Pela primeira vez a Mostra Sesc de Cinema, iniciativa que chega em 2019 à sua terceira edição, se apresentou como um festival antes de espraiar-se pelos 27 estados brasileiros dentro das unidades da instituição do Sistema S. Sem dúvida, foi um passo importante. Primeiro, no sentido de conferir visibilidade ao trabalho hercúleo que começa regional e vai ganhando corpo até a seleção nacional. Técnicos trabalham em conjunto, numa rede que se retroalimenta constantemente, para definir um recorte possível dentre as mais de 1000 obras inscritas. Talvez nenhum outro evento brasileiro de cinema tenha curadoria tão variada e múltipla, feita de muitas cabeças pensantes e profundamente conectadas com as idiossincrasias locais. Segundo, a fim de oferecer um alento a um país em estado de suspense pelo descaso público com o audiovisual. Nosso cinema é forte, diverso, potente, mas parece que os governantes, assim como cabe aos canalhas, apontam suas armas sempre àquilo que pode gerar reflexão no povo.
De 02 a 09 de novembro, a 3ª Mostra Sesc de Cinema ocupou com propriedade o centro histórico de Paraty. As ruelas de pedras irregulares, impróprias para os automóveis, mas ideais aos transeuntes logo acostumados com o charme da singularidade do solo, fervilharam de realizadores, imprensa, produtores, oficineiros, técnicos, membros da produção e público. O que imperou nesses dias foi a tônica do encontro, com trocas acontecendo incessantemente, seja nas mesas temáticas ou naquela paradinha estratégica para um lanche entre uma sessão e outra. As projeções no Sesc Santa Rita e no Cinema da Praça foram materializações dessa vocação do Sesc por apostar no Brasil que pensa e faz. Notoriamente a instituição pode ser vítima de cortes, isso de acordo com a política neoliberal de Paulo Guedes, o atual ministro da Economia que talvez nunca tenha pisado numa unidade do Sesc e, mesmo assim, imagina-se com propriedade suficiente para alterar políticas eficientes com uma desumana canetada. Nesse sentido, a realização da 3ª Mostra Sesc de Cinema foi a reafirmação de um compromisso com a comunidade.
O Papo de Cinema esteve presente no evento e faz, aqui, um agradecimento especial a Marco Aurélio Fialho e Fábio Belotte, incansáveis profissionais que estavam na linha de frente do evento, sempre dispostos a ouvir sugestões e descobrir de que maneira tornar aquela experiência, para eles nova, ainda mais proveitosa. Na 3ª Mostra Sesc de Cinema debateu-se distribuição (nosso calcanhar de Aquiles), cinema LGBTQI+ (assunto que alguns preferem ignorar) e as distopias no cinema brasileiro. Além disso, houve oficinas sobre curadoria, cineclubismo, produção com baixo orçamento, maquiagem, crítica de cinema feminista, etc. O cardápio, totalmente gratuito, foi farto e saboroso. Esperamos que, a despeito do que o governo federal vem prometendo – cortes substanciais no Sistema S –, 2020 tenha a felicidade de contar com a 4ª Mostra Sesc de Cinema e, com isso, confirme a importância dessa janela.
Ah, e antes que nos esqueçamos, no sábado, 09, houve a festa de encerramento da 3ª Mostra Sesc de Cinema. O júri, composto de Ivonete Pinto (RS), Wertem Nunes (GO), Frederico Machado (MA), Julia Katharine (SP) e Lorena Montenegro (PA), teve liberdade para criar categorias e, segundo seus integrantes, as escolhas foram consensuais. Abaixo a lista dos premiados:
Elenco (ênfase em Odilia Nunes)
Mateus, de Dea Ferraz
Arquivo
A Praga do Cinema Brasileiro, de William Alves e Zefel Coff
Sequência dramática
Parque Oeste, de Fabiana Assis
Encenação
Ilha, de Ary Rosa e Glenda Nicacio
Menção Honrosa em Animação
Almofada de Penas, de Joseph Specker
Personalidade da Mostra
Jurandir Amaral, diretor de Quilombo Mata Cavalo
Voto Popular
Orin: Música para os Orixás, de Henrique Duarte
(O repórter viajou a Paraty a convite do evento)
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