Perfeitos Desconhecidos
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Wissam Smayra
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Perfect Strangers
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2022
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Líbano / Egito / Emirados Árabes
Crítica
Leitores
Sinopse
Um grupo de amigos reunidos num jantar de confraternização resolve fazer um jogo: todos os presentes deixarão seus celulares desbloqueados à mesa, expondo assim todas as mensagens, ligações e notificações que chegarem.
Crítica
Um dos versículos mais famosos da bíblia cristã é João 8:32, que diz: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Aliás, é um trecho repetidamente citado pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com o intuito de passar uma imagem de homem religioso e comprometido com a verdade. Ou seja, tomando como exemplo a desfaçatez do político brasileiro, podemos afirmar que nem todos os que supostamente atacam a mentira como algo abominável são exatamente inimigos dela. Aliás, um dos clichês mais utilizados naqueles momentos do tipo “se defina em poucas palavras” é o bom, velho e vazio “sou alguém que odeia mentiras”. Já que mentir é visto automaticamente como um ato ruim, ninguém quer receber o rótulo de mentiroso. Mas, contudo, entretanto, todavia, porém... sabemos que a realidade é uma coisa e o mundo das aparências é outra completamente diferente. Filmes como O Mentiroso (1997) mostram, neste caso em chave cômica, como seria se levássemos à risca essa disposição por apenas falar a verdade, nada mais do que a verdade. E a produção libanesa Perfeitos Desconhecidos vai se desenvolver em cima da observação de que todos temos os nossos segredos, de que nem sempre é aconselhável esclarecer tudo e, mais, de que boa parte dos relacionamentos é sustentado por pequenas e/ou grandes inverdades. Afinal de contas, dizer tudo o que se pensa, compartilhar os mínimos acontecimentos, enfim, ser absolutamente transparente pode ser um caminho para a tragédia.
Perfeitos Desconhecidos é um daqueles filmes que tem diversas versões mundo afora, sendo um modelo replicado sem tantas variações, a não ser a troca de elenco. Antes da empreitada libanesa chegar ao Brasil via streaming já tinham sido produzidos longas-metragens a partir dessa premissa em: Itália, Grécia, Espanha, Turquia, França, Índia, Coréia do Sul, Hungria, México, China, Rússia, Polônia, Alemanha, Armênia, Vietnã, Japão, Romênia, Holanda, Israel e República Tcheca. Uma curiosidade: o original, o Perfeitos Desconhecidos (2016) italiano, entrou para o Guinness Book, o famoso livro dos recordes, como o filme que mais teve remakes até hoje. Em outubro de 2021, a Sony Pictures anunciou que fechou um contrato para fazer inclusive uma versão brasileira desse verdadeiro fenômeno. Portanto, o quesito “originalidade” não é exatamente o norteador da leitura dessa variante libanesa cuja premissa segue à risca a de seus antecessores: durante um jantar de confraternização, um grupo de amigos decide compartilhar toda e qualquer mensagem, notificação ou ligação que chegar aos seus telefones celulares disponíveis sobre a mesa. Assim mesmo, sem nenhum tipo de barreira ou mistério. Se você está pensando “é evidente que esse tipo de coisa pode gerar uma série de conflitos”, está coberto de razão. Quem em sã consciência deixaria a intimidade tão à mostra, especialmente os donos dos segredos cabeludos que não gostariam de verem revelados, sequer, aos seus melhores amigos?
O cineasta Wissam Smayra poderia trabalhar melhor esse curioso dilema entre passar o atestado de boa fé (ao aceitar o jogo insólito) e temer a verdade, mas essa obviedade acaba sendo resguardada como uma carta na manga para o encerramento – seus desdobramentos aqui não serão mencionados para não estragar a surpresa. Fato é que temos um grupo de médio-orientais burgueses conversando alegremente ao redor de uma mesa farta de comida e bebida. Há um mundo de aparências que será gradativamente fraturado, à medida que os telefones celulares começam a apitar. Primeiro, alarmes falsos que engatilham a tensão dos “devedores”; depois, pequenas mentiras descobertas que principiam uma situação de mal estar entre os presentes íntimos; depois, grandes descobertas capazes de desestabilizar casamentos, amizades de longa data, em suma, de colocar em xeque a confiança que os presentes sentem mutuamente. Essa progressão do efeito das mentiras é o dado esquemático do roteiro que, no mais das vezes, permite que o ótimo elenco vá revelando seus personagens num crescendo. Perfeitos Desconhecidos mostra como a intromissão de agentes externos (amantes, filhos, ex-namorados, entre outros) desestabiliza o ambiente calcado nas aparências. Por mais que as pessoas se conheçam há anos, evidentemente elas escondem certas coisas umas das outras, como é claro que os cônjuges nunca têm acesso completo à privacidade dos companheiros. Rapidamente o circo pega fogo.
Perfeitos Desconhecidos cumpre bem a função de ser uma comédia agridoce debruçada não sobre as hipocrisias escondidas, mas na citada como um sinônimo de virtude. Por mais que todos saibam que ninguém compartilha integralmente a intimidade, insistimos em dizer “sou transparente, aqui não tem espaço para mentiras”. Portanto, a hipocrisia está naquilo que manifestamos, não exatamente no que deixamos de assumir por direito à privacidade. No jogo de animosidades que vai se intensificando, Wissam Smayra poderia muito bem ficar mais atento a essa entrelinha importante ou ao diferenciar seu filme dos outros da “saga” e injetar mais traços culturais próprios do Líbano e dos países das fronteiras imediatas. No entanto, mesmo que se contente com fazer algo dentro de determinados padrões estabelecidos, ele apresenta um filme que raramente deixa a peteca cair, mantendo nossa atenção e interesse constantes. Tudo bem que a ênfase é no jogo, nas mudanças de rumo, no suspense gerado quando cada notificação passa a ser vista como um arauto de dramas pessoais. Apenas perto do fim a dimensão humana (porquê se esconde certas coisas, o que motiva determinados movimentos) ganha o protagonismo, o que acrescenta pontos na experiência. A decupagem evita uma dinâmica monótona, mesmo que tudo se passe majoritariamente num único cenário. E outro ponto forte é o ótimo desempenho do elenco que tem como nome mais conhecido o da atriz/cineasta Nadine Labaki.
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Esses doutrinados do mundo das “artes” e do “jornalismo” (coloquei entre aspas pq na verdade são militantes enrustidos), arrumam um jeito de colocar i Presidente em tudo, só para difama-lo. Cansativo isso!