Segunda-Feira ao Sol

14 ANOS 113 minutos
Direção:
Título original: Los Lunes al Sol
Gênero: Comédia, Drama
Ano:
País de origem: Espanha / França / Itália

Crítica

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Sinopse

Quando os estaleiros começam a ser fechados numa cidade litorânea da Espanha, há uma crise social. Entre os desempregados está Santa, um homem rebelde que se recusa a assumir o fracasso. Ele e os amigos tentam encontrar saídas para o desespero da falta de horizontes.

Crítica

Segunda-Feira ao Sol foi um filme recebido com grande entusiasmo na época do seu lançamento, empolgação, no entanto, que não parece ter resistido ao tempo. Tudo começou no seu país de origem, a Espanha, onde foi indicado – e venceu – nas principais categorias do Goya – o Oscar local – ofuscando, inclusive, o superior Fale com Ela (2002), de Pedro Almodóvar. Além disso, foi selecionado como representante oficial espanhol para disputar uma vaga no Oscar como Melhor Filme Estrangeiro. Resultado: não conseguiu figurar entre os cinco escolhidos, enquanto que Fale com Ela foi indicado nas categorias de Direção e Roteiro Original, levando a estatueta nessa última. Um resultado mais do que merecido. Em toda a sua carreira, no entanto, o drama escrito e dirigido por Fernando León de Aranoa ganhou quase 40 prêmios em festivais por todo o mundo, inclusive no Brasil, onde se consagrou como o grande campeão da mostra competitiva latina do Festival de Gramado.

No entanto, é de se questionar se este filme merecia, de fato, tanto alarde. A resposta, como não poderia deixar de ser, não é tão fácil. Segunda-Feira ao Sol é uma obra competente, sincera e emotiva, porém não consegue ir muito além disso, resguardando seu valor a uma experiência única e pontual. O desempenho dos atores é uniforme, e mesmo o incensado Javier Bardem, ao optar por compor um personagem sisudo e de poucos amigos, não parece estar nos seus melhores registros. Já a direção de Aranoa é convencional, discreta, restringindo seus méritos mais ao inteligente roteiro, que consegue ser honesto e bem-humorado sem escorregar em clichês ou na autopiedade.

Segunda-Feira ao Sol fala, como indica seu título, sobre um grupo de pessoas que pode passar uma segunda-feira descansando sob o sol – e a referência não é a pessoas em colônias de férias. O retrato aqui é dos desempregados, homens sem perspectivas e sem ilusões, que lutam para acordar de manhã e enfrentar todas as horas livres que têm pela frente. Os tipos são bastante representativos: desde aquele que não se rende, aceitando condições de trabalho aquém das anteriores, até o boa-vida que espera que a boa sorte lhe caia do céu. Particulares situações do cotidiano, como o relacionamento com a esposa que defende o sustento do lar, ou o abandonado pela família que encontra no fundo do copo de bebida seu último consolo, são outros momentos que ganham evidência durante a projeção.

Sem finais felizes óbvios ou resoluções inesperadas, Segunda-Feira ao Sol ainda consegue indicar caminhos futuros melhores aos seus retratados, confiando na amizade que os une e em suas singularidades como os únicos resquícios de suas forças, às quais se agarram como última esperança. A conclusão oferece ao espectador uma mensagem interessante, apontando para uma realidade muito mais próxima de nós do que talvez possamos imaginar – ou gostaríamos de acreditar. Reproduzindo-se diariamente ao redor do mundo inteiro, o cenário aqui oferecido não é dos mais diversificados e, por isso mesmo, de fácil identificação. É um quadro amargo, mas igualmente verdadeiro. Não deve ser esquecido, ainda que não apresente nada de inovador. Assim como o filme Segunda-Feira ao Sol.

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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