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Sinopse

Em 1997, o famoso estilista Gianni Versace foi morto na escadaria de sua mansão pelo serial killer e garoto de programa Andrew Cunanan. Além de analisar o assassinato do designer, a temporada mergulha no trabalho da polícia e do FBI, sobretudo nos fracassos na busca pelo criminoso e no relato do sofrimento dos famíliares de suas vítimas.

Crítica

O criador Ryan Murphy assumiu uma atitude ousada no terceiro episódio da segunda temporada de American Crime Story, intitulado A Random Killing – ou, numa tradução livre, Um Assassinato ao Acaso. Pois, a partir do momento em que escolheu o nome The Assassination of Gianni Versace (O Assassinato de Gianni Versace), era de se esperar que seu foco fosse o polêmico crime que terminou com a morte do famoso estilista e seus desdobramentos. Porém, a impressão verificada nos primeiros capítulos – The Man who would be Vogue (E01) e Manhunt (E02) – de que as atenções estariam centradas mais no assassino do que na vítima, se confirmaram. Tanto que já é possível se questionar se um batismo mais apropriado não seria Os Crimes de Andrew Cunanan e se a atual escolha não foi motivada mais por uma jogada de marketing do que por uma aposta narrativa.

E por que, isso? Pelo simples fato de que, se nos dois episódios iniciais a trama era dividida entre o comportamento de Andrew (vivido com intensidade crescente por Darren Criss) e uma investigação antes e depois de seu ato junto à família Versace, dessa vez a narrativa se concentrou exclusivamente em Cunanan e seus dias anteriores ao encontro fatídico com Gianni em Miami. O nome “Versace”, para se ter ideia, não chega a ser pronunciado uma única vez durante todo o programa, que é, também, o mais curto até agora, com pouco mais de 40 minutos, enquanto que os anteriores ficaram próximos de uma hora de duração.

As reações, no entanto, foram distintas. No IMDb, A Randon Killing alcançou 9,1 de avaliação, muito acima de Vogue (8,7) e Manhunt (8,1). O contrário se verificou na plataforma TV ShowTime, em que o terceiro capítulo ficou com 7,1, abaixo dos 8,1 do E02 e dos 9,5 do E01. A temporada, como todo, até o momento, está com 85% de aprovação no Rotten Tomatoes (abaixo dos 96% alcançados por ACS: The People v. O.J. Simpson, 2016), enquanto que no Metacritic está com apenas 74% (bem abaixo dos 90% da temporada anterior). Resultados, como se percebe, no mínimo controversos.

Em A Randon Killing, acompanhamos as circunstâncias que levaram Andrew Cunanan aos dois assassinatos imediatamente anteriores ao de Gianni Versace – um importante empresário de Chicago, a quem prestava favores sexuais, e um motorista aleatório a quem assalta quando deseja fugir em um carro que não esteja sendo perseguido pela polícia. E se Criss parece cada vez mais mergulhado na perturbada mente do assassino, ao mesmo tempo deixa em maior evidência suas fragilidades enquanto intérprete, entregando uma atuação monocórdia. Quem, dessa vez, se destacou, foi a veterana Judith Light, como a esposa da primeira vítima, uma importante mulher de negócios que tenta a todo custo esconder as frustrações de um casamento que viu a paixão de outrora se transformar em um outro tipo de amor e a humilhação das condições que levaram à morte do marido. Indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro por suas atuações em séries como Ugly Betty (2006) e Transparent (2014), não será espanto se ela for mais uma vez reconhecida pela performance aqui apresentada.

O que se percebe com clareza já tendo assistido a três episódios de The Assassination of Gianni Versace é que as intenções de Murphy e de seus colaboradores é mais colocar em evidência o descaso policial na caçada à Andrew Cunanan, muito motivada pela homofobia e ao preconceito. Era um assassino de homens velhos e gays, e quem se importa com eles? A incompetência das autoridades está por todo o lado. Mas, pior ainda, é a evidência que, ao levar em conta a sexualidade de uma pessoa para relegá-la a uma subcondição, revela-se também o pensamento de toda uma nação. E o que mudou nestas duas décadas desde então?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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