Crítica
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Sinopse
Wellington, um jovem morador do Complexo do Alemão, criou um projeto de surf voltado para crianças carentes. Todo final de semana ele leva seus alunos até as praias do Recreio dos Bandeirantes, local que fica a 50 quilômetros de distância do Alemão. Lá ele realiza suas aulas e oferece uma nova oportunidade para meninos e meninas que são historicamente marginalizados pela sociedade.
Crítica
Surf no Alemão possui uma importância que chega a aliviar suas fragilidades puramente cinematográficas. Ao retratar o projeto social que ocupa esportivamente jovens do Complexo do Alemão, área carioca em que a violência é constante, o filme mostra uma das diversas facetas positivas da comunidade, se afastando bastante dos exemplares que perscrutam regiões periféricas a partir de seus índices de criminalidade. O exemplo aqui é o de Wellington, adulto à frente de um empreendimento que alia responsabilidade escolar/cidadã e prática de surfe, servindo várias vezes como figura paterna a crianças privadas de uma rotina doméstica mais estável. Aliás, é uma pena que os cineastas Eduardo “BR” Dorneles e Cleber Alves passem quase batidos pela constatação da ausência dos pais, seja em virtude das consequências do tráfico ou motivada por questões de outra natureza. Ainda assim, é uma realidade conferida.
Se valendo de uma linguagem simples, Surf no Alemão desenha gradativamente a relevância do programa à vida dos participantes, inclusive dos familiares que testemunham avanços e mudanças significativas. Wellington é tido como vital para o crescimento dos alunos, não somente por conta de sua atuação como líder, mas graças à humanidade e o respeito com que trata a molecada. O filme ensaia apoiar-se na complementariedade de blocos temáticos, cada um deles protagonizado por um menino diferente. Jonathan, o rapaz estudioso que decide trabalhar para ajudar a sustentar a casa, mas sem deixar de estudar; Mateus, que superou o luto pela morte da avó para se tornar um símbolo da atividade; e por aí vai. Todavia, os realizadores não conseguem estabelecer um encadeamento suficientemente sólido entre tais segmentos, chegando a incorrer em diversas repetições, reiterações desnecessárias ao todo.
O tom é essencialmente laudatório, não havendo quaisquer dissonâncias no discurso celebratório do trabalho basilar para o bem estar da comunidade. O roteiro é o ponto mais frágil de Surf no Alemão, o calcanhar de Aquiles da disposição que sucumbe diante de uma articulação pouco consistente. Eduardo “BR” Dorneles – que atuou em Cidade de Deus (2001) – e seu colega Cleber Alves retrocedem à abordagem estrutural do projeto, demonstrando o valor de parceiros essenciais, como os instrutores diligentes, quando já em voga o desdobramento social, a dimensão humana de algo conquistado à revelia dos problemas que assolam os envolvidos. Os depoimentos são registrados de maneira funcional, com ocasionais falas sobressaindo pela expressão de um sentimento genuíno de emoção, acessado através da lembrança de alguém que se foi ou dos entraves do passado e do presente.
Uma evidência da fragilidade de Surf no Alemão é a forma como ele termina, cortando abruptamente a viagem que proporcionara nova vivência aos meninos. Não são poucos os momentos em que há a impressão de um espichar forçoso de determinados temas anteriormente estudados, embora, em semelhante medida, transpareça uma vontade de falar de dentro para fora, ou seja, de não tipificar a favela como um lugar de dor, sofrimento e barbaridades, ainda que seja dado espaço ao contexto da violência local. Quem chega mais próximo de estabelecer-se como centro gravitacional da narrativa é mesmo Wellington, molde de comportamento aos que repousam sob suas asas protetoras, tratado pelo filme com reverência e admiração. Não à toa, o resultado decai sensivelmente quando os cineastas afastam dele o foco, estreitando-o nos demais agentes e peças de uma iniciativa louvável.
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