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Sinopse
Santiago, Chile, 1978. Raúl Peralta é fascinado pelo personagem Tony Manero, interpretado por John Travolta no filme Os Embalos de Sábado à Noite. Decidido a vencer um concurso televisivo de imitadores, ele passa o dia treinando. Só que sua obsessão o leva também a revelar seu lado psicopata.
Crítica
Representante do Chile na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o estranho Tony Manero não foi feliz nesta missão. Um reflexo de que nem sempre a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood está errada. Afinal, este longa promove um retrato deprimente de um estrato social lúgubre e assombrador, enfocando aqueles monstros que se escondem sob disfarces irreconhecíveis à luz do sol. É o vizinho, a colega de trabalho, talvez o próprio amante que, quando se menos espera, revela uma faceta inimaginável e ilógica. A ilusão, aqui, é tentar colocar esse desvio como um reflexo de um contexto maior – no caso, a opressão ocasionada pela Ditadura Militar no governo. Mas, no final das contas, o que se tem é algo vazio e inconsistente.
Tony Manero, pra quem não recorda, é o nome do protagonista de Embalos de Sábado à Noite (1977), interpretado por John Travolta e imenso sucesso popular nos anos 70. Nesta produção chilena, no entanto, ele vira retrato da obsessão de Raúl Peralta (Alfredo Castro, premiado como Melhor Ator no Festival de Havana). Desempregado e já longe da juventude, leva a vida se escondendo na sala escura do cinema, assistindo inúmeras vezes ao musical, se preocupando apenas em encarnar com a maior perfeição possível o ídolo. Seu desejo é vencer um concurso de sósias em um programa de televisão. E, para isso, não medirá esforços – nem que tenha que eliminar aqueles que se meterem no seu caminho.
Esse enredo absurdo seria mais feliz se ganhasse contornos humorísticos e debochados, como fez John Waters em Mamãe é de Morte (1994). Mas em Tony Manero tudo é levado muito a sério. Não há graça, humor ou diversão. O que vemos é exatamente o oposto: tristeza, desesperança, ignorância. E Peralta, com sua única mania que lhe mantém vivo, acaba servindo de instrumento para um regime que provocava angústias e frustrações. Se ele próprio não consegue realizar seus sonhos, por que os demais deveriam ter esse direito? E, seguindo esse raciocínio distorcido, ele libera seu lado serial killer, assassinando pessoas a esmo, afundando cada vez mais no seu próprio inferno.
É perceptível neste trabalho intenções relevantes e dignas de atenção. Mas o conjunto apresentado é por demais perturbador e hermético. Sem fazer a menor força no sentido de aproximar a audiência da obra, o diretor Pablo Larraín entrega uma narrativa fria e distante, nada emocional e, consequentemente, com grandes dificuldades de envolver a plateia. Como a cinematografia produzida no Chile é bastante rara de ser exibida no Brasil, este lançamento acaba adquirindo algum mérito enquanto curiosidade. Mas, se for para se apegar ao período histórico abordado, muito mais interessante é conferir Machuca, de 2004, outra produção bastante elogiada. Tony Manero até pode ter conquistado prêmios internacionais (Melhor Filme nos festivais de Havana e de Istambul) e sido recebido com entusiasmo em seu país de origem, mas falha no sentido de se comunicar com um público mais amplo e diverso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Roberto Cunha | 7 |
Marcelo Müller | 8 |
Francisco Carbone | 10 |
MÉDIA | 7.3 |
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