Um Ano Inesquecível: Primavera
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Bruno Garotti, Jamile Marinho
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Um Ano Inesquecível: Primavera
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2023
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Prestes a concluir o Ensino Médio, Jasmine toma bomba na prova de matemática e coloca sua formatura em risco. Ao mesmo tempo, ela precisa tomar coragem e dizer aos pais que pretende ser uma artista, assim como a sua avó.
Crítica
A quarta e última parte do projeto Um Ano Inesquecível (Verão, Outono e Inverno vieram antes) é um filme daqueles caracterizados por reviravoltas pouco surpreendentes, problemas complexos ganhando resoluções fáceis (depois de jornadas edificantes) e pela romântica ideia do “basta querer” para ser feliz e realizar sonhos. A premissa é batida: uma adolescente prestes a se tornar adulta tem receio de dizer aos pais que prefere tentar a carreira artística a estudar para futuramente administrar a floricultura da família. Com base num roteiro assinado por Maíra Oliveira, Ana Pacheco e Luisa Parnes, os diretores Bruno Garotti e Jamile Marinho se contentam em requentar estratégias narrativas a fim de oferecer ao espectador um arroz com feijão simplório, sem acrescentar temperos próprios a esse tropo narrativo. A protagonista é Jasmine (Livia Silva), adolescente que periga repetir no seu último ano de Ensino Médio. Às voltas com essa dificuldade de encarar os pais e reivindicar autonomia para escolher o seu futuro, Jasmine recebe a ajuda de Davi (Ronald Sotto), bolsista craque em números, fórmulas e afins, para ver se gabarita a última prova e assim impede a reprovação. Se você pensou “a partir daí, eles se envolvem, criam um vínculo mutuamente positivo e vencem as significativas adversidades”, está absolutamente correto. Mas, não é a previsibilidade que define Um Ano Inesquecível: Primavera.
Nem todo filme previsível é ruim e, nessa toada, nem todo exemplar surpreendente tampouco é automaticamente bem-sucedido. Há tramas que se beneficiam mais e outras menos das reviravoltas, das mudanças improváveis de rumo. No suspense, por exemplo, a qualidade e a durabilidade das dúvidas são essenciais. Já nos dramas românticos adolescentes, as alterações de rota não são assim tão fundamentais. Feita essa diferença, é bom dizer novamente que em Um Ano Inesquecível: Primavera a previsibilidade final nem é tão condenável. O maior problema é o reaproveitamento passivo, quase automático, de todos os elementos desse filão durante a história. A dupla de realizadores se contenta demasiadamente em reproduzir lugares-comuns e convenções cristalizadas na tradição cinematográfica, simplesmente as realocado dentro de um contexto não menos genérico, sem com isso oferecer qualquer traço de personalidade. Jasmine mora na cidade história de Ouro Preto, em Minas Gerais, e essa localidade poderia servir como moldura para uma abordagem com certas doses de originalidade. No entanto, nem as ladeiras íngremes, as edificações centenárias ou mesmo a peculiar geografia do local são utilizadas como elementos dramáticos. Se rodado em qualquer cidade pequena, o filme seria estritamente o mesmo, visto que a ambientação é sobreposta pelo amor transformador (e pouco convincente).
Estranhamente, Um Ano Inesquecível: Primavera busca a reedição de certos aspectos culturais abundantes nas comédias adolescentes norte-americanas – como tinha feito outro exemplar do projeto Um Ano Inesquecível, o Inverno. Tanto que a resolução dos problemas acontece num baile de formatura, com direito à coadjuvante-muleta-carismática subindo ao palco para homenagear alguém interpretando a versão de uma música significativa. Aliás, a trilha sonora merece um comentário à parte. O longa-metragem segue a tendência pobre do atual cinema brasileiro pensado às plateias jovens: completar qualquer lacuna com covers de hits. Bruno Garotti e Jamile Marinho inserem trechos com artistas pouco conhecidos cantando sucessos facilmente identificáveis em quase todas as transições. A função da música nessa produção é, basicamente, preencher espaços que poderiam ser ocupados tranquilamente pelo silêncio. Pensando um pouco nos personagens, Jasmine e Davi são cópias-carbono com poucas variações de vários outros mocinhos jovens que aprendem lições importantes antes de amadurecer. Já o professor interpretado por Luis Lobianco é quase um bordão, pois funciona estritamente para exercer pressão e representar um tipo de docente confortável com sua aura de durão. Ele sequer serve, como nos filmes de John Hughes, para simbolizar uma ideia de educação rígida e punitiva.
Outro aspecto pouco desenvolvido, e que poderia conferir cores próprias a Um Ano Inesquecível: Primavera, é o embate de Jasmine com a sua mãe obstinada, vivida por Juliana Alves. Filmes com adolescentes ansiosos para romper os planos paternos/maternos de futuro apresentam motivos diversos para a rigidez/aspereza de pais e mães. Geralmente, é nesse aspecto (o motor da crise) que encontramos especificidades à abordagem da situação utilizada à exaustão em produções similares. Aqui, a mãe é terminantemente contrária à ideia da filha de enveredar pelo campo artístico por conta do trauma de crescer com a sua mãe, cuja busca semelhante por viver de arte a fez sofrer inúmeras privações financeiras. Mas, para que esse motor do conflito fosse suficientemente relevante, Bruno Garotti e Jamile Marinho precisariam ter dado espaço à personagem da mãe, a revelado para além da leitura de alguém que precisa ser convencido. A tirania paterna/materna rendeu obras-primas como Clamor do Sexo (1961) e também um filão extenso de produções menos cáusticas, mas que, ainda assim, encaravam esse choque entre a fervilhante adolescência e a impositiva autoridade paterna como um tema relevante. Aqui, toda e qualquer barreira servirá estritamente como as pedras do dito popular: para Jasmine construir o seu castelo de felicidade. O resultado está mais para um esquema maniqueísta de causas e efeitos rasos do que para um olhar empático à juventude hesitante e à maturidade petrificada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 4 |
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