Crítica
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Sinopse
Anne está casada com o produtor de cinema Michael. Ele a ama muito, mas não tem tempo para dedicar à esposa. Por isso, no trajeto de Cannes até Paris, Anne é acompanhada pelo sócio de seu marido. A viagem deveria demorar sete horas, mas ao longo de várias paradas, eles passam a se conhecer melhor enquanto apreciam as paisagens francesas.
Crítica
Em determinado momento de Paris Pode Esperar, Jacques (Arnaud Viard) pergunta à Anne (Diane Lane): “o que lhe faz dançar no meio da rua?”. Ele não quer saber sobre os passos de dança que ela conhece, e, sim, quais são os sonhos, ambições e anseios que essa mulher em sua frente, bela e atraente em sua maturidade, mãe de uma filha que já saiu de casa e vivendo um casamento que vai levando ‘na medida do possível’ (“se meu marido é fiel? Você deve saber mais do que eu, afinal é sócio dele, e eu sou só a esposa”, ela comenta à certa altura) ainda conserva em si. É uma questão pertinente, afinal, estamos aqui focados em uma fase da vida em que muitos já a dão por encerrada (ela), enquanto outros poucos enxergam um ponto de recomeço (ele). A discussão, portanto, promete ser no mínimo curiosa. Porém, o que se percebe na condução da diretora de primeira viagem Eleanor Coppola é um interesse maior em apenas tocar a superfície de temas como esse, sem nunca aprofundá-los à contento.
Uma retificação: Eleanor não é tão novata assim. Sua estreia como realizadora se deu com o documentário O Apocalipse de um Cineasta (1991), no qual registrou o inferno vivido pelo marido – o grande Francis Ford Coppola – durante as filmagens do emblemático Apocalypse Now (1979) e que lhe rendeu um Emmy. Desde então, ela pouco exerceu essa veia criativa, restringindo-se a documentar o trabalho de seus familiares mais conhecidos, como o próprio esposo (Francis Ford Coppola directs John Grisham’s The Rainmaker, 2007) e também a filha, a cineasta Sofia Coppola (The Making of Marie Antoinette, 2007). Paris Pode Esperar é um passo inédito, no entanto, se levarmos em consideração que esta é sua primeira obra de ficção. E, aos 80 anos, poderia se esperar dela uma visão mais crítica ou reflexiva sobre os relacionamentos amorosos. No entanto, o que fica claro neste filme é apenas uma grande vontade de aproveitar alguns pequenos prazeres, como comer, beber e viajar.
Assim como, imagina-se, deve ter sido boa parte da vida da cineasta, Anne é a esposa correta de um poderoso produtor de Hollywood. Em Cannes para o Festival de Cinema, ela o acompanha como uma presença constante, porém silenciosa, enquanto ele lida com parceiros de negócios, contratos, celebridades e fãs. Uma vez na França, talvez ela tenha imaginado poder desfrutar de um ou outro momento de maior intimidade e carinho com o marido. Ele, por sua vez, mal consegue ficar longe do telefone, sempre indo de um compromisso a outro. Quando estão prestes a embarcar em um jato privado para Budapeste, ela, devido a uma incômoda dor no ouvido, é desaconselhada pelo piloto a ir junto. É quando Jacques, sócio do executivo, entra em cena. Ele está indo para Paris naquele mesmo dia, e se oferece para dar carona à esposa do amigo – afinal, daqui a dois dias este também irá para lá, onde poderão se reencontrar.
Uma vez Michael (Alec Baldwin, em rápida participação) fora de cena, o filme concentra-se quase que exclusivamente na relação que começa a se desenvolver entre Anne – que aos poucos vai revelando suas insatisfações e frustrações – e Jacques – um solteirão que conhece tudo e todos, parece nunca se preocupar e por ela logo demonstra estar encantado. Sem pressa de chegarem à capital – principalmente por parte dele – os dois passam a desfrutar do interior da França em uma parada e outra. Bons restaurantes, hotéis acolhedores e preciosidades históricas estarão por todos os lados, fazendo desta uma jornada de descoberta tanto externa, por tudo que visitam e conhecem, como interna, pelo que passam a identificar em si mesmos.
Caso tivesse ao seu lado um ator mais experiente, a química entre os protagonistas funcionaria melhor. Arnaud Viard (Grandes Amigos, 2012) é, entretanto, um ator limitado, e nos momentos mais dramáticos revela suas fragilidades enquanto intérprete. Sendo assim, a responsabilidade de levar essa história adiante recai quase que exclusivamente nos ombros de Diane Lane, no seu melhor papel desde Sob o Sol da Toscana (2003), filme que guarda certas semelhanças em sua estrutura com este, porém com mais pontos altos do que o atual. Ela é o charme, a graça e a força que faz com que Paris Pode Esperar até certo ponto funcione. Afinal, Eleanor Coppola parece tão preocupada quanto Jacques com os queijos, vinhos e chocolates, além dos cenários paradisíacos, deixando de lado o envolvimento entre os personagens. E no desfecho, quando se espera pelo último sopro de originalidade, a diretora recai, mais uma vez, no convencional. Fazendo deste, então, não um passeio desagradável, porém dificilmente inesquecível.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 5 |
Assisti “Paris Pode Esperar” na versão dublada. Gostei da crítica de Robledo Milani, que sintetizou de forma brilhante as qualidades e defeitos do filme. Acrescento dois pontos que acho importante destacar. O primeiro é quando o carro de Jacques (Arnaud Viard) quebra no meio da estrada devido ao rompimento da correia do alternador. Pois bem, em vez de se preocupar em tentar consertar o carro, parado em lugar deserto sem viva alma por perto, Jacques prepara um picnick na beira do rio, situação totalmente irreal. E pior, também irreal é o fato de quem conserta o carro é Anne (Diane Lane), usando para isso uma meia da perna. Outro ponto é que a dublagem do filme é péssima, principalmente na fala do dublador de Jacques. Mesmo voltando a fita várias vezes, é impossível compreender certas frases do personagem.