Muita gente costuma reclamar que as temporadas de premiações são tão longas (duram de três a quatro meses), que quando, enfim, chega a hora da entrega do Oscar, tudo é por demais previsível, podendo-se antecipar os vencedores da maioria das categorias com bastante tranquilidade. Pois bem, para esses, eis aqui a disputa de Melhor Roteiro Original, uma das mais indecisas deste ano. Para se ter uma ideia, o “negação”, ou seja, aquele que apontamos como “sem nenhuma chance de vitória”, é um título indicado em seis categorias, entre elas na principal, de Melhor Filme – ou seja, não é um concorrente que possa ser desconsiderado com facilidade. Há um longa norueguês – algo raro no que se trata do Oscar – que é, facilmente, um dos melhores da seleção, e outros três que tem dividido as premiações prévias mais importantes, a ponto do escolhido pelo Sindicato dos Roteiristas (Writers Guild of America), em vez de consolidar um favorito, apenas embaralhou ainda mais as apostas. Frente a esse cenário, confira as nossas apostas.

INDICADOS

 

FAVORITO
Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson
Ao que tudo indica, esta categoria será aquela do “prêmio de consolação”, ou seja, provavelmente representará a única vitória do filme escolhido. E servirá também como alento visando a longa carreira dos favoritos e o apreço que ambos possuem junto aos membros da Academia. Tanto Paul Thomas Anderson quanto Kenneth Branagh possuem várias indicações prévias (o primeiro está na sua décima primeira, enquanto que o segundo chegou neste ano à oitava), sem nunca terem sido agraciados. Ou seja, na real, qualquer um dos dois pode acabar levando. Da nossa parte, apostamos em Licorice Pizza por ter ganhado o Bafta e o troféu dos críticos de Atlanta, Chicago, Columbus, Georgia, Kansas, Nova York, Carolina do Norte, Dakota do Norte, Oklahoma, Phoenix e Southeastern, além de ter sido indicado ao Globo de Ouro, Critics Choice e WGA. Ou seja, é, em quantidade de premiações, o concorrente com o maior número de vitórias. E vamos combinar: PTA merece essa estatueta dourada faz tempo, certo? Que venha, então, antes tarde do que nunca!

AZARÃO
Belfast, de Kenneth Branagh
Indicado em sete categorias – mais do que Licorice Pizza, que concorre em apenas três – Belfast foi um filme que, no início da temporada, despontava como favorito em muitos quesitos, mas que, ao longo das semanas, foi vendo sua luz diminuir de força. Não será surpresa, portanto, se sair da festa de mãos abanando. Porém, se houver alguma surpresa, deverá ser por aqui. Afinal, Kenneth Branagh é outro que há tempos vem merecendo uma estatueta: será, enfim, a sua vez? Premiado como Melhor Roteiro Original no Critics Choice e no Globo de Ouro, foi escolhido como o melhor do ano também pelos críticos do Havaí, Washington e Las Vegas. Pode parecer pouco, mas são conquistas de peso. Suficientes, ao menos, para fazer sombra ao escolhido pelo Sindicato dos Roteiristas: Não Olhe Para Cima, do mesmo Adam McKay que ganhou nessa exata categoria há alguns anos por A Grande Aposta (2016). Ou seja, a ele, ao menos, ninguém está devendo nada. E é por isso, apenas, que esses outros dois colegas parecem estar a um passo adiante nessa corrida.

NEGAÇÃO
King Richard: Criando Campeãs, de Zach Baylin
Will Smith é tão poderoso e popular em Hollywood que, mesmo esse projeto existindo apenas para lhe conceder o seu tão sonhado Oscar de Melhor Ator – uma vitória que irá acontecer independentemente de qualquer outra coisa – o longa que estrela conseguiu, inacreditavelmente, outras cinco indicações ao prêmio máximo do cinema mundial. E se aparecer entre os finalistas a Melhor Filme já soa um tanto descabido, a indicação a Melhor Roteiro Original é tão absurda quanto. Para começo de conversa, há muito pouco de “original” por aqui: a trama é inteiramente baseada em fatos, em personagens reais e em acontecimentos verídicos. O que houve, portanto, foi apenas uma ficcionalização a partir de elementos que já existiam. Mesmo assim, foi indicado em quase todas as principais premiações da temporada – Critics Choice, Bafta, WGA. Felizmente, sem ganhar em nenhuma delas. Mesmo destino que deverá se repetir por aqui.

ESQUECIDO
Apresentando os Ricardos, de Aaron Sorkin
Um dos roteiristas mais conceituados da Hollywood atual, Aaron Sorkin possui quatro indicações ao Oscar, tendo ganhado logo na primeira: roteiro adaptado, por A Rede Social (2010). No ano passado ele conseguiu que seu filme, Os 7 de Chicago (2020), somasse nada menos do que seis indicações, entre elas a Melhor Filme e Roteiro Original. Mesmo assim, dessa vez, por Apresentando os Ricardos, viu todo o seu elenco principal ser reconhecido – são três indicações, para Nicole Kidman (Atriz), Javier Bardem (Ator) e J.K. Simmons (Ator Coadjuvante) – mas ele próprio acabou ficando de fora. Não que tenha sido uma grande injustiça – o filme é bom, mas não excepcional – porém pode ser considerado o “esquecido” da vez não apenas pelos créditos do roteirista, mas também por ter figurado em todas as premiações prévias dessa temporada – Bafta, WGA, Critics Choice, Globo de Ouro – e, ainda que não tenha ganho em nenhuma delas, sempre foi visto como um competidor de respeito, e sua ausência foi bastante sentida.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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