Crítica
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Sinopse
A história verídica do escritor Alex Wheatle. Tendo passado a infância num lar institucional predominantemente branco, sem amor ou família, ele finalmente encontra não apenas um senso de comunidade pela primeira vez em Brixton, mas sua identidade e capacidade de alimentar a paixão por música. Quando jogado na prisão durante a Revolta de Brixton de 1981, ele confronta seu passado e vê um caminho para a cura.
Small Axe
Small Axe :: T01
Episódio | Data de exibição |
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Small Axe :: Educação | 13/12/2020 |
Small Axe :: Alex Wheatle | 6/12/2020 |
Small Axe :: Vermelho, Branco e Azul | 29/11/2020 |
Small Axe :: Lovers Rock | 22/11/2020 |
Small Axe :: Os Nove do Mangrove | 15/11/2020 |
Crítica
Apenas perto do encerramento de Alex Wheatle, quarta parte da antologia Small Axe, o recorte da vida do protagonista tem o seu porquê escancarado. O discurso do colega de cela enfatiza a necessidade de educar-se e conhecer suas raízes. Imediatamente, somos remetidos às burocráticas leituras que inauguram essa jornada. Nelas, a voz sem emoção se restringe a relatar que o menor de idade é filho ilegítimo de uma família desconhecida. Portanto, uma das grandes tragédias do personagem vivido na infância por Asad-Shareef Muhammad e na juventude por Sheyi Cole é a rasura brutal na própria história, cujo resultado é a privação de uma noção de pertencimento. Não à toa, Steve McQueen (diretor e roteirista ao lado de Alastair Siddons) observa várias e determinantes etapas de aprendizado para chegar a esse diagnóstico. Há o escrutínio sensível do apagamento, elemento base da opressão de povos subalternizados/humilhados por colonialismos ou afins que se beneficiam dos ataques à identidade. Depois de recorrentes abusos físicos e verbais num orfanato com poucos meninos negros, Alex vai a Brixton, logo recebendo ensinamentos para soar menos “caipira”. A relevância do sotaque, do jeito de caminhar e das gírias está resguardada nessa comprovação de afinidades.
Na cena em que é levado para cortar o cabelo, ainda meio tonto pelo acúmulo de informações, Alex é repreendido quando nega ser africano. O barbeiro lhe dá uma pequena lição sobre origem e rechaça a retórica fácil da não existência da pátria geograficamente estabelecida que reúna o orgulho negro. Novamente, Steve McQueen está falando ali sobre quebrar paradigmas encarregados tradicionalmente de tornar a experiência estática. É preciso abrir os horizontes para que a História – esta, com H maiúsculo – restitua às nações dominadas as suas grandezas saqueadas. Como nos demais episódios de Small Axe, em Alex Wheatle a música é um componente-chave. Mas, aqui ela não funciona somente como elo de reconhecimento. Tampouco é restrita à argamassa que interliga membros da comunidade multiétnica, os tantos sofredores cotidianos diante da arbitrariedade do Estado segregacionista. Por meio da intimidade com as canções, o protagonista consolida essa posição almejada, ajudado por sujeitos tão diariamente marginalizados quanto ele. As incursões frequentes pelas lojas de discos deixam claro que a pedagogia das ruas tem na poesia uma aliada importante para lhe transformar. Alguém diz: “todo africano (negro) gosta de reggae”. É um reforço da arte como condutor de cultura, heranças, noções e do senso comunitário. O swing ilustra, mas também ensina muito.
A construção da consciência política de Alex fica em segundo plano. O principal em Alex Wheatle é o caminho contínuo de aprendizado, no qual o rapaz conta com vários mestres. Primeiro, o desconhecido que lhe apadrinha na cidade grande, mostrando-lhe o caminho das pedras, alertando como um homem negro precisa se comportar diante da polícia, por exemplo. Segundo, a efervescência da comunidade afro-britânica que o leva a adquirir certa autonomia para separar o joio do trigo. Terceiro, o colega de cela em greve de fome, aquele que esclarece o que até ali foi apresentado nas frestas. Aliás, a integridade como indivíduo é devolvida à medida que Alex se distancia da despersonalização da infância. Quando criança, até as demonstrações de racismo dos internos brancos alimentam uma política de esvaziamento – chamar alguém de “macaco” é negar-lhe a humanidade e a subjetividade. A perversidade nuclear está no pobre humilhando o pobre, no oprimido (branco) valendo-se da estratégia de dominação para tentar se transformar no opressor. E a lógica da luta de classes, sequer sublinhada na meninice de Alex, ganha espaço generoso no mencionado discurso inflamado do rastafári. O homem fala da urgência da identificação dos inimigos a serem combatidos. Desse modo, o companheiro de cárcere serve como deflagrador das questões propostas nas entrelinhas dos vários flashbacks.
Alex Wheatle segue os episódios anteriores de Small Axe e enxerga a polícia como o principal executor da marginalização da população negra. Tão logo chegue a Brixton, o protagonista cumprimenta um fardado no meio da rua e leva um puxão de orelha do vizinho. Mesmo que a hostilidade de seu mundo infantil não tenha lhe garantido espaço à inocência, ele carrega a ingenuidade dos que ainda não foram apresentados às complexas estruturas da exclusão. Diferentemente dos que acreditam na polícia como instituição protetiva de qualquer cidadão, o amigo malandro tem a ciência de que os “porcos” absorvem os venenos injetados por um sistema de perpetuação do racismo. Fica implícito que ninguém nasce preconceituoso ou empoderado para revidar. Tudo é fruto de aprendizado. Há várias rimas visuais que aproximam o orfanato e a cadeia – o plano melancólico do sujeito reprimido com a cara no chão e as mãos atadas nas costas –, bem como os efeitos colaterais – o fedor exalado do homem em greve de fome e a catinga de chorume impregnada naquele que precisou se refugiar no lixo para não ser preso. A quarta parte dessa antologia segue uma estratégia que já estava anunciada por seus predecessores: tem valor em si e também serve de peça num panorama amplo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
Daniel Oliveira | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 7 |
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