Em 23 de janeiro, a 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes apresentou o primeiro longa-metragem em competição na Mostra Aurora. Açucena (2021), documentário baiano dirigido por Isaac Donato, gira em torno de uma mulher de 67 anos que, a cada aniversário, comemora sua festa de 7 anos. Isso implica em quartos cor de rosa, bonecas de todos os tamanhos, decoração de princesas da Disney.

Por que esta senhora teria o prazer dos brinquedos infantis? Não sabemos. O cineasta parte do conceito de jamais apresentar Açucena em imagens, nem fornecer indícios permitindo conhecê-la melhor. Não sabemos que aparência possui, de onde surgiu o prazer das bonecas, como os familiares se adaptaram aos rituais de aniversário. Em última instância, sequer sabemos se ela existe de fato.

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Açucena

 

Apropriando-se de algumas ferramentas da ficção, o documentário propõe um jogo ao espectador, porém sem levá-lo adiante. Embora o projeto corresponda bem à temática das Vertentes de Criação, abraçada pelos curadores este ano, ele resulta numa proposta tímida de conceber um espectador ativo, sem desenvolver o conceito de invisibilidade. Leia a nossa crítica.

Entre os demais títulos disponíveis online no site da Mostra de Tiradentes, assistimos ao drama Mirador (2021), de Bruno Costa. Selecionado no Festival de Havana, o filme traz a história de um boxeador de carreira modesta (Edilson Silva), tentando voltar aos ringues para garantir o sustento da filha pequena. Enquanto isso, acumula diversos subempregos.

 

Mirador

 

O projeto acena ao típico filme de esportes, ao melodrama do pai se sacrificando pelo sustento de uma criança, e à noção de um homem violado pelo sistema. No entanto, aos poucos, desfaz cada preconceito e expectativa. Resta um projeto bem dirigido e concebido, movido por uma atuação competente, porém um tanto frio e linear. É possível que, na tentativa de se afastar da sentimentalidade, o diretor tenha atingido uma estrutura contida até demais. Leia a nossa crítica.

A Mostra Aurora segue neste domingo, 24 de janeiro, com o filme experimental Oráculo (2021), dirigido por Melissa Dullius e Gustavo Jahn. A primeira sessão ocorre às 20h, e a partir deste horário, fica disponível ao público durante 48h.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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