Crítica


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Sinopse

O soldado norte-americano Ben Marco é sequestrado durante a Guerra do Golfo. Alguns anos depois, já em sua casa, ele começa a relembrar o processo de lavagem cerebral sofrido naquela ocasião. Será que há resquícios disso hoje?

Crítica

Dois aspirantes ao governo da nação mais poderosa da Terra. Um deles aparenta ser sério e respeitado, mas sem muito vigor nem ousadia. O outro é inovador, jovem e aventureiro. Quem leva a melhor? Pois se na vida real sabe-se o que aconteceria num caso como esse, em parte se deve a filmes como Sob o Domínio do Mal, remake do original de 1962 estrelado por Frank Sinatra. Neste thriller político dirigido por Jonathan Demme, cineasta oscarizado por O Silêncio dos Inocentes (1991), o centro da ação está na disputa pela vice-presidência dos Estados Unidos e na suspeita de que o candidato identificado com a “novidade e transformação” seja, na verdade, produto de uma lavagem cerebral conduzida por uma mega corporação, que o transformou num mero fantoche para atender seus interesses. Assim, a verdade estaria no representante da “ordem e tradição” que, ao ser ludibriado, decide abrir espaço para demonstrar o risco que a nação correria ao colocar no seu comando alguém sem voz ativa, que estaria ali apenas para obedecer ordens.

Desde seu início Sob o Domínio do Mal se assume como uma parábola sobre um fato real. No entanto, é uma obra que se posiciona contra o polêmico Fahrenheit 11 de Setembro (2004), por exemplo, ao transformar em ficção uma versão oposta daquele discurso. É uma ideia válida, mas ao mesmo tempo perigosa e perturbadora. Se de um lado vemos que a situação continuísta é corrupta e hipócrita, o que esse filme mostra é que talvez a oposição revolucionária também seja perigosa, ao agir de forma bitolada e mentalmente pequena. Em quem confiar? Isso talvez nem Deus saiba.

Se as questões levantadas por Sob o Domínio do Mal são curiosas e pertinentes, o mesmo, infelizmente, não pode ser dito do filme. Ao menos não enquanto obra artística independente. Seus argumentos são válidos, a premissa é assustadora e as consequências amedrontam. Mas o início, a forma como tudo se dá na base, é por demais inverossímil para ser crível ao cidadão comum não familiarizado com tais técnicas – ou seja, 99% dos espectadores. Seu argumento, por fim, tende a soar por demais fantasioso, falhando justamente naquele ponto em que deveria ser mais preciso: em sua verossimilhança. Caso contrário, como conquistar identificação com o público sem uma mínima conexão?

A trama tem início quando um ex-soldado da Guerra do Golfo (Denzel Washington, ainda um grande ator, apesar de estar se repetindo com uma frequência constrangedora) começa a lembrar de um episódio específico da Operação Tempestade do Deserto, em que ele e sua tropa teriam sidos submetidos a testes de manipulação da mente. Quando começa a ter consciência do que fizeram consigo, parte para alertar outros antigos colegas que teriam o mesmo trauma – entre eles, um dos políticos mais eminentes do país (Liev Schreiber, aqui na melhor oportunidade de sua carreira). Para tanto, terá que enfrentar a dura guarda da mãe do amigo, uma senadora da República (a sempre excelente Meryl Streep, responsável pelos melhores momentos do filme).

Sob o Domínio do Mal tem vários méritos. É conduzido com competência por Demme, que se recupera de fracassos anteriores (Bem Amada, 1998, e O Segredo de Charlie, 2002), e conta com atuações superlativas e um ritmo crescente que envolve com eficiência a atenção da audiência. O problema, no entanto, está no roteiro, que beira o absurdo em uma paranoia distante da realidade cotidiana. Tal caminho termina por invalidar grande parte do que vem depois. Não que isso, é claro, faça deste um filme ruim. Apenas não é bom o suficiente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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