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O cinema perdeu nesta terça-feira, 13, o cineasta Jean-Luc-Godard, um de seus realizadores mais inquietos, criativos e iconoclastas. De acordo com a família de Godard ao jornal francês Libération, ele recorreu a um suicídio assistido, prática legal na Suíça desde os anos 1940: “Ele não estava doente, apenas esgotado. Foi decisão dele e é importante que se saiba”. Para muitos, a morte do franco-suíço marca o fim de uma era, exatamente aquela dos jovens que revolucionaram o cinema entre os anos 1950/60 ao protagonizarem o movimento chamado de Nouvelle Vague, uma nova forma de pensar o cinema tendo em vista os questionamentos de uma juventude pó-Segunda Guerra Mundial inconformada com os valores das gerações anteriores. Nascido numa família abastada – seu pai era médico proprietário de uma clínica e sua mãe vinha de uma família de banqueiros –, ele voltou da Suíça na adolescência e lá conheceu os influentes amigos com quem se tornaria uma das vozes mais ferozes e sensíveis da crítica cinematográfica francesa. Ao lado de Jacques Rivette e Éric Rohmer, fundou em 1950 a Gazette du cinema, mais ou menos a época em que rompeu relações com a família burguesa (que cortou seu apoio financeiro), passando a ter um estilo de vida mais boêmio. Ainda nos anos 50, começou sua colaboração fundamental com a revista Cahiers du Cinèma, publicação que se tornou o berço de uma transformação teórico-prática a reboque do nascimento da cinefilia.

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Seu primeiro filme como realizador foi o curta-metragem Une femme coquete (1955). Depois de outras experiências no curta, e já reconhecido pela habilidade com as palavras e a veia polemista, ele lançou o que para muitos é um dos emblemas da vanguarda francesa Nouvelle Vague: Acossado (1960) – sobre o qual escrevemos um artigo especial, que o convidamos a conferir clicando aqui. No mesmo ano, se casou com a atriz Anna Karina, uma de suas musas, e ainda nos anos 1960 comandou os marcantes Uma Mulher É Uma Mulher (1961), Viver a Vida (1962), O Pequeno Soldado (1963), O Desprezo (1963), Banda à Parte (1964), Alphaville (1965), O Demônio das Onze Horas (1965) e A Chinesa (1967). No fim da década, mais precisamente após os movimentos estudantis de maio de 1968, Godard estava cada vez mais comprometido com um cinema político (na forma e no conteúdo), razão pela qual entra para o coletivo Dziga Vertov e passa a fazer filmes de linguagem radical. É mais ou menos nesse período que ele rompe relações com seu amigo de longa data, o também crítico e cineasta François Truffaut.

“O cinema é a verdade 24 quadros por segundo”
Jean-Luc-Godard

Jean-Luc-Godard seguiu os anos seguintes fiel à ideia de fazer um cinema sempre revolucionário, que não estivesse fundamentalmente comprometido com os códigos da seara comercial. Nesse período se destacam Vento do Leste (1970) – que contou com a participação do brasileiro Glauber Rocha –, Salve-se Quem Puder (A Vida) (1980), Carmen de Godard (1983), Eu vos Saúdo Maria (1985), Elogio ao Amor (2001), Nossa Música (2004), Filme Socialismo (2010), Adeus à Linguagem (2014) e Imagem e Palavra (2018), o último longa-metragem de uma carreira com mais de 100 créditos, inúmeros prêmios, mas que entra para a história do cinema como uma das mais inquietas e constantemente transformadora de todas.

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Anna Karina mirando Godard. Foto/divulgação

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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