Crítica

O diretor Jim Jarmusch gosta do caminho. Isso não quer dizer que os pontos de partida e chegada não sejam importantes. Em Os Limites do Controle fica claro que o cinema no qual acredita Jarmusch é aquele que convida o espectador a passear por lugares insólitos e se deixar levar pela dúvida, sem preocupar-se com respostas herméticas. O solitário protagonista, interpretado por Isaach de Bankolé, é o que se pode chamar de profissional. Ao dar início a um trabalho ilícito, que o fará viajar por várias partes da Espanha, ele quase não esboça reação. Nem triste, nem alegre. Nem malvado, nem bobo. Um mistério que usa terno.

Já que o principal personagem parece não reagir diante do diferente, Os Limites do Controle apresenta uma gama de coadjuvantes em eterna inquietude. Cada um deles surge no caminho do protagonista para garantir que a jornada do próprio seja completada. Em caixinhas de fósforos, eles entregam um novo código que será o guia para a próxima etapa a ser cumprida. Um músico, uma moça nua, uma excêntrica apaixonada por cinema, uma oriental, um cowboy do asfalto. Mais que números e letras, eles discorrem sobre assuntos que vão de moléculas a sexo. Dão o recado, mas nosso solitário profissional não parece interessado em pensar sobre eles.

Os tons terrosos, passando pelo vermelho escuro e o sépia, são constantes na fotografia e na direção de arte de Os Limites do Controle. O que parece referência a um dos grandes cineastas espanhóis, Pedro Almodóvar, está mais para enraizar no espectador à dureza que é a caminhada neste mundo. A câmera de Jarmusch passeia pela arquitetura, muitas vezes em redemoinho, mostrando semelhante interesse pelo antigo e o moderno. O solitário circula com a mesma segurança pelo museu de paredes envidraçadas e pela casa abandonada numa cidadezinha da fronteira. O conforto e o clima podem não ser iguais, mas ele segue a rotina de pouco sono, tai chi chuan ao acordar e de memória em dia.

Bankolé está presente em todas as cenas de Os Limites do Controle e o público apenas tira os olhos dele ao surgirem atuações breves, mas intensas, de Tilda Swinton, incrível de peruca branca e chapéu de vaqueira, e do saudoso John Hurt, como o dono de um violão dado a conselhos sobre a vida. Também há Paz de La Huerta, mas ela só entra em cena para mostrar o corpo e nada mais. Diante dos mistérios visuais propostos por Jarmusch, é o que menos importa.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
avatar

Últimos artigos deBianca Zasso (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *