4 jan

Mulheres dirigiram número recorde de filmes em Hollywood em 2020

Uma boa notícia, e algumas más notícias no que diz respeito à representatividade feminina na indústria de cinema norte-americana. Por um lado, o ano de 2020 registrou um recorde de grandes produções dirigidas por mulheres: 16 das 100 maiores bilheterias foram comandadas por cineastas mulheres, o que inclui Aves de Rapina (Cathy Yan) e Mulher-Maravilha 1984 (Patty Jenkins). O número de 16% representa um recorde, após a quantia de 12% em 2019, e de 4% em 2018. Os dados provêm do Center for the Study of Women in Television and Film, da Universidade de San Diego.

Por outro lado, esses números precisam ser interpretados com cautela. Primeiro, porque a quantia de 16% na direção continua irrisória, visto que 67% dos filmes não possui uma única mulher em cargos de liderança, segundo o estudo. Houve queda expressiva na presença de mulheres roteiristas (12%, contra 18% em 2019) e editoras (18%, contra 23% em 2019). A direção de fotografia, uma das áreas mais desiguais em distribuição de gênero, registra 3% de liderança feminina nas cem maiores produções.

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Margot Robbie e a diretora Cathy Yan no set de Aves de Rapina

 

Além disso, o ano atípico teve as salas de cinema fechadas durante mais de seis meses, o que impede o estudo de acompanhar a evolução da participação feminina fora do contexto de crise econômica e sanitária. O grupo de pesquisadoras estudou pela primeira vez a porcentagem de mulheres liderando filmes concebidos para plataformas de streaming. Reunindo todos os cargos cinematográficos, as mulheres desempenham 19% das funções.

Quando os números são analisados em diferentes categorias, a situação se torna mais grave. Os cargos de maior responsabilidade excluem profissionais mulheres de forma mais intensa: apenas 9% dos filmes e séries lançados em streaming tiveram cineastas mulheres. “O desequilíbrio é chocante”, ressalta a Dra. Martha Lauzen, que coordena este estudo há duas décadas.

Bruno Carmelo

Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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