Crítica


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Sinopse

Enquanto Maeve a segue, Dolores visita o México com Caleb. Já Bernard, William e Stubbs desocupam a instalação.

Crítica

O início de uma revolução implica, obrigatoriamente, também no fim de uma era. Algo que não mais existe, que não é mais válido, que perdeu seus sentidos e significados. Pois é exatamente assim que Westworld chega ao final da sua terceira temporada, colocando tudo abaixo e se preparando para um recomeço. Já renovada para uma quarta temporada – que, se seguir a lógica de uma nova leva de episódios a cada dois anos, deverá estrear somente em 2022 – a série já havia se visto na obrigação de repensar seu próprio propósito entre o segundo e o terceiro ano. Pois bem, dessa vez a mudança deverá ser ainda mais radical. Não se fala mais de parques recreativos para adultos e nem na luta entre inteligências artificiais e a humana: a questão, agora, é de vida ou morte. E somente os que sobreviverem é que poderão contar a história do que, de fato, se passou.

Dois personagens foram bastante negligenciados nesta temporada: Bernard Lowe (Jeffrey Wright) e William, o homem de preto (Ed Harris). Ambos tiveram, cada um a seu modo, momentos de destacado protagonismo nos anos anteriores, mas dessa vez, ainda que presentes, influenciaram pouco no desenvolvimento das situações e em como o quadro geral das coisas acabou se configurando. Pois bem, Crisis Theory, o oitavo e último episódio do terceiro ano, colocou os dois, se não no centro das ações, na direção exata do que acabará acontecendo. Eles deverão ser peças fundamentais da próxima temporada, e isso fica claro por aqui: um é a tecnologia, o outro é a humanidade. Porém, resta descobrir quem é quem, ou seja, qual deles irá desempenhar um papel, e qual terá que se contentar com a outra posição.

Dito isso tudo, é importante verificar que as duas maiores jogadoras desse ano, Dolores (Evan Rachel Wood) e Maeve (Thandie Newton) parece que, enfim, chegaram aos seus pontos sem retorno. Tudo que a primeira tinha a oferecer, já foi entregue. Seu sacrifício maior foi a escolha de Caleb (Aaron Paul) como líder da rebelião, aquele que deverá liderar os humanos rumo a um futuro melhor. Ou será que não? Afinal, as previsões apontam o contrário. Ela apostou todas as suas fichas em uma figura que não deverá ir além de um beco sem saída. Nesse momento, é outra decisão que precisa ser feita. E a responsável por ela é Maeve, que até então estava pensando apenas em si – e num possível futuro ao lado da filha – mas agora se deu conta de que, até poder descansar, ainda há muito a ser feito. E ela não é dessas que conseguem abandonar uma responsabilidade com facilidade.

Assim, chega-se à discussão que de fato é importante em Westworld: o livre-arbítrio realmente existe? Se nos dois anos iniciais Dolores e demais androides começaram a ter consciência de quem eram e de suas condições, indo contra ao que lhes era imposto e partindo em busca de algo a conquistar, sem ter que se contentar apenas com o que lhes era ofertado, dessa vez ficou evidente que este não era um problema exclusivo deles. Serac (Vincent Cassel) e seu irmão criaram o Rehoboam, um oráculo que tudo vê e, acima de tudo, calcula, estipulando probabilidades e tendências. Enfim, são os algoritmos, que hoje já fazem parte das nossas vidas de modo imperativo, finalmente tomando conta de tudo e todos. E se mesmo aqueles que se dizem livres e donos do próprio nariz estão apenas respondendo a condutas previamente planejadas, como evitar que os mesmos erros sigam acontecendo? É preciso, mesmo, eliminar as divergências ou, por um outro caminho, aprender com elas e incorporar tais aprendizados?

Jennifer Getzinger, que já passou por séries como Outlander (2017-2018) e Mad Men (2008-2015), comanda com propriedade e segurança esse oitavo e derradeiro episódio, que se apresenta como um pequeno longa-metragem (são 71 minutos de duração), mas suficiente para fechar as pontas soltas e ainda assim abrir outras que deverão esperar o tempo que for necessário para que possam ser desenvolvidas. Com isso, Jonathan Nolan e Lisa Joy, os criadores, conseguem oferecer um desfecho digno ao terceiro ano, preparando terreno para uma retomada ainda mais digna e, se tais elementos forem confirmados, instigante. Rei morto, rei posto. Se é fato que Dolores e Serac não são mais jogadores ativos nesse tabuleiro (será mesmo?), é certo também que Charlotte (Tessa Thompson) tem tudo para ser uma oponente à altura frente às intenções de Caleb, Maeve e demais. E se a chave para todo esse mistério está com Bernard, o que poderá fazer ele frente a um Homem de Preto renovado e condicionado a responder aos seus piores instintos? Westworld está longe de olhar apenas para o oeste, como se vê. Afinal, quando o mundo inteiro está ao seu alcance, difícil mesmo é se contentar com pouco.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.