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Sinopse

Durante de uma tempestade violenta na superfície do planeta Marte, um astronauta é deixado para trás por sua equipe, que pensa que ele não sobreviveu ao evento. Porém, Mark está vivo, e com pouquíssimos recursos para se manter assim. Usando seus conhecimentos e a criatividade, vai ter de tentar aguentar o maior tempo possível enquanto espera que seu time e a NASA consigam realizar um resgate quase impossível.

Crítica

Ninguém aqui pode ser acusado de inexperiente no gênero. Ridley Scott construiu sua carreira a partir de ficções científicas como Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner: O Caçador de Androides (1982). Tanto Matt Damon quanto Jessica Chastain estiveram recentemente no futurista Interestelar (2014), enquanto que Kate Mara (House of Cards, 2013), Jeff Daniels (The Newsroom, 2012), Donald Glover (Community, 2009) e Sean Bean (Game of Thrones, 2011) emulam com eficiência os mesmos perfis dos personagens que os consagraram nas citadas séries de televisão. Deveria ser previsível, portanto, o resultado apresentado por Perdido em Marte nas telas. Mas, pelo contrário, a satisfação em nos vermos constantemente surpreendidos durante o desenrolar da trama segue crescendo até este se revelar como uma das melhores surpresas da atual temporada.

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A trama é absurdamente simples. Num futuro muito próximo, uma expedição ao planeta vermelho é interrompida, já em solo marciano, por uma tempestade de proporções épicas. Um dos tripulantes é atingido enquanto tentava voltar à espaçonave, e seus colegas acreditam, pela falta de sinais de retorno, que o mesmo morreu com o ataque. Após a turbulência, no entanto, vem a bonança – como diz o ditado – e assim que as coisas se acalmam ele acorda, apenas para se ver completamente sozinho. Seus colegas estão rumo à Terra, em uma viagem que levará anos para ser completada. Resta, então, tentar contato com a NASA. A notícia de sua sobrevivência é recebida com entusiasmo, porém acompanhada de preocupação. Afinal, qual o custo de enviar uma nova missão para buscá-lo? Quanto tempo e esforço essa demanda custará? E conseguirá ele se manter vivo o tempo suficiente até que tal resgate seja possível?

Baseado no romance de Andy Weir (já lançado no Brasil) e com roteiro de Drew Goddard (de Guerra Mundial Z, 2013, e diretor de O Segredo da Cabana, 2012), Perdido em Marte é um filme que vai se desenvolvendo em etapas, dividido em três ambientes específicos. No centro temos Matt Damon como Mark Watney, o astronauta abandonado em Marte que precisa se virar sozinho para sobreviver. O talento do ator duas vezes indicado ao Oscar (e vencedor de uma estatueta pelo roteiro de Gênio Indomável, 1997) é suficiente para manter o espectador atento ao desenrolar de sua situação. Se no início parece tudo fácil demais – se precisa plantar batatas, vem a calhar o fato dele ser botânico de formação – o que soa como uma coincidência um pouco forçada – afinal, a impressão é que somente este homem conseguiria se dar bem em condições tão adversas – aos poucos as coisas começam a complicar, confirmando a visão apurada de Ridley Scott, um dos melhores contadores de histórias da Hollywood atual. Ele sabe como construir o suspense, revelando com cuidado cada detalhe da trama, que vai adquirindo novas perspectivas durante o seu desenvolvimento.

Mas temos outras condições que precisam ser consideradas. Um dos personagens mais interessantes é Teddy Sanders, o diretor da NASA interpretado por Jeff Daniels. De postura séria e bastante objetiva, nunca sabemos ao certo quais são suas reais intenções por trás de cada ato. Ele é o responsável por coordenar um time de profissionais que inclui ainda o engenheiro espacial Vincent Kapoor (Chiwetel Ejiofor), a diretora de comunicações Annie Montrose (Kristen Wiig) e o oficial Mitch Henderson (Sean Bean). São eles que devem lidar com as expectativas do público e com os aspectos técnicos dessa jornada de salvamento. Afinal, o quanto vale uma vida? E, por fim, temos os outros companheiros, que seguem no espaço e são interpretados por Jessica Chastain (a líder do grupo), Michael Peña, Kate Mara, Sebastian Stan e Aksel Hennie. A partir do momento em que ficam sabendo o que fizeram, precisam escolher entre retornar – colocando em risco suas próprias existências – ou seguir em frente, sendo obrigados a lidar com o peso de cada uma destas decisões.

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Um homem apenas, capaz de movimentar um planeta inteiro, seja o inóspito e distante Marte ou a superpopulosa e maltratada Terra. As dificuldades quando o universo se coloca contra a humanidade, e quão grande podem ser os resultados quando a união, acima de qualquer outro movimento, se impõe para fazer diferença. Perdido em Marte se apresenta apenas como a história de salvamento de um astronauta abandonado no mais afastado dos cenários, mas aos poucos vai se revelando muito mais do que isso, incluindo momentos de pura tensão – qualquer semelhança com o oscarizado Gravidade (2013) não parece ser mera coincidência – e outros de extrema emoção. Um filme que cresce durante a projeção e, principalmente, após o seu término, marcando com força a mensagem que carrega e o exemplo que ressalta com simplicidade e muita competência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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