A noite de domingo apresentou dois projetos interessantíssimos no Cine-Tenda da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O primeiro deles foi Sertânia (2020), drama histórico dirigido pelo veterano Geraldo Sarno sobre a vida e morte do cangaceiro Antão. Logo em seguida, a nova geração tomou os palcos, com mulheres negras representadas no drama Um Dia com Jerusa (2020).

Sertânia constitui um ponto alto nas exibições da 23ª edição até o momento. O filme sobre o cangaço apresenta uma luz estourada, uma narrativa labiríntica (que vai da morte do personagem à vida adulta, e então à infância e à morte novamente) além de diversas cenas surpreendentes, a exemplo de uma visita ao mundo dos mortos, uma quebra da narrativa com a equipe se revelando em cena e o uso de imagens de arquivo sobre as grandes cidades em oposição ao sertão.

 

 

O resultado é repleto de ideias e provocações, tendo dividido opiniões nos bastidores do festival – enquanto algumas pessoas dispensaram a proposta enquanto mera brincadeira estética, outros, nos quais o Papo de Cinema se inclui, enxergaram uma ousadia impressionante, fruto de uma obra excepcional. Estamos apenas em janeiro, mas a produção nacional já se candidata a um dos melhores filmes do ano. Leia a nossa crítica.

Um Dia com Jerusa trouxe o primeiro longa-metragem de um grupo de jovens artistas negras, incluindo a diretora Viviane Ferreira. A trama narra o encontro entre Sílvia (Débora Marçal), estudante lésbica que sofre com o preconceito enquanto luta para passar num concurso, e Jerusa (Léa Garcia), senhora idosa cuja rotina se passa em casa, sem apoio dos familiares. Quando as duas compartilham uma tarde, aprendem com as experiências de vida uma da outra.

 

 

O resultado apresenta problemas de trilha sonora, montagem e roteiro. No entanto, cativou a plateia de Tiradentes pela simplicidade e afetividade imprimidas na história, além da presença sempre bem-vinda de Léa Garcia, atriz de 86 anos, muito aplaudida pelos espectadores. Resta torcer para que a equipe tenha a oportunidade de apresentar mais projetos em breve. Leia a nossa crítica.

Entre os curtas-metragens, a primeira sessão da Mostra Panorama trouxe filmes de níveis muito diferentes. Ao lado do brilhante Looping, de Maick Hannder, um estudo sobre a descoberta do primeiro amor, a provocação política de Copacabana Madureira, de Leonardo Martinelli, gerou fãs e detratores por sua linguagem típica dos vídeos do YouTube.

 

Looping

 

Ao menos, os dois filmes soam mais coesos em suas ambições do que a brincadeira pouco aprofundada de A Nave de Mané Socó, de Severino Dadá, e do suspense explicativo de Deserto Estrangeiro, de Davi Pretto, estudo histórico no qual os diálogos precisam compensar o que as imagens não conseguem transmitir por conta própria.

A noite de 27 de janeiro traz os longas-metragens inéditos Até o Fim (2020), da dupla Glenda Nicácio e Ary Rosa, e Sequizágua (2020), de Maurício Rezende.

 

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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