Crítica
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Sinopse
Steve Rogers se vê tendo que defender o amigo Bucky, depois que ele ajudou a Hydra a se infiltrar na S.H.I.E.L.D. Porém, do outro lado da caçada, está ninguém menos do que Tony Stark, ajudando o governo a implantar um novo projeto que pretende registrar, para fins de segurança, as identidades de todos os heróis, Vingadores ou não. Divididos pela ideologia, ambos reúnem times de partidários em uma disputa pela aprovação ou não da nova lei.
Crítica
O mundo parece estar, de fato, disposto a uma boa briga. Pois no mesmo ano em que os dois maiores heróis da DC Comics – Batman e Superman – se enfrentaram nas telas pela primeira vez, agora é chegada a vez de suas contrapartes da Marvel: Capitão América e Homem de Ferro. A diferença entre estes dois casos é que, se em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) um desconhece os interesses do outro – e assim que suas intenções são reveladas eles passam a atuar juntos – em Capitão América: Guerra Civil a briga tem outros motivos. Afinal, como bem sabemos, os dois são mais do que velhos conhecidos – são amigos que sempre lutaram juntos. O que os teria motivado a se colocarem em lados opostos da questão? Bom, é justamente isso que o filme dirigido por Joe e Anthony Russo tenta responder.
Décimo terceiro longa do Universo Marvel, iniciativa que teve começo com Homem de Ferro (2008), Capitão América: Guerra Civil até poderia ser batizado como Capitão América vs Homem de Ferro, como alguns chegaram a comentar em fóruns pela internet, mas nunca como Os Vingadores 3. Essa impressão – equivocada – seria resultado da grande quantidade de super-heróis disposta na tela, que vai desde os mais conhecidos e seus principais parceiros, como Viúva Negra, Falcão, Máquina de Guerra, Feiticeira Escarlate, Visão e Gavião Arqueiro, até chega do novato Homem-Formiga e, por fim, a introdução dos aguardados Pantera Negra e Homem-Aranha. Estão todos em cena, uns com mais espaço que outros, mas com bons momentos de destaque. Porém, não se enganem. Essa é muito mais uma continuação direta de Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) e menos uma aventura da turma toda reunida. Se os demais comparecem, é para atender chamados muito especiais, em passagens específicas da trama. Em todo o restante do tempo, o que importa é o que o Capitão irá fazer e como seu até então principal parceiro, Homem de Ferro, irá reagir.
Pra começo de conversa, é bom ter uma coisa clara e diminuir as expectativas em relação ao título original. Guerra Civil é o nome de uma saga publicada nas histórias em quadrinhos entre 2006 e 2007 que pregava a Lei do Registro de Super-Humanos. Ou seja, qualquer ser com poderes especiais precisava torná-los de conhecimento público, abrindo mão de sua identidade secreta, e passando a atuar somente sob a permissão e controle do governo. Isso, no entanto, não é o que acontece neste filme. O que temos é que, após os incidentes avassaladores vistos em Nova Iorque (Os Vingadores, 2012), Washington (Capitão América 2: O Soldado Invernal) e na fictícia Sokovia (Vingadores: Era de Ultron, 2015), chegou-se ao ponto em que se discute se a liberdade desses heróis pode ou não ser controlada e se eles próprios não seriam a causa para o surgimento de tantos vilões. A proposta, portanto, é que seja organizada uma força de paz, sob o controle da ONU, que definiria onde e quando agir. Tony Stark (a.k.a. Homem de Ferro) é o primeiro a defender essa ideia. Steve Rogers (o Capitão) desconfia da iniciativa, acreditando que eles poderia acabar sendo usados em manobras com vieses escusos, distantes dos seus ideias. E o que não passa de uma divergência de pontos de vista adquire proporções assustadoras quando o Soldado Invernal entra na equação.
Para quem não lembra, Bucky Barnes era o melhor amigo de infância de Rogers que, após uma terrível luta, caiu de um trem em movimento e foi dado como morto em Capitão América: O Primeiro Vingador (2011). O que aconteceu, no entanto, é que após ser resgatado por forças inimigas, foi vítima de uma lavagem cerebral que o colocou para atuar como um assassino impiedoso. Após enfrentá-lo, Steve consegue vislumbrar o antigo companheiro por trás daquela programação e se dispõe a fazer de tudo para que ele volte a ser quem era. Só que isso não será tão simples. Quando um ataque terrorista em Viena provoca a morte de dezenas de líderes mundiais, o principal suspeito é identificado como Barnes. Stark quer sua prisão imediata. Rogers, por sua vez, está disposto a provar a inocência dele. Será por isso, portanto, que os dois acabarão se enfrentando, e não por uma suposta motivação política.
Um dos mortos no ataque é o Rei T’Chaka, pai de T’Challa. Movido por um sentimento de vingança, nasce aí o Pantera Negra, que ganha corpo e determinação em Chadwick Boseman. Naturalmente contra o Capitão – pois deseja a morte do Soldado Invernal – ele irá se juntar ao Homem de Ferro de Robert Downey Jr (em sua competência habitual) e a outros nomes de peso, como o Visão (Paul Bettany, começando a delinear a humanidade do personagem), o Máquina de Guerra (Don Cheadle, sem muitas oportunidades) – melhor amigo do Homem de Ferro – e, surpreendentemente, a Viúva Negra (Scarlett Johansson, mais contida), que terá razões fortes para justificar sua posição. Ainda com eles é recebido com entusiasmo – mais por parte do público, aliás – o estreante Homem-Aranha (Tom Holland). Sua introdução é feita com cuidado e respeito (até à nova Tia May somos apresentados), retratando-o como um adolescente dono de poderes extraordinários, porém pronto para assumir grandes responsabilidades. Dono das passagens mais divertidas do enredo, tem uma atuação leve e envolvente, revelando desenvoltura com quase todos do elenco, em uma das melhores personificações já vistas do herói.
Do outro lado estão Capitão (Chris Evans, cada vez mais seguro de si) e o Soldado Invernal (Sebastian Stan, em participação discreta), além do Falcão (Anthony Mackie, como um bom contraponto à densidade do Soldado). Eles recebem o reforço da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen, competente em desenhar uma heroína ainda longe do domínio total de suas habilidades) e do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner, em uma participação quase especial), que retorna da aposentadoria. Por fim, convocam ainda o Homem-Formiga (Paul Rudd, desenvolto e eficiente, sem se deixar intimidar nesta sua primeira interação com os demais), que tem presença fundamental no embate – o que ele faz aqui é de tamanho impacto que por pouco não eclipsa tudo que foi visto no seu próprio filme (Homem-Formiga, 2015). A batalha entre os dois lados, na sequência do aeroporto, é quase como uma cena de orgia em um filme pornô: é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que é difícil decidir para onde olhar. Mas no final, tenha certeza de uma coisa: o prazer será igual para todos os envolvidos.
Capitão América: Guerra Civil é um grande filme, talvez não tão uniforme quanto a aventura anterior do Capitão, mas ainda assim à altura de tudo que tem sido construído pela Marvel na tela grande nestes últimos anos. Algumas motivações são um tanto fracas (como a conversa de Stark com a mãe cujo filho foi vítima do embate de Sokovia) ou simplesmente desperdiçadas (como o verdadeiro vilão da história, o enigmático Zemo de Daniel Brühl, que parece tão perdido quanto o tipo que tenta defender, porém sem muito sucesso). E se o embate entre o Capitão e o Homem de Ferro deixará cicatrizes mais profundas do que aquelas que chegaram a ser vislumbradas entre Batman e Superman, por outro lado aponta para um futuro incerto para esse universo. Algumas destas criaturas magníficas estão se despedindo, outras não devem ter mais uma presença constante (Thor e o Hulk, por exemplo, nem chegam a dar as caras). É o momento de renovação, no melhor estilo adapte-se ou morra. Literalmente.
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