras coisas. Mas faço fotografias também. De tudo um pouco. Uma amiga minha, a Silvia Bandeira, fez um espetáculo que era apenas ela, sozinha no palco, cantando, atuando, conversando com o público, fazendo de tudo. Por quê não posso fazer algo assim, também? Quem sabe um dia?
Cinquenta anos atrás, você ganhou o concurso de Miss Brasil. Qual foi a importância dessa vitória na sua vida e na sua carreira?
Pra ter uma ideia, para participar desse concurso, você tinha que ter no mínimo 18 anos. E eu tinha 17. Mas queria tanto aquilo, sair da minha cidade e conquistar o mundo, que consegui falsificar meus documentos e me inscrevi. A Aracy Balabanian, hoje uma grande amiga, estava no júri naquele ano, e me disse depois: “Vera, você não tinha o melhor rosto, nem o melhor corpo. Mas tinha a melhor postura. A gente olhava para você e sabia que ali estava uma vencedora”. E eu era assim mesmo. Além do mais, estávamos no ano de 1969. Gente, pensa em tudo que aconteceu naquele ano. E uma de todas essas coisas fui eu. Eu aconteci em 1969.
Você costuma ir ao cinema? Gosta de assistir aos filmes em cartaz?
O que é esse novo do Quentin Tarantino? Amei o maravilhoso Era Uma Vez em… Hollywood (2019)! E veja a coincidência: esse filme se passa em 1969! A incrível Sharon Tate, pronta para a glória, é assassinada daquela forma brutal, e o Polanski lá com ela, tudo aquilo estava só começando. E eu ali do lado, pois o concurso de Miss Universo foi em Miami. Imagina a loucura? Assisti a esse filme e viajei horrores, tanto na história quanto na minha própria jornada. Fiz parte de 1969. Isso não é pouca coisa. Com a minha vidinha, mas ainda assim estive lá. Tenho muito orgulho disso.
Você sofreu preconceito quando decidiu deixar de ser um ícone da beleza, a Miss Brasil, para se tornar uma artista?
Preconceito a gente sempre sofre. Veja bem, estávamos no início dos anos 1970. Auge da ditadura no Brasil. Logo no começo, fiz umas pornochanchadas que, vistas hoje, são uma gracinha, de tão ingênuas. Mas aquilo mexia com a cabeça das pessoas. E o povo era tão machista… gente, era uma povaréu vindo pra cima de mim! Tem que ter cabeça pra lidar com tudo aquilo. Ainda bem que sempre tive um senso de humor bastante ácido pra saber o que fazer nessas horas. Não poderia obrigar o pobre do meu marido a dar porrada cada vez que eu levava uma cantada. Eu mesma me livrava desses chatos. E também não poderia esperar até 2018 pra vir o movimento #MeToo me salvar, né? Mas foi terrível. Me sentia como uma instalação do Francis Bacon, com pedaços de carne pendurados no açougue. Muita gente me via assim, e nada mais. Lá no fundo, a gente guardava isso: “você é só um corpo”. Eu não, sou mais. Por isso tratei comigo mesma, li muito, e me preparei. E a maioria dessas pessoas já foram embora, nem estão mais por aqui. Sobraram nós, que somos as mais bonitas (risos). Boas cabeças e gente bonita.
Muita gente considera você uma diva. Você se vê assim?
Nossa, tenho tanto fã-clube! E cada um com um nome diferente: diva, deusa, mito, santa… (risos). São todos rótulos, né? Tudo precisa ser rotulado. Ao menos esses são bons, porque antigamente tinham alguns muito esquisitos. Melhor agora. Mas nunca quis ser isso ou aquilo. O que queria era sair da minha cidade e trabalhar. Teve um cara, uma vez, que disse que eu nunca seria atriz. Fui lá, fazer um teste para uma peça com ele, e me disse que era melhor voltar para casa porque nunca teria sorte nessa profissão. Anos depois me deparei com ele, que baixou os olhos e saiu de fininho. Tava até careca, o coitado. Ele, sim, nunca foi ator, nem diretor. Era, apenas, filho de uma grande atriz. Opa, talvez tenha falado demais (risos). Agora, imagina se acredito nesse povo? Acredito em mim, fui embora e continuei.
Voltando para as pornochanchadas, como você acabou se envolvendo com elas?
Nunca tive pudor. Se me diziam: “olha, vai ter que ficar nua”, mas a personagem era boa e o filme era bacana, ia lá e fazia. Não era problema para mim. Importante, também, era saber quanto iam pagar. O cachê estava de acordo? Então bora lá. Sou alemã, e os europeus não tem problema em tirar a roupa. O corpo não está associado ao sexo. Corpo é corpo, sexo é sexo. Cada coisa no seu lugar. Brasileiro é que tem esses problemas na cabeça. Sempre lidei muito bem com isso.
Você aparece nua também no Navalha na Carne. Como foi a sua relação com o Plínio Marcos?
Tem uma cena no filme, a da crucificação, que foi emblemática. Essa imagem, no entanto, não tem no texto do Plínio Marcos. Foi o Neville d’Almeida que inventou. Quando começamos o filme, o roteiro, que era brilhante do início ao fim, havia sido escrito pelo Plínio. Isso que me fez aceitar, o que me motivou. Só que quando começamos a filmar, o Plínio adoeceu e parou de se envolver. O Neville aproveitou para acrescentar muitas cenas, até bobas e impróprias, de sexo e nudez, que não haviam necessidade. Acho que essa aí, em que apareço na cruz, é a única que se salva. E foi tarde da noite, no meio da madrugada, quando já ia acabar aquela diária, que inventou: “quero essa Neusa Sueli crucificada!”. Achei que, depois, ficaria maravilhosa. E ficou mesmo muito linda. Mas é algo isolado. Do resto do filme, grande parte não gosto. Foi a única coisa da cabeça do Neville que funcionou. O Plínio era uma pessoa única. Se tivesse sido filmado o roteiro dele, cena por cena, teria sido outro filme, e o resultado, com certeza, muito melhor.
Outro filme importante na sua carreira foi o Super Fêmea (1973). Nele, você aparecia cercada por homens o tempo inteiro. E tão no começo da carreira. Como foi lidar com tudo isso?
Super Fêmea foi o segundo filme que fiz, se não me engano. E vou dizer: não sei se entendi muito bem o roteiro quando o li pela primeira vez. Entendi depois, quando o vi pronto. Era uma grande comédia, e até bastante inteligente. Tinha características humorísticas muito engraçadas. Era a história de um cientista que queria criar uma pílula da fertilidade. O Anibal Massaini, roteirista, produtor e diretor do filme, explorava a figura feminina. Eu era muito gostosa naquela época. Queria ser magra, sonhava em ser modelo, mas não era nada disso. Era curvilínea, como se dizia. Então era muita roupa transparente, muito biquíni. Tinha uma cena que o Sílvio de Abreu, que era ator, corria atrás de mim, com um terno xadrez e peruca. Era muito engraçado. Quem fazia esse cientista era o Perry Salles, que encontrava essa mulher perfeita – no caso, eu – e dava para ela essas pílulas da fertilidade. Além de várias cenas sensuais, com roupas muito loucas, cabelões… tudo muito moderno, vamos dizer. E, no final, essa mulher gera 100 filhos! Ela vira, de fato, uma super fêmea. Fechamos uma avenida, em São Paulo, me colocaram em cima de um caminhão imenso, só de camisola, e cem bebês de plástico, como se ela tivesse gerado todos ao mesmo tempo. Foi muito divertido. Os homens iam ao cinema para ver A Super Fêmea porque era uma mulher gostosa, mas na verdade era uma super progenitora!
Pesava muito para você ser vista apenas como ‘a gostosa’?
Olha, claro que pesava, ainda mais quando passava de táxi na frente do cinema, no meio da tarde, tipo duas, três horas, e via filas e mais filas só de homens esperando para entrar na sala! Na fachada, um cartazão enorme, de mim mesma, deitada, ocupando o prédio inteiro. Era muito louco tudo aquilo. Tudo para me ver. Tinha que aguentar. Uma vergonha atroz. Mas, com os anos, fui entendendo o que era o filme. Na hora, no entanto, era um sufoco! O que todos aqueles homens estavam fazendo lá? Iam só para bater punheta? (risos)
Quais foram os seus trabalhos definitivos da sua carreira?
A Ana de Assis, da minissérie Desejo (1990), certamente foi um destes papéis. Quando li o roteiro, pensei: “se não fizer isso, vou morrer”. E quase não consegui, pois duas semanas antes do início das filmagens, fui atropelada por um táxi. Me levaram para o Pitangui, que disse que levaria dois meses até ficar boa. Só que o Wolf Maia, nosso diretor, quando soube, avisou que se não estivesse pronta em um mês, iam me substituir. Eu disse: “em um mês estarei aí”. Não ia deixar colocarem outra atriz no meu lugar. Quando tiraram as bandagens, tava um bozo, com um nariz imenso, mas fui mesmo assim. Daí me filmavam de longe, usavam muita maquiagem, demos um jeito. Outro trabalho, também muito delicado, sob a direção do Carlos Manga, que gosto muito foi a minissérie Agosto (1993), do Rubem Fonseca. Foi deslumbrante. Em novelas, teve uma chamada Pátria Minha (1994-1995), um dos meus melhores trabalhos. Teve a Helena, do Manoel Carlos, a Jocasta, mas a minha preferida era a Lídia do Gilberto Braga.
E no teatro e no cinema?
No teatro, fiz a Lady Macbeth, que já diz tudo, né? Não sobra pra nenhuma outra. A Gata, do Tennessee Williams… enfim, fiz muita coisa boa. No cinema, acho que o Amor, Estranho Amor teve uma pegada bergmaniana. E o Intimidade (1975), que foi o primeiro que produzi, muito lindo. Pena que tá perdido, ninguém sabe onde está atualmente. A Dôra Doralina (1982), os do Nelson Rodrigues, como Bonitinha, Mas Ordinária (1981) e o Perdoa-me Por Me Traíres (1980). Ou seja, tem muita coisa boa.
Você comentou, antes, que “amizade com a Xuxa” você não teve. No entanto, anos depois voltou a fazer um filme com ela, o Xuxa e os Duendes 2: No Caminho das Fadas (2002). Como isso aconteceu?
Olha, não sou amiga dela, mas quando fizemos juntas o Amor, Estranho Amor, nos demos bem, sim. Mas foi aquela coisa do set de filmagem. Quando terminou, cada uma foi para o seu lado e nunca mais nos vimos. Muito tempo depois, quando havia recém feito a novela Laços de Família (2000), o diretor era o Papinha, o Rogério Gomes. Acontece que ele também iria dirigir esse filme com a Xuxa, e me ligou, pedindo para fazer uma participação. A minha reação foi: “sério, Papinha? Filme da Xuxa? Sei não…”. Confesso que me bateu uma preguiça. Estava no meu sítio, descansando, passava o dia no sol. Só que o local das filmagens era ali perto, e ele insistindo: “vem, Vera, são só dois dias, estamos aqui pertinho de você”. E eu, relutante: “mas não é pra fazer uma fada? Eu to preta do sol, toda bronzeada… como vai ser? Uma fada marrom?”. E ele: “Vera, tem um dinheirinho bacana, vem que a gente dá um jeito”. Bom, já que iam pagar, vamos lá, né?
Ok, você aceitou por convite do diretor. E como foi o reencontro com a Xuxa?
Com a Xuxa? Ela nem olhou na minha cara! (risos) Quando cheguei, tinha uma equipe de maquiadores e preparadores. Pensa só, toda marrom, vestida de branco, lente de contato brancas, com umas orelhas pontudas… levou cinco horas pra ficar daquele jeito. Quando me olhei, caí na risada, né? Era para ser uma elfa, mas parecia um monstro das trevas! Lembro que a maquiadora falou: “pediram você, então está aqui, é porque deve ser alguém importante” (risos), sem entender nada. Bom, quando fiquei pronta, fui para a minha marcação, e era uma cena com o Luciano Szafir. O jeito que a Xuxa tratava ele… olha, me desculpa, mas nunca tinha visto algo igual. Até olhei para o Papinha, querendo uma explicação, e ele: “deixa ela, Vera. É a produtora, pode fazer o que quiser”. Bom, fiquei na minha, quietinha. Falei as minhas duas ou três falas, peguei minha graninha e fui embora. Até hoje nunca vi esse filme.
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